1.29.2004

Drinking While Driving

It's August and I have not
Read a book in six months
except something called The Retreat from Moscow
by Caulaincourt
Nevertheless, I am happy
Riding in a car with my brother
and drinking from a pint of Old Crow.
We do not have any place in mind to go,
we are just driving.
If I closed my eyes for a minute
I would be lost, yet
I could gladly lie down and sleep forever
beside this road
My brother nudges me.
Any minute now, something will happen.

Raymond Carver

1.28.2004

palavras recorrentes

"It's strange. You never start out life with the intention of becoming a bankrupt or an alcoholic or a cheat and a thief. Or a liar."

Raymond Carver

1.27.2004

.

contra esta política do governo

Na secção de um tribunal, que por acaso funciona num vão de escada, dois advogados pretendem pôr termo a um processo celebrando um acordo. Procuram o funcionário que, descontraidamente, lhes pede que aguardarem, pois vai só “tomar um cafezinho”. Não dá tempo sequer para os desgraçados reagirem e zarpa para o elevador. Passados 40 (quarenta) minutos abre-se a porta do elevador e.... Oh diabo! É o funcionário. Todo janota, mãos nos bolsos, barba à Judas, de cafezinho no bucho e pronto para trabalhar um bocadinho. Começa a redigir o auto que os advogados debruçados no balcão lhe ditam. São apenas três parágrafos. Vinte ou trinta palavras. Uma estafadeira. No meio da delicada operação de martelar as teclas do seu pc, o funcionário recebe uma chamada. Pára tudo, que isto de atender a namorada não dá para acumular. Quando um homem tem que cumprir, nem que seja no telefone, tem que cumprir. 10 (dez) minutos depois a coisa azeda: “Ó pá! Já te disse que estou a trabalhar! Depois falamos” (sublinhado meu). Os advogados aliviados voltam a ver a luz ao fundo do túnel. Copia e cola, justifica, centra os números, corrige os erros, levanta-se coolmamente e dirige-se à impressora. “Vejam se está bem”. Não está. Afinal, eram muitas palavras, o homem é um humano e errar é humano.
É também por causa deste cabrão, que passa o dia a literalmente nada fazer, que não há aumentos para ninguém. É para poder garantir o emprego a este animal, que muitos funcionários, públicos, competentes, zelosos e produtivos, vão ter 0 de aumento. É por isto que eu também estou contra esta política.

1.26.2004

palavras sobre sons e palavras

"Plus que tout autre, Leonard Cohen est conscient de la solitude qui accompagne nos vies. Il suffit d'écouter ses chansons, depuis So long, Marianne jusqu'à Everybody knows : cet homme se fait très peu d'illusions ; il connaît l'égoïsme, et la cruauté. C'est pour cela que je trouve étrange - et émouvant - qu'il s'adresse à son public en l'appelant "camarades". De lui, je suis prêt à accepter ce mot comme un salut chaleureux, sans démagogie ni niaiserie. Je me souviens qu'il s'agit du même homme qui avait le courage, en pleines années 60, d'affirmer : "Les institutions sont OK. Le problème, c'est plutôt ceux qui sont à l'intérieur" ; ou bien, longtemps après, de rappeler : "Je savais bien que les êtres humains ne pourraient pas supporter autant de liberté."

Michel Houellebecq sobre Leonard Choen

1.25.2004

lets get lost


Muita contenção. Muita vontade.
Um até amanhã embaraçado à saída de um elevador. Dou-lhe um beijo? Não lhe dou um beijo? Ela está à espera que eu lhe dê o beijo? Pois, pois, you must remember this, a kiss is still a kiss. Até aos ciúmes que se sentem de quem connosco em nada se comprometeu. Ou comprometeu?

1.24.2004

gentlemen take polaroids


Michael Caine - Beverly Hills
Helmut Newton 1920-2004

quantas manhãs de sol existem no mundo?

Tantas quantas as pessoas que nele acordam em dias de sol?
Tantas quantos os dias que nascem com sol?
Tantas quantas as pessoas que no mundo acordam em todos os dias que nascem com sol?
De todos os tempos? Do passado ao futuro todo, incluindo hoje?
E as que são contadas, descritas e escritas? Também contam?
E as que ficam para delas nos lembrarmos. Também contam?

sons e palavras recorrentes

_ _ _ __ __._
_._._.___ _.__ _._ _..__
_._._ _.___ !

Women_of_the_world take over
’Cause_if_you_don’t the_world will_come to_an_end
And_it_won’t__take_long____

Women_of_the_world take over
’Cause_if_you_don’t the_world will_come to_an_end
And_it_won’t__take_long____


Jim O'Rourke 1999

agorahácomentários

paracomentadorescomentaristascomentadeirasquecomentamcomentadamente
comodamentedaanónimaposiçãoemquecomentamoscomentáriosquealguémquetambémcomentaequeracimadetudoquese
comentemtodoscomentadandoosseuscomentáriospontofinal

1.23.2004

imagens recorrentes


Douglas Gordon
Blind Grace
91.4 x 91.4 cm



Au lieu de l'affirmation pure d'une puissance, monopole du rock et du punk, la passivité de se livrer à la loi anonyme d'une mélodie.

1.22.2004

faça-se silencio


1.21.2004

pesca

À chegada, a meio da noite, parece que estamos na Lua ou em Marte, tal é a desolação da paisagem. Ao entrar na terra, vêem-se ruas modestas com casas modestas plantadas a espaços. Meio cidade fantasma, meio gueto ameaçador.
Ao acordar, o mar é transparente, verde e azul, por esta ordem, com água quente. A areia, finíssima, é branca. A praia tem quilómetros e, embora me digam que os hotéis estão esgotados, há grandes espaços sem ninguém.
Na Ilha do Sal, há três Cabos Verdes. Um que vive do vento, outro que vive do mar, e, um terceiro, que vive enfiado nos hotéis.
O pontão é “o lugar”. Velho, gasto, meio abaulado, mas ainda em pé, com cada tábua de seu tamanho, é lá que chegam os barcos da pesca, onde descarregam o peixe que, ali mesmo e de imediato, é amanhado e vendido.
Este é um dos melhores lugares para pesca desportiva. Há grandes skippers, barcos razoáveis a preços razoáveis, e peixe a dar com um pau.
Às 8 da manhã, depois de mais uma noitada invariavelmente acabada a ouvir um set de hip hop no Pirata, arrancamos no Majumba para cinco horas em alto mar. O Zé (da Guiné) monta as canas na popa. Está um mar muito picado e, à medida que o barco rasga as ondas de três metros, saltam da água peixes voadores. Ao fim de algum tempo uma das canas começa a vergar. É hora de recolher as outras, abrandar a velocidade e tomar lugar na cadeira de ataque. Na pesca, a grande pica, que nos sustem na luta, vem da expectativa de saber o que é que mordeu o isco. Até quase ao fim, sabemos que pesa muito, mas não sabemos o que é. E pode ser muita coisa. São minutos que parecem horas, a cansar o peixe, a dar linha, a aproveitar, com alguns golpes baixos (admito), as suas distracções.
De novo no pontão, com o enjoo a passar, o calor da uma da tarde e a água mais calma, mergulha-se de cabeça.





Parece que está na hora de começar a tirar umas chapas.
E a publicá-las...
De acordo com o site, só há capacidade para publicar 5 MB de fotografia por dia, o que é nada. Temos, pois, que reduzi-las, com a inevitável perda de qualidade em tamanho e em baites.
Vamos a isso!

1.20.2004

ideias magras

Nos seus comentários (infelizmente) habituais na SIC Notícias, Luís Delgado vocifera contra a necessidade de impor aos jornalistas o respeito pelo segredo de justiça. Uma coisa que parece tão óbvia, como seja obrigar os jornalistas – aqueles que tem o poder de divulgar para mais gente – a respeitar o segredo de justiça – que é segredo exactamente por não dever ser divulgado -, merece por parte de Delgado um ar de indignação.

Por que é que os jornalistas também devem ser obrigados a respeitar o segredo de justiça?
Porque o segredo de justiça existe para proteger a investigação e, sobretudo, o bom-nome dos investigados (ou não investigados que constem no processo) que, até sentença transitada em julgado (até sentença transitada em julgado!) são presumidos inocentes.
A liberdade de informação (tal como a liberdade de expressão, por exemplo) tem de ter limites. Caso contrário (tenho que admitir) as coisas só poderão ser resolvidas “à canelada” (para citar um exemplo de como a violação do segredo de justiça por jornalistas pode pesar durante muito tempo em cima de uma pessoa).

Delgado não está de acordo. Acha que obrigar os jornalistas a respeitar uma coisa que todos estão obrigados a respeitar é impedi-los de trabalhar. É impedi-los de informar. Acha que é um erro crasso. Acha que, a ser assim, não teria havido Watergate, caso Moderna, caso Casa Pia.

Acha, porque não percebe nada de nada.
Todos os exemplos que deu revelam uma profunda ignorância sobre aquilo que é um processo judicial e o segredo de justiça (a liberdade de informar devia antes de tudo ser a liberdade de perceber minimamente as coisas antes de sobre elas produzir afirmações definitivas).

Nenhum destes casos teria sido afectado pelo facto de os jornalistas estarem obrigados a respeitar o segredo de justiça, pela simples razão de que, quando nestes casos os jornalistas investigaram e levantaram suspeitas, não havia nenhum processo sob segredo de justiça!

Para haver segredo de justiça a respeitar é preciso que haja um processo judicial (judicial!) sob segredo de justiça. Ou será que para o esperto Delgado tudo o que tem conotações com a “justiça” está automatica e necessariamente sob segredo de justiça?

Como era de esperar, na sequência das últimas intervenções de Jorge Sampaio, o poder corporativo dos jornalistas está a fazer-se sentir como nunca. E, por mais que o Presidente da República e outras pessoas de bom senso apelem ao dito, nada irá mudar. A classe política morre de medo dos jornalistas e, por isso, vai deixar andar. E, mais grave, com a consciência de que está a deixar andar.

1.19.2004

primeiro, gosta-se. depois, gosta-se muito

É comum a quem gosta de música ostentar que não gosta do Bolero de Ravel. Perante os outros, reconhece-se que é uma das grandes peças de orquestração, mas, por entrar tão bem, insiste-se em negar o gosto por música tão fácil de gostar. Um guilty pleasure que se carrega, por vezes, até à morte.
No último disco de Rufus Wainwright (WANT One), há uma música - Oh What A World - da qual é impossível não se gostar à primeira. Também mete o Bolero (a emergir gloriosamente no fim depois de, até aí, em constante ameaça, se insinuar), mas é melhor do que o Bolero. É pomposa, com arranjos sofisticados, um ritmo marcado a tuba e vozes sobrepostas em vários tons. É uma música perfeita, depois de A música perfeita chamada Greek Song que há uns anos o mesmo Rufus criou.
Ouve-se e gosta-se logo. Repete-se e gosta-se mais. Sem vergonha de o dizer.

1.16.2004

Miami? Scarface?


1.13.2004

Miami. Em grande e à grande

Chama-se a atenção para duas edições recentes onde a cidade de Miami é a estrela.
Primeira: A Big, uma das mais bem concebidas revistas não se sabe bem de quê (todos os números têm um tema, mas os temas não têm nada que ver uns com os outros), dedica o seu n.º 47 a Miami. São dezenas de páginas de fotografias, sublinhadas por diálogos raramente perceptíveis a não ser para os locais. É uma “reportagem” feita por quem vive a e na cidade, onde se fala de uma suposta Miami crisis, a propósito do crime, da cocaína e das putas. Não há como ver para desconfiar.



A segunda: Um caixote com a edição super especial em DVD do Scarface de Brian de Palma.
Não consigo perceber como é que este filme foi, e é, tão maltratado por tanta gente que gosta de cinema. É violento. É excessivo. É abundante. E então?
Quase todos os planos são obras-primas da fotografia, com as cores vivas para retratar os excessos em que se vive. A música de Giorgio Moroder - que procura e consegue dar profundidade ao personagem selvático de Al Pacino - é fora de série e um pastiche electrónico da banda sonora de Barry Lyndon (outro grande filme sobre ascensão e queda). Pacino, no seu ambiente mais propício, arrasa na pele de Tony Montana, um personagem latino, explosivo, desequilibrado, muito dado ao overacting, que nos provoca os mais diversos e contraditórios sentimentos, da repulsa à admiração, da adrenalina a uma enorme solidão. A propósito de solidão, fica para sempre a sequência em que Tony Montana, depois de matar o seu promotor, vai ter com Michelle Pfeiffer e, na madrugada de Miami, numa varanda sobre a baía, olha embasbacado para o Zeppelin da Goodyaer onde corre a frase “the world is yours”.
No fim, o mundo é dele. Mas aí ele percebe que nem o mundo lhe chega.

1.12.2004


Ainda o melhor de 2003
A melhor capa: 600% Dynamite
... e uma das melhores compilações do ano.
A Soul Jazz é daquelas editoras em que podemos confiar a 100% (200%, 300%, etc). Qualquer disco é, no mínimo, bom, e, no máximo, como muitas vezes é, imperdível. Este é mais um desfilar de grandes músicas, de nomes mais ou menos conhecidos do reggae, rocksteady, funk, dancehall, toasters, Dj's e por aí fora. É só pô-lo a bombar e o mundo começa a andar à volta.


1.06.2004

Jorge Sampaio - capaz do melhor e do pior

A fechar o ano, o pior. Indultar uma abortadeira que, de forma usurária, explora a desgraça alheia e, para mais, rouba medicamentos de hospitais públicos, não é forma aceitável de um presidente lutar pelas suas convicções, sejam elas quais forem.
O melhor. Dar um apertão à comunicação social a propósito do último episódio lamentável do “caso Casa Pia”, é algo que tinha que ser feito. E Jorge Sampaio fê-lo com autoridade e nível.
Há algum tempo que defendo que, pelo menos em certos processos, se deve estender o segredo de justiça à publicação ou divulgação nos média de factos que devem estar sob segredo de justiça, independentemente da fonte de onde provêm. Desta forma, acabava-se com a especulação sobre quem viola o segredo de justiça e sobre quem alimenta os jornais e televisões com estas matérias, pois, em qualquer caso, fosse quem tivesse sido, jornais ou televisões que divulgassem tais factos ficariam sujeitos a punição.
É ingénuo achar que um jornal, só por ser um jornal, vai ter um critério de bom senso na escolha daquilo que publica. Porque razão é que um advogado que tem acesso ao processo não pode divulgar o que sabe, inclusive à sua mulher, e um jornalista que tem acesso a uma “fonte” que tem acesso ao processo pode publicar impunemente tudo o que está em segredo de justiça, como se fosse uma lavandaria branqueadora do segredo de justiça, que acaba por sujar (de forma acentuada e por vezes irreparável) todos aqueles em defesa dos quais o segredo de justiça foi instituído.
Não se venha com conversas sobre censura. Os jornais são feitos por homens que, tal como eu, todas as pessoas e, até, o Presidente da República, são capazes do melhor e do pior.
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