6.30.2004

Hoje há futebol

Olhando para a constituição, perante a saída de Durão, duas hipóteses se colocam:
A) Indigitação de um novo primeiro-ministro indicado pelo PSD (partido mais votado nas eleições que precederam a presente legislatura) e apoiado pela maioria parlamentar constituída pela coligação; ou
B) Dissolução da Assembleia e convocação de eleições legislativas (poder que o Presidente pode exercer a qualquer momento, incluindo, como é natural, este).
Qualquer destas duas soluções tem cabimento constitucional, pelo que qualquer uma delas é legítima do ponto de vista formal.
Logo, ao Presidente da República, que é quem tem que optar, cabe uma decisão discricionária no sentido em que, entre uma e outra solução, não está legalmente vinculado. Dentro do que a constituição prevê, tanto pode se uma como pode ser a outra. É, portanto, uma decisão política.
Sendo uma decisão política ela terá que ser tomada tendo em conta vários factores, todos eles reconduzíveis a um critério essencial: o interesse do país.
Qual é o interesse do país? Perguntará a si próprio, e a quem mais quiser ouvir, Jorge Sampaio.
É com base na resposta a esta questão que será tomada a sua decisão.
Na minha modesta opinião, e pensando apenas em termos abstractos, o interesse do país seria melhor servido com a nomeação de um novo governo, sem dissolução da assembleia.
Para além dos já mais que batidos argumentos da estabilidade e do normal funcionamento das instituições numa democracia amadurecida, esta seria a forma de respeitar o voto daqueles que há dois anos se dignaram comparecer nas urnas para o depositar na expectativa de que servisse para eleger um parlamento de onde sairia um governo para quatro anos.
Seria, pois, uma decisão legitima, não só do ponto de vista formal (e aí estamos todos de acordo) como, a meu ver, também do ponto de vista substancial – o povo votou, votou para quatro anos, a maioria em quem votou permanece intacta, e pretende continuar a governar.
Acontece que as soluções teóricas quase nunca encaixam com perfeição na realidade. Pelo que convém olhar para a realidade.
Num cenário de não convocação de eleições, temos como única solução aparente Pedro Santana Lopes.

(Abro aqui um parêntesis para deixar bem claro que nada de pessoal me move contra Pedro Santana Lopes – até porque não o conheço pessoalmente – e as objecções que relativamente a ele levanto baseiam-se tão-somente naquilo que fez, ou não fez, nos cargos políticos por onde foi passando e no Sporting. Também já o disse e repito que, com as dúvidas fundadas sobre a competência de Santana Lopes para dirigir o que quer que seja, mistura-se um sentimento de simpatia relativamente a certas facetas do personagem, como sejam a sua coragem muito acima da média da população politica portuguesa, a sua capacidade de resistência aos constantes ataques de que é alvo – de entre os quais há os justos e merecidos, mas também há os cobardes e mesquinhos –, e a sua permanente disposição para se dedicar, bem ou mal, à politica, coisa que, infelizmente, também vai escasseando em Portugal.)

Voltando ao que interessa. A hipótese Santana Lopes apresenta diversos problemas que tornam aquela que teoricamente seria a melhor solução para esta crise, na prática, bastante complicada de seguir por Jorge Sampaio. Desde logo, porque um governo liderado por Santana Lopes terá, em minha opinião, uma legitimidade substancial muito reduzida, ao contrário do que aconteceria com uma solução que passasse, por exemplo, por Manuela Ferreira Leite. Nas eleições de há dois anos, muitos dos eleitores que votaram no PSD de Durão Barroso, votaram num PSD que havia, pouco tempo antes, derrotado em congresso a solução Santana Lopes e, como tal, votaram longe, muito longe, de imaginar que este lhe viesse a suceder antes de nova ida a votos. Pode até dizer-se que muitos dos que votaram no PSD de Durão Barroso votaram contra o PSD de Santana Lopes, tal como muitos dos que se dispuseram a colaborar com a campanha e com o governo de Durão Barroso fizeram-no, precisamente, por não ser a campanha e o governo de Santana Lopes. Daí – e não por qualquer questão pessoal – a diferença que existe entre uma solução encarnada por Santana Lopes e uma outra, encarnada por alguém que representasse o espírito que, no próprio PSD e no país, presidiu à ascensão de Durão Barroso, ascensão essa que foi feita, em grande medida, contra Santana Lopes. Daí a legitimidade de várias pessoas que votaram PSD nas últimas legislativas em sentirem-se enganadas, aldrabadas e traídas. Daí eu considerar que, havendo em qualquer caso uma relativa menor legitimidade num governo formado sem a antecedência de eleições – já que, quer se queira, quer não, as pessoas votam muito a pensar no candidato que vai ocupar o cargo de primeiro-ministro –, menos legitimidade há quando esse governo é encabeçado por alguém contra quem o candidato a primeiro-ministro em quem se votou, antes e por diversas ocasiões, havia combatido.
Um governo de Santana Lopes será sempre um governo que, carregado de legalidade ou de legitimidade formal, terá uma fraca legitimidade eleitoral ou substancial E esta é uma das grandes dificuldades com que Jorge Sampaio se está a debater.
A outra grande dificuldade de Jorge Sampaio - caso conclua que, teoricamente, é melhor para o país não convocar eleições antecipadas -, é a de saber se continua a ser melhor para o país não convocar tais eleições, sendo o governo que se segue um governo liderado por Pedro Santana Lopes. Isto porque o Presidente tem a obrigação de ponderar subjectivamente (embora baseando-se no maior número de dados objectivos que seja capaz de recolher) sobre o potencial dos governos que lhe são apresentados. É para isso que é eleito e é, também, por isso que será avaliado. Mesmo sabendo daquilo que Santana é capaz, para responder a esta questão de forma séria, terão que conhecer-se os nomes dos membros de tal governo, ou, pelo menos, os dos ministros que ocuparão os principais ministérios. Ora, se há qualidade que tem que se reconhecer a Santana Lopes, é a de ser leal e grato aos seus amigos e apoiantes, pelo que, sabendo-se quem eles são, é de esperar o pior das suas escolhas. No entanto, Santana, que de burro não tem nada, sabe perfeitamente que a única forma de responder às fundadas desconfianças que a este nível sobre ele recaem, é apresentando nomes credíveis e acima de qualquer dúvida, que, como se sabe, não são propriamente os nomes das pessoas que habitualmente o seguem.
Concluindo, se Santana Lopes reunir um governo de onde constem nomes como Rui Gomes da Silva, Pedro Pinto, Henriques Chaves, malta das bases, das distritais e das jotas, o Presidente, guiado pelo interesse nacional, deve convocar eleições antecipadas. Se, pelo contrário, Santana Lopes conseguir reunir gente competente e credível, talvez o Presidente aceite nomeá-lo primeiro-ministro, concedendo-lhe o, então, merecido beneficio da dúvida.
Por várias vezes expressei a minha descrença quanto à capacidade de Santana reunir um governo de qualidade, ou mantê-lo por algum tempo, porém, na vida, as surpresas podem surgir quando menos se espera. Ficarei, assim, a aguardar as cenas dos próximos capítulos, na esperança de que Jorge Sampaio consiga decidir bem, optando por aquilo que melhor serve o país.

6.27.2004

a importância de ser Labreca

Na sexta-feira, depois de ter rebentado a bomba da ida de Durão para a comissão europeia, a TVI abriu o telejornal com os treinos da selecção. Ontem, com o país à beira de uma crise política, o telejornal da SIC, antes sequer de nos informar sobre o estado do país, dedicou vários minutos à vida de “Labreca” - ex guarda-redes amador dos Unidos do Montijo ao qual o guarda-redes da selecção Ricardo deve a sua alcunha.
Eu sou doente por futebol e adoro campeonatos do Mundo e da Europa, para além de, como é óbvio, vibrar imenso com a carreira da selecção nacional, mas sinto vergonha perante estes sinais do subdesenvolvimento Português. Já sei que o povo quer é bola, circo e motivos para sair das tocas, e está-se nas tintas para “a política”, para o governo e para as eleições, mas era bom que, de vez em quando, alguém se estivesse nas tintas para aquilo que o povo quer.

quem imaginaria acordar e, pela manhã, constatar que o País tinha sido entregue a Santana Lopes

Sem querer entrar (para já) na discussão sobre se deve, ou não, haver novas eleições legislativas (em princípio, sou contra a realização de eleições antecipadas), o que agora mais me intriga e preocupa é o silêncio de tantas e tantas pessoas de bom senso, responsáveis, inteligentes, competentes e credíveis, da área política do governo, perante a hipótese de Pedro Santana Lopes vir a ser primeiro-ministro.
Quando ontem, ao fim da tarde, ouvia a notícia de que Durão Barroso ia deixar o cargo, e que Santana Lopes era o seu provável sucessor, pensei primeiro que era uma brincadeira de mau gosto e, depois, que se tratava de uma hipótese meramente teórica lançada pelos media e, eventualmente, alimentada pelo próprio Santana.
Ora, não sendo a hipótese Santana uma anedota (o que, em qualquer caso, é impossível deixar de ser), o normal - de forma ingénua pensei - seria que no PSD, na coligação, ou na área politica por ela representada, de imediato, se levantassem reacções enérgicas e claras contra tal possibilidade. Só que, até agora – e já passou tempo demais – a única coisa que vi foram uns tímidos e não muito claros posts no Abrupto de José Pacheco Pereira.
Ainda não apareceu ninguém da área politica do governo a dizer de forma simples aquilo que tanta gente pensa: Santana Lopes como primeiro-ministro - em qualquer circunstância e mais ainda nestas - é um absurdo.
Não quero crer que este lamentável silêncio é calculismo táctico resultante do receio de Santana vir mesmo a ocupar o cargo de primeiro-ministro. Não quero crer que todas as pessoas do PSD e da área do governo que, com o seu bom senso, consideram desastrosa a possibilidade do país vir a ser governado por Santana, estão com medo de falar e ferir a susceptibilidade deste possível futuro primeiro-ministro, precisamente, por ser um possível futuro primeiro-ministro.
Muitas coisas poderão estar a passar-se neste momento; a actividade dos telemóveis estará certamente ao rubro e, possivelmente, estarão já na forja alternativas credíveis para a resolução desta pré-crise politica. Mas enquanto ninguém diz nada, vamos todos continuar a adormecer com a possibilidade de acordar no dia seguinte com Santana a governar o país. E isso é algo que não se faz.

6.24.2004

ladykillers

O Porto apresentou ontem o seu novo treinador: Peter Sellers chega ao Dragão depois de, em dois anos consecutivos, ter levado o Chievo de Verona às competições europeias.



Esqueçam a versão dos Coen. Este é daqueles filmes em que o remake nunca poderá ser melhor do que o original.



6.23.2004

luto pela eliminação da Itália


A Itália tem o condão de proporcionar a quem a segue em europeus e mundiais momentos verdadeiramente dramáticos. No euro 2000 caiu no último minuto da final com o golaço em volei de Trezeguet, depois de, com um sistema táctico quase perfeito, ter secado durante 90 minutos uma super França; antes, nas meias-finais, aguentou-se com menos um jogador frente à Holanda que jogava em casa, num dos mais bem jogados e espantosos jogos defensivos que já vi. Em 2002 foi eliminada pela Coreia e por uma arbitragem vergonhosamente caseira, num jogo em que tudo fez para ganhar. Ontem, massacrou a Bulgária, muitas vezes de forma atabalhoada, é certo, mas nunca deixando de forçar o golo da vitória que poderia dar-lhe o merecido apuramento. O golo apareceu no último segundo, o apuramento não, já que, segundos antes de Cassano marcar, Sorensen, um dos melhores guarda-redes do torneio, deu um monumental frango e com ele entregou o apuramento à Suécia.
Se há imagem que melhor ilustra o que de mais forte o futebol tem, é a do avançado italiano a explodir de alegria com o golo marcado em cima da hora (não sabia o resultado do outro jogo) e a súbita transformação que sofre ao aperceber-se de que o mesmo, afinal, não serviu para nada.
Quem é eliminado assim merece tudo.

ECM em tempo de bola

O Ricardo, do mais que excelente Babugem, regressou a um dos seus locais favoritos para a prática do crime: o catálogo ECM.
Também eu tive a minha fase ECM-o-obsessiva, nos idos anos de 90. Durante meses vasculhei o que pude o baú de Manfred Eicher, e fui descobrindo, ou reencontrando em novas vestimentas, as guitarras de Ralph Towner, Terje Rypdal e John Abercrombie; os pianos de Paul Bley e Keith Jarrett – a solo e no grande trio ao lado de Gary Peacock e Jack DeJohnette –; os saxofones de John Surman, Jan Garbarek e Charles Loyd; o contrabaixo de Dave Holland, Charlie Haden, Barre Phillips e Arnild Anderson; a bateria de Paul Motion e Edward Vesala; a trompete de Don Cherry e Enrico Rava; o free jazz do Art Ensemble of Chicago e o free-New Orleans-pop de Lester Bowie; para não falar numa série de outros autores e grupos inclassificáveis, como Collin Walcott, Egberto Gismonti, David Darling, Meredith Monk, Oregon, e Jon Hassel, o criador do fourth world (a par de Brian Eno), que com apenas um disco nesta editora – Power Spot – conseguiu deixar a sua marca, incontornável para quem queira ter pretensões de conhecer a evolução da música moderna nos últimos 20 anos.
Como terão reparado, no que respeita a música e discos, eu sou de manias. Quando me interesso por alguma corrente, época, tipo, género, grupo, músico, editora, faço questão em tentar conhecer o que mais puder.
Assim, sem querer de forma alguma substituir a sapiência do Ricardo, atrevo-me a sugerir alguns discos ECM, para mim, fundamentais:
- Do furacão sónico chamado Edward Vesala – Lumi, Ode to the Death of Jazz e Invisible Storm, por esta ordem;
- De Keith Jarrett, para além do óbvio Köln Concert, as caixas ao vivo - a solo no Japão - Sun Bear Concerts - e em Trio no Blue Note de Nova Iorque;
- De Paul Bley, um disco mítico e conceptual intitulado Open to Love
- A grande homenagem a Louis Armstrong que é All the Magic de Lester Bowie;
- Odissey de Terje Rypdal; e, last but not least,
- 1961 de Jimmy Giuffre (com Paul Bley e Steve Swallow) – uma obra-prima absoluta do jazz modal, gravada originalmente para outra editora (a Verve) antes sequer da ECM ter inaugurado, mas que assenta como uma luva na estética sonora desta, dando-lhe nova respiração e mais longínquos horizontes, até porque se trata de uma das principais influências de vários dos seus músicos.

Como aperitivo, ou não, transcrevo um excerto das notas feitas por Giuffre para a edição original:

"Given: the urge to enter new realms, glimpse other dimensions, reach the absolute. Given: the visions received from thinking on such things as . . . gravity, Monk, electricity, time, space, the microcosmos, leaves, chemistry, power, Gods, white-hot heat, asteroids, love, eternity, Einstein, Rollins, Evans, the heartbeat, pain, Delius, Scherchen, Art, overtones, the prehistoric … wife, life, voids, Berg, Bird, the universe . . ."

harmonia em tempo de Euro

Eis um post do Barnabé que eu subscrevo quase por completo (só não gostei da boca à Thatcher)

6.22.2004

dormir na Praça da Alegria

Hoje, são esperadas várias pessoas para pernoitar na Praça da Alegria, na esperança de conseguir um bilhete para o Portugal-Inglaterra. Ao passar por lá, pude constatar que um bando de plumpers da zona de Camden e de estivadores das docas de Southampton já havia montado tenda, para grande alegria das putas velhas do Fontoria que, em noite de horas extra – beneficiando, aliás, do novíssimo regime especial da adaptabilidade consagrado pelo recentemente publicado código do trabalho -, irão certamente mantê-los acordados.

Ouço muita gente (incluindo eu) dizer que é melhor para Portugal jogar com Inglaterra do que com França. Dizem, em suma, que a nossa selecção “encaixa melhor” na equipe de Ericksson, deduzindo eu que o facto de “encaixar melhor” nos traz acrescidas possibilidades de ganharmos. Porém, esta conclusão, levanta algumas interrogações:
O facto de encaixamos melhor nos ingleses, não significará que eles também “encaixam melhor” em nós? Ora, sendo assim, e partindo do princípio que “encaixar melhor” é bom para quem “melhor encaixa”, não será esta uma vantagem da qual os ingleses irão também beneficiar?
Bom, sempre se poderá dizer que nós somos o parafuso e a Inglaterra é a porca (o que, a avaliar pelos elementos femininos da claque britanica, ontem presentes na Luz, não anda muito longe da verdade), e, neste caso, embora encaixando bem ambas as selecções, Portugal fica por cima, o que, aparentemente, será positivo.

Camacho afirmou que os jogadores portugueses não são capazes de aguentar a pressão. Nunca percebi porque é que Camacho é tão considerado como treinador (é bom não esquecer que Camacho indicou o Luisão para central do Real). Camacho não tem qualquer currículo de registo e, para além de suar que nem um leitão daqueles que se desmancham em Segóvia, fazendo com que o nosso bonacheirão Vitor Manuel, ao seu lado, se assemelhe ao Príncipe de Gales (ainda mais agora que comprou uns fatos impecáveis para comentar os jogos na Sport TV), falhou sempre que teve oportunidade de ganhar (a taça não conta). No mundial da Coreia/Japão, Camacho berrou, gesticulou, ensopou a camisa de manga curta na zona dos sovacos, mas a Espanha pouco jogou. No Benfica perdeu praticamente todos os jogos importantes.
Sinceramente, sempre o vi mais com um boné do Benfica montado num camião TIR a fazer entregas IP5 acima, do que no banco de treinadores de um estádia de futebol, ainda que vestido com o fato de treino do glorioso.

Logo após o França-Suíça, os adeptos helvéticos arrearam uma valente praxe num grupo de tunas da Faculdade de Medicina. Aquele tipo da pandeireta - o que normalmente não sabe fazer mais nada - chegou mesmo a levar uma bofetada que o atirou ao chão.
A Suíça, com o fim da guerra fria, perdeu todo o encanto que tinha, mas, desta vez, os suíços estiveram bem.

neste blog continuar-se-á, preferencialmente, a escrever sobre futebol

Um famoso treinador português, formado na não menos famosa escola de Dresden (Bring me back the Berlin wall...), disse um dia que costumava ver os jogos de futebol na televisão ao som de música clássica.

Um mágico português demasiado versão D de um mágico americano com ele fisicamente parecido, disse ontem que não gostava de Scolari por este ser arrogante. Este mágico, minutos antes, admitiu não saber o que era um hat trick.

A boa notícia é que Diamond Dogs vai sair em versão especial. A óptima notícia é que os American Music Club (Mark Eitzel queria mudar o nome para Anti-American Music Club) vão lançar novo disco. A má notícia é que o filme de Sam Peckinpah Bring me the head of Alfredo Garcia não vai, para já, sair em DVD.
(fonte: Uncut)



"Não gosto de nomear nomes, vocês sabem tão bem como eu de quem estou a falar" – disse várias vezes um treinador adjunto que circunstancialmente assumiu as funções de treinador principal. Este, para além de ter sido mister e de guiar tractores, ia por várias vezes buscar pelas orelhas jogadores às boites.

No estádio da luz com uma assistência dividida de forma desequilibrada - 1/5 para a Croácia, 4/5 para a Inglaterra -, ouviram-se croatas na primeira parte e ingleses na segunda. Os cânticos, para além do repetitivo eng_land, eng_land, eng__land, incluíam um no singing, no singing now (quando os croatas se calavam), os clássicos Rule Britania e God Save the Queen, e um terrível Rooooney!, Rooooney!, pronunciado a la Nely Furtado versão masculina.

Nos donos da bola da SIC notícias, que insistem em manter-se no ar não havendo questões da Liga para discutir, servem-se cabazes de leitão de Negrais e travesseiros de Belas. Fernando Seara, mais ou menos nervoso, mostra-nos semanalmente porque é bom não ter que votar em Sintra.

À entrada do túnel de acesso aos balneários, alguém terá proferido palavras insultuosas para o seleccionador Letão. Diz quem assistiu que os agentes da autoridade presentes no local limitaram-se a complacentemente observar a cena. O alegado episódio ocorreu no estádiodo Bessa.

Após algumas audições, o novo disco dos Sonic Youth – Nurse – apresenta-se como um dos melhores do grupo e, para já, o melhor do ano.

Ovchinnikov, cuja transferência para o Benfica deu muito que falar anos mais tarde, foi apupado na porta do hotel onde estava instalada a selecção russa por reformados assíduos do pateo do Tribunal da Boa Hora

Anders Frisk, um misto de Piet Hein com Cliff Richards, é um forte candidato a apitar a final do euro, caso a Suécia não chegue lá.

Frank Rijkaard recordou os tempos em que foi jogador do Sporting e lamentou o facto de, nessa altura, ainda não existir a magnifica academia de Alcochete para treinar.

Um diário desportivo português, num passado dia 1 de Abril, fez capa com a notícia de que o professor Neca seria o novo treinador do Barcelona.

Há já alguns anos atrás, a Bola, no dia seguinte ao Benfica levar em plena Luz uma monumental coça do Liverpool, publicou aquele que até agora considero o seu melhor título de sempre: “Bento fraco, Shéu muito nebulado”

Imaginem o que seria o Jorge Coelho a cantar a música da nossa selecção: Meno jais, meno jais, meno jais.

6.21.2004

obrigado (este post não é sobre futebol

Luís Figo (obrigado), para além de muito ter contribuído, como era sua obrigação, para a vitória histórica sobre a Espanha, lançou um tema de discussão deveras interessante: Quem está habilitado a falar de quê?
Diz-nos Figo que, não sendo agricultor, não se atreve a falar sobre agricultura. Parece-me bem. Mas, será que, exceptuando o caso de Figo, não ser-se agricultor é razão suficiente para não se falar de agricultura?
Vejamos o caso de Sevinate Pinto (o nosso bom Ministro da Agricultura), que não é um agricultor no sentido estrito do termo, pois não trabalha a terra com as mãos, nem conduz a charrua, nem apanha as batatas, e, no entanto, farta-se de falar sobre agricultura, com a agravante de falar deste assunto em várias línguas. Ora, não sendo Sevinate um verdadeiro agricultor, nem sendo ele francês ou inglês, pela lógica do nosso Figo, não só não devia falar de agricultura, como apenas devia falar português, pelo que concluo que a remodelação é mesmo urgente.
Para enriquecer esta interessante questão, uns senhores jornalistas da TSF – que ouvi no carro, por entre agradáveis buzinadelas, enquanto regressava a Lisboa vindo do palco da brilhante e histórica vitória sobre a Espanha – afirmavam as suas genuínas dúvidas perante o princípio de Figo. Diziam eles que, em certa medida, concordavam, mas, em certos casos, discordavam. Por exemplo, não sendo advogados, arrogavam-se ao direito de falar sobre justiça. Mas – e agora pergunto eu – será que os advogados podem falar de justiça? Afinal, não são os advogados que fazem a justiça, mas sim os tribunais, ou seja, os juízes. Assim, os advogados, quanto muito, poderão falar de advocacia e, caso estejam casados, do casamento. Mas, atenção, de casamentos apenas devem falar aqueles que os fazem: o 29, o Sempre em Festa, os padres e os conservadores do registo civil, que, por seu lado, também podem falar da forma como se conserva um registo civil.
Seguindo o nosso Figo, chegaremos à boa conclusão de que Santana Lopes anda a falar demais do que não deve. Quando fala das presidenciais, Santana está a falar de matéria reservada única e exclusivamente a Jorge Sampaio, a menos que aqueles que, em tempos idos, hajam sido agricultores também possam falar de agricultura, caso em que o Marocas e o Eanes poderão igualmente falar do assunto favorito de Santana. Cavaco também, mas apenas na óptica do candidato derrotado, na qual os mais habilitados a falar são Garcia Pereira e Manuel João Vieira.
Depois, há casos de abusos de expressão verdadeiramente arrepiantes, como seja o de Nuno Rogeiro. Nuno Rogeiro fala de quase tudo – desde mísseis balísticos até discos de rock progressivo norueguês -, mas, não sendo um industrial de armamento, nem um guitarrista de solos intermináveis, em bom rigor, Rogeiro apenas deveria falar sobre pessoas que sabem um pouco de tudo e muito de algumas coisas - como ele.
Daniel Oliveira, por seu lado, pode falar sobre como escrever muitos posts no blog que mais visitas diárias recebe, mas não pode falar sobre n temas de que, abusivamente, fala, entre os quais, à cabeça, a presidência dos Estados Unidos, tema relativamente ao qual, em Portugal, ninguém pode expressar-se.
Miguel Sousa Tavares é um outro exemplo de como o ser humano pode ser um verdadeiro abusador: quando devia limitar-se a falar sobre si, põe-se a escrever sobre o deserto, não sendo um beduíno, sobre o Alentejo, não sendo alentejano, e sobre futebol, sem ser futebolista, ainda para mais na Bola, sem ser um jornalista desportivo.
Figo, para além de futebol na óptica de quem o joga, poderá igualmente falar de reclames, televisivos e outros, na óptica de quem neles figura. Mas, não pode, de forma alguma, falar de brasileiros naturalizados portugueses que são convocados por Scolari (obrigado, pá) para jogar na selecção. Figo, embora sendo um convocado de Filipão (como todos nós, Baia incluído) para a selecção, não sabe verdadeiramente o que é ser um naturalizado que é convocado. Deco (obrigado), sim, pode falar sobre Deco, mas não deve tentar ter sotaque português de Portugal.
Anda para aí muita gente a falar sobre aquilo que não sabe. O maradona, por exemplo, devia era estar calado e não falar sobre nada, porque nada é algo que ele nunca fez. Ninguém fez nada, porque toda a gente já fez qualquer coisa, e, por isso, qualquer um tem sempre algo sobre o que poderá falar.
Perante tudo isto, escusado será falar demais, para ver se não chateamos o Figo (obrigado).

6.20.2004

futebol

Ao acordar, sei que hoje é o dia em que tudo se decide e isso faz-me sentir 'aquela coisa' na barriga. Ao deitar tudo estará decidido. Apenas um jogo que, porém, pode fazer tanta diferença. Não para o país, mas para muitos de todos os que de pequenas e efémeras alegrias singulares vão vivendo. Quer se goste, quer não, quase todos.
Eu gosto.

6.19.2004

e ao sétimo dia

A Itália ofereceu-nos os mais deslumbrantes primeiros 45 minutos de futebol deste euro. Futebol clássico, a fazer lembrar a primeira metade dos anos 80 onde tão bem foi jogado. Com flanqueadores que a correr, a fintar e, por vezes, a tabelar, descem à linha e cruzam de forma perfeita para o centro da área. Com um número 10 que recebe, gira, passa, curto, longo, mas sempre com precisão, e que finta quando é preciso e solta logo que vê alguém solto para receber. Um trinco que carregou não só o piano, mas toda a orquestra – o único dos onze que deambulou pelo campo sem zona específica de influência, atrás da sombra da bola, para estar no local onde esta não devia ficar por muito tempo, fazendo os quilómetros que tinha que fazer e gritando consigo mesmo sempre que não era perfeito. Panucci (enormíssima exibição), Zambrotta, Pirlo e Gattuso, mostraram como a Itália, quando menos se espera, pode surpreender e mostrar porque é que, em futebol, ainda é e sempre será a Itália.

Fim

Este post acaba aqui porque eu não quero falar mais deste jogo. Não quero falar nos milhões de italianos que hoje, ao abrirem as páginas cor-de-rosa da Gazzetta dello Sport, perceberão que, mesmo ganhando à Bulgária, a Itália poderá não seguir em frente. Não quero falar de Vieri que, com a cabeça, foi uma nulidade. Nem quero falar do golão de Ibrahimovic – um golo inédito, que não é bem de calcanhar, nem é bem um chapéu, nem é bem de primeira, nem é bem impossível, porque foi mesmo marcado. E muito menos quero falar de Trapattoni, a velha raposa, que, pese embora ter começado bem - fazendo aquilo que certos seleccionadores deste campeonato só à segunda estão a conseguir fazer, que é pôr os melhores a jogar – teve medo de ser feliz e acabou mal, levando, substituição após substituição, uma até então máquina de jogar à bola a enveredar pelos malditos caminhos do catenaccio.

6.17.2004

o que vale é que, agora, não tenho mais que inventar títulos

O Rui Tavares (não confundir com Rui Tovar, do tempo em que futebol na televisão era um luxo de última hora) num belo post, faz o elogio ao, agora, mal amado Rui Costa.
É verdade que o Rui Costa fez uma boa jogada (não será a melhor jogada de sempre, mas é, aditamos, muito boa) no segundo golo do jogo contra a Rússia, só que, no resto do tempo em que esteve em campo, fez muito pouco, tal como no jogo com a Grécia, onde não fez mesmo nada.
Para mim, a questão é saber se vale a pena ter em campo um jogador que, eventualmente, poderá fazer uma brilhante jogada, mas em 90% do tempo é um jogador a menos, ou um outro, que também possa fazer essa eventual brilhante jogada e, no resto do jogo, jogue, como é o caso de Deco.
Dirão: então porque não jogar com os dois. Pela razão que passo a expor:
Deco sabe (tal como nós sabemos) que o grupo de veteranos da selecção (Figo, Rui Costa e Couto) não gosta da sua convocação – Figo, sem que agora tal venha a propósito, continua a insistir que é contra a chamada de naturalizados –, e sabe (tal como nós sabemos) que esse grupo continua, apesar de as expectativas que com Scolari a este respeito foram criadas, a ter uma influência despropositada em aspectos que não são da sua competência, como decidir quem deve jogar e onde deve jogar. Deco é um rapaz simples e humilde e, por isso, deixa-se condicionar por esta situação. Assim, quando Rui Costa está em campo, Deco acanha-se, faz cerimónia, inibe-se, quase tem medo de jogar bem para não ofuscar o grande Rui Costa, passa a bola quando, em circunstâncias normais, continuaria a inventar com ela, comporta-se como aqueles meninos que tentam agradar ao dono da bola para que ele continue a deixá-los entrar no jogo. Em suma, com os dois em campo, Rui Costa não joga, nem deixa jogar. Isto, para não falar no facto de jogarem os dois na mesma posição, o que também contribui para se atrapalharem mutuamente.
Depois, Rui Costa, por melhor jogador que seja, não pode portar-se como uma peixeira, a gritar com os jornalistas, a ofender-se com as perguntas que lhe fazem, e a dar respostas inacreditáveis, como quando, questionado sobre o que havia mudado na equipa com a sua substituição frente à Grécia, respondeu: “nada mudou, perdemos na mesma”, num tom susceptível de ser interpretado como querendo dizer: os que entraram fizeram exactamente a mesma merda que eu.
Meu caro Rui Tavares, não é uma fama criada por gente de má vontade (quem me dera que Rui Costa arrasasse em todos os jogos), mas sim algo que se tem vindo a constatar à vista desarmada nos últimos anos.
Quanto ao resto, Figo também não está no seu melhor, mas ainda vai jogando o mais que suficiente para ser titular; Simão é bom, mas Cristiano Ronaldo é muito melhor; a dupla Ricardo carvalho / Jorge Andrade é para manter (embora Jorge Andrade nos últimos minutos do jogo com a Rússia tenha vacilado); Nuno Valente e Miguel estiveram muito bem (sobretudo este último, que corre muito, nunca se cansa e às vezes acerta); e Pauleta, mesmo sem jogar um corno, não tem substituto.

(uma outra questão que tenho colocado, é a de saber porque é que a maioria das mulheres gosta muito mais de futebol quando jogam selecções do que quando jogam clubes)

6.16.2004

o que vale é que já estamos todos a fazer contas

A grande dúvida que se me coloca para hoje, é a de saber qual o melhor resultado para Portugal do jogo Espanha – Grécia, que será disputado no Bessa, Boavista, Porto.
Vejamos, hipótese a hipótese:

1ª. Ganha a Espanha. Há quem diga que a vitória da Espanha é boa para nós porque praticamente apura os espanhóis, permitindo-lhes jogar o último jogo do grupo – contra Portugal – descontraídos e a rodar os suplentes, ficando, assim, mais fácil ganhar-lhes. Para além disso é a forma de poderem passar à segunda fase, tanto Portugal como a Espanha, o que - dizem - é bom para o turismo.
Para mim, este seria o pior resultado. Desde logo, porque nada nos garante que uma Espanha descontraída e suplente jogue pior do que uma contraída e titular, antes pelo contrário. Depois, porque é a única situação em que, mesmo ganhando Portugal os dois jogos (contra Rússia e Espanha), fica, ainda assim, dependente do resultado do Grécia – Rússia: se a Grécia ganhasse, teríamos três selecções com 6 pontos: Portugal, Grécia e Espanha, passando as duas com melhor goal-average, não necessariamente a nossa. Para além disso tudo, pouco me interessa o turismo.

2ª. Espanha e Grécia empatam. Neste cenário, Portugal, para além de depender só de si para passar aos quartos (bastar-lhe-á ganhar os dois jogos), até pode dar-se ao luxo de empatar com a Rússia, desde que depois ganhe à Espanha e a Grécia não perca com a Rússia (Grécia 1ª, com 7 ou 5 pontos, Portugal e Espanha com 4 pontos, mas vantagem para Portugal por ter ganho no confronto directo).
(Note-se que em todas as nossas hipóteses de sucesso a Rússia tem que ir com os porcos. Minto, há uma hipótese de passarmos nós e a Rússia: amanhã, dois empates (o do Grécia – Espanha a zero, e o nosso com a Rússia a muitos golos); na última jornada, nós goleamos a Espanha e a Rússia espeta duas ou três batatas na Grécia. As quatro selecções ficarão com 4 pontos, seguindo em frente as goleadoras Portugal e Rússia.)

3ª. Ganha a Grécia. A Grécia fica automaticamente apurada. Portugal continua a depender só de si (ganhando os dois jogos necessariamente passa), e o empate com a Rússia não nos afasta totalmente, pois se ganharmos à Espanha (algum jogo temos que ganhar para passar. Ou será que não?) e a Rússia não ganhar à Grécia, passamos nós em segundo.

4ª. A claque grega dá cabo do Norte Shopping, rebentando com a avenida das comidas. O vandalismo é de tal forma grave que a UEFA decide expulsar a selecção Grega. Temos que ganhar à Rússia, pois a Rússia fica automaticamente com o jogo seguinte ganho por falta de comparência da Grécia. Ganhando à Rússia estamos apurados, seja qual for o resultado com a Espanha.

5ª. As claques grega e espanhola enfrentam-se na Rotunda dos Produtos Estrela, junto à Boavista, com relato em directo feito para a TSF por Renato Romariz que por ali passa no helicóptero do trânsito. O Rei Juan Carlos, a caminho do Bessa, apercebe-se dos desacatos e pede ao motorista que volte para o aeroporto para se por a andar; antes, pede-lhe um Ferrero Rocher. Gregos e espanhóis empatam à estalada (embora os gregos sejam menos). Chegado à Zarzuela, o Rei discute violentamente com a Rainha Sofia, por esta defender a sua Grécia e, mais uma vez, queixar-se da fatiota usada por Letícia. Os reis de Espanha separam-se. A UEFA expulsa Espanha e Grécia do Euro. E nós já podemos perder com a Rússia, e passar.

6.15.2004

o que vale é que, agora, há jogos todos os dias

Vi o Sousa Cintra na TVE a dizer que 'o Figue Jlugává trés bienó, péro que estava maleitado pior tantó cáliente que flaz cá'
Pois é. O Figo com aquele ar de mártir que carrega com tudo às costas – a equipa, o peso da responsabilidade, os ais - que ainda são muitos -, a gestão dos estabelecimentos de diversão veraneia do China – até as costas ficarem curvadas para a frente de tanto peso, está como peixe ("pêxe", segundo Sousa Cintra) na água, neste calor subdesenvolvido em que vivemos.
O ar de mártir cansado de tanto aguentar, cai que nem ginjas (o que é que esta expressão quer dizer? onde é que caiem as ginjas? Porque e que as ginjas caiem bem?) na retina (ginjas na retina?) de quem o vê a correr com aquele verde colete em Alcochete (de propósito para rimar).
Todos ficamos a admirá-lo mais. É só cabelos; é só tatoos; é só chuteiras; é só reclames; e campanhas beneméritas; e um calor insuportável que, em cima dos pesos com que acarta, não o deixa (dêxa, diria Sousa Cintra) jogar tão bem como... O Ronaldo (de Reagan), por exemplo.
Posto isto, digo por quem torço:
(ainda) Por Portugal
Pela Inglaterra
Pela Holanda
Pela Itália
Pela Grécia
Para que o Gilberto Madaíl deixe de aparecer na televisão agarrado a um telemóvel, dando ainda pior imagem desta pocilga
Para que o Gilberto Madaíl deixe de aparecer
Para que o Gilberto Madaíl não fale mais e deixe de aparecer na Praça da Alegria
Para que a RTP deixe de aproveitar o Euro para fazer, todas as noites, uma Praça da Alegria ambulante, onde são entrevistadas as ‘senhoras idosas’ deste país, quase sempre vestidas de bata.
E o Rossio? transformado na praça central que, há muitos anos, deixou de ser. É bonito.


6.14.2004

O que vale é que, agora, as noites eleitorais acabam num instante
Embora estas eleições tenham sido eleições para o parlamento europeu, parece-me óbvio que, no vergonhoso resultado da coligação, é possível descortinar um voto de protesto pela política que internamente tem sido seguida pelo governo. No entanto, a meio de um mandato em que, mais do que antes, foi e continua a ser preciso tomar medidas impopulares, vejo com agrado esse voto de protesto. Ficaria mais preocupado se, da parte do povo, não houvesse descontentamento, não houvesse vontade de castigar nem de mostrar “cartões amarelos”. Tal poderia significar que o Governo não estava a fazer nada, porque – e os socialistas sabem bem que é assim –, no ponto a que chegámos, para se fazer alguma coisa que possa dar frutos no futuro, é preciso começar por desagradar a muita gente. Achei, pois, positivo (embora desconfie que tal venha a ser levado por diante) que Durão Barroso, na segunda parte da sua intervenção, tenha dito que não irá alterar o rumo que está a seguir, em função de sondagens, ou na tentativa de agradar às massas.
Mas, porque estas eleições foram para o parlamento europeu, também têm que ser interpretadas à luz da atitude que os partidos da coligação têm ultimamente tido, perante as questões europeias que interessam. E, a esta luz, Durão Barroso e Paulo Portas têm razão em dizer que na elevadíssima abstenção há muitos eleitores da área da coligação.
Com efeito, ambos os partidos prometeram um referendo à constituição europeia e ambos os partidos, não só não cumpriram tal promessa, como chegaram mesmo a activamente inviabilizá-la, através de manobras espertalhonas de bastidores.
Por outro lado, o PP, um partido eurocéptico com um eleitorado eurocéptico (ou europarado, na expressão de Pedro Lomba), caiu na armadilha da esquerda e de algum PSD, ao reagir da pior maneira às acusações que estes lhe fizeram de ser ‘contra a Europa’, afirmando-se, de repente e de forma que pareceu oportunista, como um partido euroentusiasta. Contra a grande maioria do seu eleitorado.
É um disparate, ou uma ingenuidade, ter vergonha de ser eurocéptico - sendo-o -, porque, ser eurocéptico, não é ser contra a União Europeia e muito menos contra a Europa.
Eu não sou contra a Europa, nem me passa pela cabeça voltar atrás, saindo da EU. No entanto, não quero a constituição europeia que se está a tentar fazer passar, nem quero mais federalismo como se está a tentar implementar, nem quero mais órgãos europeus, nem mais avanços políticos na EU, enquanto não se consolidar e melhorar o que até agora já se avançou. Não vejo em que é que nisto possa haver motivo para ter vergonha. O PP, não pensou assim. Achou que este tipo de discurso o marginalizava e o incompatibilizava com o PSD. Erro. A prova é que, em eleições europeias, e mesmo dando o desconto do natural voto de protesto pela política do Governo, PP e PSD juntos somam muito menos do que PP e PSD separados.
O PP podia perfeitamente (e devia) ter votado contra a revisão constitucional na parte em que a mesma visou adaptar a nossa constituição à futura constituição europeia. Desde logo, porque os seus votos não eram necessários (PSD e PS juntos têm mais de dois terços); depois, porque essa divergência do PSD, em nada poria em causa a coligação - uma coligação implica dois partidos, e dois partidos têm, ainda que coligados, posições diferentes em relação a certas matérias. É, também, essa a sua virtude. Finalmente, porque, ao aprovar à socapa uma revisão constitucional que em parte foi num sentido diverso daquilo que o seu eleitorado esperava, o PP chateou (no mínimo) esse mesmo eleitorado, e indispô-lo a votar nestas eleições.
Assim, se é verdade que o resultado mostra um voto de descontentamento relativamente à política interna seguida pelo governo da coligação – o que, a meu ver, como eleitor da área da coligação, é bom, na medida em que mostra que medidas impopulares, mas necessárias, estão a ser tomadas –, por outro, mostra um descontentamento de algum (muito) eleitorado perante a atitude destes dois partidos, mas sobretudo do PP, relativamente às questões europeias relevantes.
Durante anos tivemos, em Portugal, vergonha de ter um partido credível de direita, como se isso fosse um crime. Agora, parece que temos vergonha de ter um partido credível que não seja euroeufórico. A esquerda, uma vez mais, agradece.


Adenda: Não tendo sido claro, esclareço: a meu ver, o PP devia ter concorrido descoligado nestas eleições. E o PSD também, por supuesto.
Zandinga Barnabé
O discurso de Durão Barroso (cronologicamente posterior ao post do Rui Tavares) - no qual, antes de tudo o resto, se congratulou por, nestas eleições, terem ganho os partidos "europeístas" - trouxe-me à memória as famosas ‘vitórias’ do PCP: O score baixava, o número de eleitos descia, mas a APU ganhava sempre.
Qualquer dia estamos a ouvi-lo falar dosss problemasss dosss trabalhadoresss eosss problemasss dosss reformadosss.
No momento imediatamente anterior ao perdigoto (antes dele, portanto)
Entre os dois textos do Ivan sobre Reagan, é possível vislumbrar uma mudança, não só no tom, como no essencial do conteúdo.
No primeiro, a ideia que passa é a de que, durante os anos de Reagan, a economia americana regrediu globalmente, e, no meio dessa regressão geral, acentuaram-se as desigualdades sociais, aumentaram os números da pobreza e o aumentou o número de pessoas a viver na rua.
No segundo, as criticas a Reagan já acentuam, apenas, o aumento do número de pobres e homeless.
Há, entre os sentidos destes dois textos, uma diferença essencial.
Nenhum governo, em que país seja, em que tempo tenha sido, conseguiu, consegue ou conseguirá, melhorar a vida de todos e cada um dos que nele vivem. Haverá sempre quem seja desfavorecido e quem seja excluído. E haverão aqueles que, durante o exercício de um governo, por coincidência, ou por força directa ou indirecta (ainda que involuntária) das suas políticas, passarão a viver pior. Alguns, muito pior.
Assim, mesmo admitindo que o número de homeless tenha aumentado extraordinariamente durante a presidência de Reagan (o que, para utilizar uma linguagem forense, apenas por mera cautela de patrocínio equaciono – pois há fontes, também citáveis, que contrariam as citadas pelo Ivan), tal não é razão objectiva para desfazer toda a sua política económica.
Não é politicamente correcto dizer isto, mas, se o facto de, durante um mandato (ou dois), algumas (relativamente - ainda que, em termos absolutos, muitas) pessoas piorarem de vida – mesmo sendo essa piora para algo que é insuportável, como o é a pobreza marginal –, é suficiente para classificarmos uma politica de péssima, ou má, então, nunca até hoje existiu nenhum mandato onde fosse seguida uma política que pudesse ser classificada como boa.
O facto de ter aumentado o número de pessoas a viver na rua é razão mais do que suficiente para atacar e criticar Reagan e as suas politicas, mas não legitima dizer-se que toda a sua politica foi um desastre. É ingénuo e/ou demagógico achar que alguém vai fazer tudo bem, ou, pelo menos, tudo menos mal. Se Reagan conseguiu globalmente melhorar de forma acentuada a vida de muitos e muitos americanos – porque os dados do crescimento económico tiveram um reflexo positivo na vida de muita gente (incluindo gente que foi tirada do desemprego e da rua, para uma vida decente) –, algum mérito Reagan teve, ainda que nem todos e cada um dos americanos tenham sido por ele beneficiados.
Alguns dirão que por aqui se vê a diferença entre a esquerda e a direita. O Ivan preocupa-se com as pessoas de carne e osso e eu, preocupar-me-ia, apenas, com os números. Só que, estes números de que falo, tiveram impacto positivo na vida de muita gente de carne e osso. São números, mas são muitos e todos de carne e osso.



6.08.2004

Ir mais além da Praia (ou o meu viva à Reagan Revolution)

“Triclenomics”. Trickle Down Economics – um sistema onde não existem barreiras significativas para a acumulação de riqueza pelos indivíduos, baseado num simples princípio (discutível, mas em alguns contextos de eficácia comprovada) que nos informa que “se o cavalo comer melhor pasto, os pássaros comerão melhor”; ou seja, se os mais ricos tiverem maior riqueza para gastar e investir, os menos ricos acabarão por beneficiar dessa mesma riqueza, ou - dito ainda de outra forma - a redução das taxas dos impostos sobre os rendimentos e o capital poderão, afinal, beneficiar todos os cidadãos e não apenas os detentores desse capital.
Foi neste princípio que se inspirou a politica seguida por Reagan e na América, onde foi aplicada, esta politica resultou: a América tornou-se globalmente mais competitiva e próspera e um melhor local para se viver durante o período em que surtiu efeitos.
Dizer o contrário, pelo menos de uma forma que não abre hipótese à discussão, é intelectualmente desonesto ou ignorantemente faccioso. Ou só ignorante.
Independentemente das considerações politicas que se façam sobre os anos Reagan, não é certo afirmar, como se de uma absoluta verdade se tratasse, que os cortes nos impostos então concretizados apenas tenham abrangido e beneficiado os ‘ricos’, a menos, claro, que consideremos todos os americanos relativamente ricos.
Deixemo-nos de tretas. Na verdade, o americano médio beneficiou, durante a presidência Reagan, de um corte de 22% nos impostos a seu cargo, e, os menos ricos de todos (mas, ainda assim ricos?), viram os seus impostos baixarem em 38 %.
Está estudado e dito por muitos – World Almanac, National Rewiew, Census Bureau (p. Ex.) - que o resultado destes cortes brutais nos impostos – de todos - levados a cabo pela administração Reagan, ao contrário do que alguns apregoam, não tiveram como resultado os pobres ficarem mais pobres e os ricos mais ricos, mas precisamente o contrário. Fruto das Reaganomics, o gap entre ricos e pobres diminuiu. Como também não é certo afirmar que os cortes nos impostos contribuíram substancialmente para o aumento do défice (para o dobro e não para o triplo).
Ao não passar da Praia, corre-se o risco de tomar por verdadeiras algumas das fábulas que à volta da revolução conservadora de Reagan foram sendo criadas.
O aumento do défice - pondo de lado o espanto (ou nem por isso) com a súbita importância que este, quando estamos a falar da América, passa a ter para a esquerda que cá o subvaloriza – alicerçou-se noutras causas:
(i) Numa descida acelerada da até então galopante inflação herdada do fraquíssimo Jimmy Carter - esse, sim, um presidente para esquecer, cuja pobre performance económica deixou a economia consideravelmente debilitada -, que levou ao aumento genérico da despesa federal com vista à revitalização da economia (revitalização que, entre outras coisas boas, teve como consequência um substancial aumento na criação de emprego, também ele, neste contexto Reaganistico, menosprezado pela esquerda facciosa que aqui em Portugal o reclama).
(ii) E no específico e significativo aumento de gastos com a defesa, a partir dos quais se criaram as condições para tornar a América de tal forma segura (pelo menos virtualmente) que, por arrasto, acabou com a União Soviética, num feito comparável à queda de Cartago face a Roma.
Mas este facto, na Praia onde se ditam verdades absolutas, já é questionável e matéria de debate. Quem acha que Reagan deu cabo da economia e finanças americanas, e não quer falar mais nisso, acha igualmente que a queda da União Soviética, do muro, e dos regimes comunistas que pela Europa proliferavam, se deve, não tanto a Reagan (e ao Papa, acrescento eu), como - depreende-se que sobretudo - ao declínio inexorável para o qual caminhavam desde a década de 60 (!?).
Os checos, os polacos, os alemães de leste, os romenos e outros povos de leste que passaram os 60, 70 e 80, nos seus países, que o digam.
Ora, o fim do comunismo global, se outras vantagens não trouxe aos nossos esquerdistas locais, serviu para que, anos depois de Reagan, pudessem vangloriar-se com alguns dos feitos do seu herói americano: Clinton, Bill.
Não fosse o desaparecimento do Bloco de Leste e da ameaça que para os EUA ele representava, e não teria podido Clinton cortar a eito despesas correntes até aí por ninguém postas em causa. Só para dar um exemplo: com o fim da guerra-fria, o staff do Pentágono foi reduzido em 71%. Graças a quem? A Clinton. Mas também a Reagan, que tornou dispensáveis essas despesas.
Olhando para os factos, a performance económica da presidência de Reagan quando comparada com os períodos anterior (Ford-Carter) e posterior (Bush-Clinton), ganha à luz de quase todos os critérios chave de análise.
Mas, na Praia onde abortar de graça e proibir as rezas nas aulas são as verdadeiras prioridades -, o crescimento económico, o aumento do rendimento familiar médio, a descida da inflação, a subida do emprego e da produtividade, são questões de somenos.

6.07.2004

warning

A não perder hoje (na RTP 2) a excelente série Angels in America, com Al Pacino overacting as Al Pacino, e passada num tempo – os politicamente gloriosos anos oitenta - em que dava bem mais gozo votar no Partido Republicano.

6.04.2004

o que é que o Barnabé tem

Que politicamente sejam insuportáveis é uma coisa, mas a muita graça que têm ninguém lhes tira.
Uma maravilha!

Happy Hippie Girls

O Bruno conta-nos que não gosta dos anti-globalização que fazem por recriar nos dias de hoje o cenário imundo de Woodstock onde, a bem dizer, apenas Jimi Hendrix brilhou. Concordo e discordo. No que respeita ao género masculino, nada a objectar às reflexões do Bruno e, sendo assim, piscina olímpica dos Olivais com eles, cheia de lixívia e com redes por cima para de lá não saírem. Já no que respeita às moçoilas divirjo radicalmente.
No alto de Santa Catarina situa-se um bonito miradouro, servido por um miserável quiosque (é quase sempre assim em Portugal: quando o sítio é bom, come-se, bebe-se e serve-se mal; quando o inverso sucede, sucede o inverso: come-se e bebe-se bem, num sitio escuro ou claustrofóbico ou medonho ou tudo isso ao mesmo tempo), onde tem por hábito parar a fauna hippie-anarco-bloquista, unida pela aspiração a um dia partir montras nas imediações de uma reunião do G8, e pelos charros martelados com drunfos que rodam entre si.
Por essas bandas, é possível ver diariamente - e em maior número agora que o calor aperta - um espécime feminino do qual muito gosto. Um fetiche – é certo -, mas um fetiche dos mais cá de casa.
Giras, com saias largas, leves, vaporosas, translúcidas, até aos pés quase descalços. T-shirts de alças, em regra verde azeitona, a acabarem por cima do umbigo onde, espetados, se vêem piercings de vários feitios. Cabelos com ar mal lavado, presos por elásticos, ganchos e fitas, agulhas e lápis de carvão. Corpos esguios, demasiado mas não excessivamente magros. Ausência de soutien que permite, por entre a folga sita junto às axilas (devidamente desodorizanteadas, pois que até as taras têm limites), contemplá-las, pequenas, duras e em forma de cone.
É vê-las, Rua Marechal Saldanha adentro até ao Adamastor, com paragem na mercearia para abastecimento de cerveja, e pensar o quão mais maçador seria este mundo sem aquele “mundo outro”: real, palpável, suado.

6.02.2004

Dassse! (título provisório, na falta de outro)
Não é agradável ser-se apelidado de extremista, ainda que de direita. Admito até que seja insultuoso. Mas, a meu ver, ainda não é o mesmo que ser chamado de cabrão ou filho da puta, para dar apenas dois exemplos.
No nosso debate e discussão politicas, acusar o próximo de ser de extrema-direita ou de extrema-esquerda, tornou-se numa prática corrente e banal que veio atenuar e relativizar, muito, o verdadeiro sentido destas expressões – pergunto: qual o direitista ou esquerdista, por mais civilizada e moderada, ainda que convicta, que sejam as suas direita ou esquerda, que ainda não foi, alguma vez, brindado com o epíteto de extremista? Poucos. Bem me parece.
Por estes tempos, quem não é do centro ou de coisa alguma, corre o sério risco de, pelo menos uma vez na vida, ser verbalmente chutado para um gueto ideológico.
Posto isto, reprovo os desabafos insultuosos de Sousa Franco (por quem tenho e continuarei a ter a maior consideração) e tenho pena que os tenha feito, mas não entro em histerias.
Por outro lado, a conversa do “careca com uns óculos esquisitos”, não sendo, também ela, a maior ofensa de que se pode ser alvo, é, em todo o caso, de uma grandessíssima má-criação. Para além disso, é um erro primário que um político, ainda que J., não devia cometer.
(O João Almeida, percebendo isso quando já era tarde, veio, e bem, retratar-se. Mas, a retratação, sendo um gesto bonito, não é, também ela, a coisa mais nobre e digna do mundo, como alguns tentam fazer passar. Nobre e digno seria não chamar “careca” a Sousa Franco).
É um erro primário porque, desde logo, ninguém deixará de votar em Sousa Franco pelo facto de ser “careca” e ter “uns óculos esquisitos”. É, pois, para além de mal criado, um acto gratuito, inútil e ineficaz. É ainda um erro primário, porque, graças a ele, durante dois dias de campanha eleitoral não se falou em mais nada se não isso, obrigando João de Deus Pinheiro a gastar as suas energias a apagar fogos em vez de gastá-las a tentar ganhar votos.

6.01.2004

de volta aos discos (de onde nunca devia ter saído)

Enquanto não arranco para um estudo exaustivo da percepção que o mundo tinha e tem do soldado americano, para tentar responder a quem sabe, paro na fnac para comprar mais uns discos e, quiçá, destruir mais uns mitos.
Konk – The Sound of Konk – Tales of the New York Underground, onde se ouve um baixo que marca o ritmo funk-punk-latin-no-wave-disco-funk, uma precursão imparável, metais afinados, e os ecos dos clubes do Lower East Side, bairro onde, no passado, haviam muitas mais sinagogas, e no qual as levas de imigrantes que fizeram a América assentavam arraiais, após desembarcar, e antes de partir, cidade acima, na direcção paralela à do estatuto que procuravam melhorar.
Bob Dylan Live 1964, mais uma bootleg puxada para a legalidade, onde se ouve uma harmónica e Dylan (pois, está claro) na fase acústica de puro folk, a que menos gosto (imediatamente anterior à que mais gosto), mas da qual saíram algumas das minhas músicas preferidas: A Hard Rain’s A-Gonna Fall, It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding), nomeadamente.
New York No-Wave, Bob Dylan, dois mitos? Não - duas realidades, por isso, impossíveis de serem por mim destruídos ou destruídas num post, quiçá, leviano.
Ao contrário, o soldado americano corajoso - que nunca existiu - e preparado - que nunca foi - só na minha cabeça, só na minha cabeça. E quando julguei ter descoberto a pólvora, levei, e bem, com um míssil em cima dela.
É verdade, maradona, eles têm 18 e 19 anos. E eu, é mais Gurkhas e Legião Estrangeira


Site Meter