3.31.2004

Bring it All back Home

Na minha relação com os discos (diferente da relação com a música) há um misto de compulsão, hesitação e angústia. Sou um daqueles compradores/coleccionadores compulsivos que, em qualquer cidade do mundo, quer conhecer as melhores lojas de discos e, uma vez lá dentro, tem vontade de comprar tudo aquilo que gosta, ou acha que vai gostar. Hesito, quando, por limitações físicas e económicas, concluo que não posso ter de uma só vez todos os discos que quero – a escolha de um disco é sempre a preterição (pelo menos provisória) de um outro – até porque, muitos dos discos que quero são discos que nem sei ainda que quero. A necessidade de decidir, obriga-me a recorrer a alguns critérios, não hierarquizados, nem coerentes, para tentar a cada instante tomar a opção correcta. Tentar, digo bem, porque o dilema nem sempre tem a melhor saída. Nesse instante, em que tento fazer a(s) escolha(s) certa(s), sou assolado por uma angústia, agravada por um dos critérios de escolha que mais constantemente uso e que consiste em intuir qual a probabilidade de, ao não comprar um determinado disco num determinado momento, estar a fazer um disparate do qual mais tarde me irei arrepender, por o disco em causa desaparecer, esgotar ou indisponibilizar-se. Sou, como facilmente se percebe, o alvo perfeito para a praga das limited editions made available for a limited time period only com que a indústria discográfica tenta fazer render os fundos de catálogo.
Quando se tratam de discos de que gosto mesmo muito e que, por alguma razão, representam a minha história da música, a ânsia de não deixar escapar nada leva-me a comprar várias versões do mesmo. A primeira, porque gosto da música; uma nova, porque é remasterizada (burro!, muitas vezes burro); outra, por ser uma edição japonesa com aquelas capas a imitar um LP; mais uma, porque tem músicas extra, lados b de singles, demos, versões de ensaio; mais outra, porque o booklet tem novos textos e fotografias; para não falar dos vinis, onde a saga se repete com as edições em prensagem alemã, quadrifónicas ou de 200 gramas para audiófilos.
‘Porque é que vais comprar outra vez este disco?’‘Mas... esse já tens! Vários, aliás’, – são perguntas em tom vagamente desinteressado perante a compra da 7ª versão do Atom Heart Mother ou de mais uma edição definitiva do White Album. E a resposta, dada de forma súbita mas não brusca, segue sob a forma de um: ‘Porque sim’. – Logo acrescido de um: ‘Porque este tenho a certeza que é bom’ – com a voz na maior das calmas para não ferir uma sensibilidade ingénua e civilizada.
‘Já sei, já sei. Encontramo-nos daqui a duas horas à porta’ – É o comentário resignado à entrada da Other Music, Meca dos discómanos, onde, juntamente com vários alucinados como eu, instalo-me num fim de tarde de sexta-feira para vasculhar e abastecer: do milagroso disco de Damien Rice, de mais uma edição de Tin Drum (‘especial’ e ‘limitada’ com disco extra e novas versões), da última caixa do monumental legado de Miles Davis – as complete sessions de In a Silent Way – e de mais uns discos que o Gerald (uma enciclopédia ambulante) me aconselha.
O que faço eu aqui? Porque compro discos e continuo a comprar discos? Pus-me então a pensar.
Para me martirizar? Não – Por hábito consumista? Também não – Porque gosto, ou acho que vou gostar, da música? Certo.
Mas, acima de tudo, porque, apesar da angústia (ou, talvez, por causa dela), a única coisa melhor que ouvi-los, é comprá-los.


3.30.2004

Perguntas fáceis de resposta instantânea (ii): quando pensas em aeroportos americanos, pensas em quê? Judeus ortodoxos vestidos a rigor.


Perguntas fáceis de resposta instantânea: qual a capa de disco recente que mais faz lembrar a imagem de um blogger? O último Squarepusher.

3.25.2004

3.22.2004



O melhor dos dois mundos (ou, de dois mundos)
Ouvi dizer que vai sair uma ‘edição especial’ de Paris, Texas. Parece, assim, que iremos poder rever como uma certa sensibilidade artística da velha Europa conquistou e devorou uma certa América que a fascina e a põe a mexer, mesmo quando por aquela é odiada. Wim Wenders (não me canso de o citar) foi desde cedo um cultor da América mítica, da sua grandeza que não apenas física, mas ao contrário de muitos que contra ela vociferam e mais ou menos às escondidas dela se alimentam, Wenders desde cedo a compreendeu, a apreendeu e a admirou sem que a ela alguma vez se tenha vendido. Se quisermos fazer as pazes, todos, podemos começar por ver ou voltar a ver Paris, Texas. A verdadeira paz pode encontrar-se à deriva num deserto em cinemascope sob o som agudo de uma slide guitar.







a fotografia (fabulosa) é ainda de Wim Wenders

3.21.2004



Looser
Se Captain Beefhaert andasse de skate e, por um momento, pensasse fazer hip-hop, chamando para a sua Magic Band um tocador de citara, teria acontecido aquilo que de facto veio a acontecer.
Há dez anos, o mundo e este nosso canto tiveram o prazer de ouvir pela primeira vez uma das maiores músicas de sempre e com ela ficarem a conhecer o verdadeiro funk soul brother.
Deixem a bola em paz
Há cerca de quinze dias atrás, o PS criticou duramente a escolha pela coligação PSD/PP do slogan ‘Força Portugal’, argumentando tratar-se de mais um exemplo da promiscuidade entre o futebol e a política, ou não fosse o slogan ‘Força Portugal’ o mesmo que, em ano de euro doméstico, aparece estampado em muitos dos cachecóis da selecção portuguesa de futebol.
Criticou e criticou muito bem, pois, para além de ser um slogan politicamente vazio que não distingue a coligação e o seu programa de nenhum outro partido (em princípio todos os partidos querem o que julgam ser melhor para o país), é uma notória chico-espertice (como assinalou o PAS) onde, não tenho dúvidas, se tenta aproveitar a onda do campeonato da Europa.
Mas, se o ‘Força Portugal’ do PSD/PP é lamentável, o que dizer do ‘Assim não, Dr. DURÃO’ do PS, onde a frase citada aprece inscrita num ‘cartão amarelo’ que uma mão mostra a quem para ela olhar? O que dizer, se não que é igualmente de lamentar.
Mais uma vez, entramos no domínio do uso das metáforas futebolísticas na linguagem política, sempre com a ideia subjacente (e não de todo errada) de que o povo é ignorante e como tal compreende melhor aquilo que vê e ouve na bola.
Não contesto que este método possa dar resultados – o Major Valentim e os publicitários que agora controlam as campanhas partidárias que o digam –, mas, para mim, é pena que assim seja. Ganhar votos não deveria ser o mesmo que vender telemóveis.
Soares é fixe, faz surf em ondas para si já demasiado altas e, está claro, molha-se
Tentando precipitada e freneticamente cavalgar na onda de Zapatero, Soares consegue ser muito, mas mesmo muito mais Zapatero que o próprio Zapatero.
Um tiro quase certeiro

A propósito da vontade em dialogar e negociar com a Al-Qaeda expressa por Mário Soares, o Diogo recordando (e muito bem, porque estas coisas devem ser recordadas para não serem repetidas) a triste iniciativa que aquele teve quando impôs ao parlamento a amnistia dos crimes de terrorismo das FP25, conclui que pior do que dialogar com a Al-Qaeda seria amnistiá-la.

Ora, sendo verdade que no caso da amnistia a Otelo houve um claro ataque aos direitos fundamentais dos cidadãos, como sejam os de ter um sistema de justiça que funcione livremente, sem interferências políticas e sem submissão a critérios de amizade, sobretudo quando estão em causa crimes que atentam conta o próprio estado de direito, não é menos verdade que na base da ideia de Soares de dialogar com a Al-Qaeda está igualmente uma ideia de amnistia.

Quando se diz, como Soares diz, que é preciso dialogar e negociar com a Al-Qaeda, e compreender os seus motivos e as razões do seu descontentamento, está subjacentemente a dizer-se (mesmo que não tenha sido essa a directa intenção, o que acredito) que é preciso passar uma esponja sobre aquilo que a Al-Qaeda já fez, esquecer as suas anteriores acções, os seus anteriores atentados, pois só assim seria possível dialogar de igual para igual, que é como os diálogos devem ser tidos. É facilmente perceptível que o dr. Soares não está a falar de um diálogo em que ele se apresentaria como homem livre e os seus interlocutores da Al-Qaeda, sejam eles quais forem, se apresentariam atrás das grades. Para 'diálogos' desses, é sabido, estamos quase todos dispostos.

Soares, ao dizer o que disse, mostra que na sua cabeça já amnistiou a Al-Qaeda por aquilo que ela até agora fez.

Por isso, meu caro Diogo, ao mau que o diálogo neste caso é, tem que adicionar-se a pior e prévia amnistia mental que despoleta a intenção de o encetar. Neste caso, não se pode dizer ‘pior que o diálogo seria a amnistia’, pela simples razão de que antes da sugestão de diálogo já teve necessariamente que haver uma dose de amnistia.

3.18.2004

A angústia de um eleitor a dois anos das presidenciais

Quem não quiser votar no Eng.º Guterres nas próximas eleições presidenciais tem sérias razões para se sentir preocupado com a perspectiva do que estas poderão vir a ser, preocupação que em nada diminui depois da entrevista de Cavaco na SIC; antes pelo contrário.

Cavaco não diz nada. Não estou a referir-me à legítima recusa em dizer se é ou não candidato a presidente – coisa que já sabíamos que ia acontecer –, mas sim ao facto de não dizer nada que não seja dizer que nada diz. Cavaco não pode pronunciar-se sobre isto, porque não fala sobre aquilo; não faz juízos de valor, porque não é de bom-tom; não tem posição sobre a maioria das coisas, porque está afastado da política; não faz comentários, porque está bem na vida e com a vida; limita-se tão só a debitar meia dúzia de banalidades, umas requentadas, outras decorrentes do estilo politicamente correcto que está a tentar adoptar, a partir das quais (tal como a partir dos silêncios) os jornalistas especulam tentando adivinhar as suas intenções e ler o seu pensamento.

O actual cenário não é bom. A estafada novela Santana Lopes somada à expectativa criada por aqueles que dele nem ouvir falar querem, sobre a candidatura de Cavaco (e alimentada pelo próprio), está a dar cabo da possibilidade de vir a existir uma alternativa credível da direita e do centro direita para as presidenciais.

Tem vindo a criar-se a ideia absurda, de que, à direita, a única possibilidade para evitar Santana é a candidatura de Cavaco, e como esta, pelas características do candidato, pode ser lançada até ao último momento, não vale a pena fazer mais nada – ou Cavaco avança quando avançar e Santana salta fora (a bem ou a mal), ou Cavaco não avança e Santana tem, inevitavelmente, o caminho livre, pois ninguém mais lhe poderá fazer frente.

Erro crasso. Não só há outras pessoas na direita que podem ultrapassar uma candidatura de Santana, como não é certo que à direita Cavaco seja a melhor solução para o país, sendo como tal pequeno e modesto termos que à partida nos limitar a estas duas hipóteses. É que, se face a Santana, Cavaco é um bem maior, em abstracto Cavaco (sem prejuízo das suas qualidades e do bom trabalho que já fez) está progressivamente a tornar-se num mal menor, sobretudo nesta sua versão blasé, ainda mais paternalista e ainda menos ideológica.

(O actual Cavaco e o tom das suas intervenções fazem pensar num avô condescendente que pondera, por especial favor, abdicar por uns tempos do conforto da sua cadeira de baloiço para vir ajudar os meninos mal comportados a fazerem os trabalhos de casa e a encontrarem o caminho do sucesso, se eles lhe pedirem muito e meuitas vezes)

O problema é que, ao contrário de Cavaco – que poderá avançar com hipóteses de sucesso para as eleições até pouco tempo antes da sua realização (os tais seis meses) – um outro candidato da direita terá que começar a trabalhar e a mostrar-se mais cedo, não só para encostar Santana, como, sobretudo, para ter a possibilidade de vencer o candidato que a esquerda unida vier a apresentar.

É desta indefinição que Santana vai fazendo a sua grande aposta e é perante esta indefinição que quem não se revê em nenhum destes possíveis candidatos (embora na opção entre um e outro não haja hesitação possível) vai sentindo a sua angústia. Santana sabe que, se Cavaco avançar, terá poucas hipóteses, não tendo nada a perder em impingir-se como seu único suplente; o eleitor angustiado sabe que, enquanto Cavaco não se define, ninguém se atreve a sequer pensar em candidatar-se, sendo que, se Cavaco avançar é Cavaco o candidato e se Cavaco não avançar e apenas comunicar tal decisão a pouco tempo das presidenciais, Santana ficará sozinho em campo por não mais haver tempo para montar uma candidatura alternativa.

Com este panorama nada animador, restar-nos-á (àqueles que definitivamente não querem Santana e apenas a custo engolirão Cavaco) usufruir dos últimos anos de presidência de Jorge Sampaio que, quanto a mim pela primeira vez, conseguiu dar algum sentido (apesar de todas as diferenças políticas) ao chavão ‘presidente de todos os portugueses’.
Ouvir o quê?
Na sequência do poste de ontem, nova pergunta.
A resposta segue em três capítulos:



Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven
Godspeed You Black Emperor



Millions Now Living Will Never Die
Tortoise



Camoufleur
Gastr Del Sol

3.17.2004

O que é o pós-rock?

Por entre perguntas escusadas como ‘do you want to meet a woman tonight?’, propostas baixas para gang bangs (‘órgias’ em português), e afirmações bruscas e mentirosas como ‘you need me! You just dont know me’, de umas tais de Kelly UpTops, Busty Britney ou Cindy Guns, a minha caixa de hotmail (nunca um nome foi tão apropriado), recebeu uma mensagem de uma leitora, que me coloca a seguinte questão: ‘afinal, o que é essa coisa do pós-rock?’

Para melhor responder a esta pergunta, em vez de recorrer à invenção, vou antes socorrer-me de um artigo sobre a matéria, há anos publicado nos Inrockuptibles.

‘Faire du post-rock, c’est facile. Prendre un group de rock traditionnel et, dans l’idéal, originaire de Chicago. Tuer le chanteur. Placer la section rythmique au centre de la pièce. Eventuellement, mettre un bassiste de formation à la guitare ou remplacer cette dernière par des claviers, des cuivres ou même une deuxième basse, une forêt de bambous, un poste de télévision, un ventilateur ou tout autre ustensile électroménager. Avec les instruments de musique, jouer les mêmes notes dans des octaves différentes, tout en répétant des motifs rythmiques. Avec le reste, laisser courir son imagination. Oublier la pendule. Rechercher l’hypnose, la pulsation. Essayer de toucher ses jambes avec son cerveau. Quand le résultat désiré est obtenu, séparer la formation et envoyer chacun des membres créer un nouveau groupe de post-rock. […]’

‘Tocar pós-rock é fácil. Há que pegar num tradicional grupo de rock, de preferência, oriundo de Chicago, matar o cantor e pôr a secção rítmica no centro da cena. Eventualmente, colocar um baixista de formação na guitarra ou substituir esta por teclas, metais, ou mesmo um segundo baixo, uma floresta de bambu, uma televisão, uma ventoinha ou qualquer outro electrodoméstico. Com os instrumentos musicais, tocar as mesmas notas em oitavas diferentes, repetindo os motivos rítmicos. Com o resto, deixar funcionar a imaginação. Esquecer o pêndulo; procurar a hipnose, a pulsação; tentar tocar as pernas com o cérebro. Finalmente, quando for obtido o resultado desejado, separar o grupo e mandar cada um dos seus membros criar um novo grupo de pós-rock [...]’
(tradução apressada para quem não perceber nada de francês)

Esclarecida? Eu também não. Trata-se de um tema que parece complicado, e é.
O pós-rock é uma música tocado por gente que ouviu muitos discos de diferentes proveniências – de Brian Eno a John Fahey, do folk ao dub, de Bristol a Düsseldorf - e que, sendo por um lado rock, por outro, procura e consegue ultrapassar o clássico esquema de verso, refrão, verso, verso, refrão, refrão.
Mas, como diria uma certa mulher que mais parece um cavalo, isso agora não interessa nada.
Então o que é que interessa?
Interessa ouvir.

3.16.2004

There is a war
'There is a war between the ones who say there is a war
and the ones who say there isn't '

Leonard Cohen
New Skin For Old Ceremony, 1974
Abandonar?
Mesmo que se tenha sido contra a guerra do Iraque - e há muito boa gente boa que foi - é preciso não agir cobardemente nesta altura. Abandonar o Iraque assim, sem mais, seria meio caminho andado (ou melhor, todo o caminho andado) para tornar a vida da gente que lá vive, de novo, num inferno.
Quanto mais não seja pela responsabilidade que a guerra trouxe a quem a fez e apoiou, os que estão lá, lá devem ficar, até que seja possível entregar aos Iraquianos um país no qual se possa viver.
Ao rejeitar a saída dos soldados portugueses do Iraque, uma vez mais, Jorge Sampaio esteve bem.
Um Instante!
Um dos melhores textos sobre cinema. Escreveu-o Jean-Luc Godard (quem mais poderia ter sido) sobre Ingmar Bergman (sobre quem haveria de ser) nos Cahiers du Cinema (onde se não aqui).
Um excerto:
‘[...] Un film d’Ingmar Bergman, c’est, si l’on veut, un vingt-quatrième de seconde qui se métamorfophose et s’étire pendant une heure et demi. C’est le monde entre deux battements de paupières, la tristesse entre deux battements de couer, la joie de vivre entre deux battements de mains.’*

[...] Um filme de Ingmar Bergman, é, se se quiser, uma fracção de segundo que se transforma e se estende ao longo de uma hora e meia. É o mundo entre um abrir e fechar de olhos, a tristeza entre duas batidas de coração, a alegria de viver entre dois aplausos.
(tradução apressada para quem não percebe mesmo nada de francês)

*La politique des auteurs. Les Textes.
Petite bibliothèque des Cahiers du Cinema. 2001
Uma posição muito clara
Um amigo meu insurgiu-se contra a possibilidade de virem a ser colocadas câmaras de filmar nas ruas. Como diria um outro amigo meu, quanto a essa matéria a minha posição é muito clara: se servirem para aumentar a segurança, aceito-as. Até porque prefiro um Big Brother a seguir-nos do que nós a seguirmos o Big Brother.

3.15.2004

Questões para averiguar sobre o grau de má fé

Duas questões levantam-se, face aos resultados das eleições em Espanha:
1- Os atentados tiveram influência nos resultados?
2- De que forma é que os atentados influenciaram os resultados?

A resposta à primeira questão parece ser clara; pouca gente dirá que os atentados não influenciaram, directa ou indirectamente, o sentido de voto dos espanhóis.

Já a resposta à segunda questão, não parece ser tão simples. Vejamos:
Pode ter ocorrido um de dois cenários totalmente diferentes:

A) Alguns espanhóis terem alterado o seu sentido de voto – de um partido para outro, ou da abstenção para um partido – como consequência directa dos atentados, procurado, com tal alteração, evitar a vitória do partido que julgavam mais os poder expor a outros atentados, ou beneficiar o partido que pensavam ter uma política que no futuro melhor prevenirá novos atentados.

Neste cenário e seguindo esta a linha de raciocínio, entrariam as reacções tipo: se o PP apoia os EUA na guerra do Iraque e os atentados visam punir os aliados dos EUA, então o melhor é votar contra o PP.

Em minha opinião, não foi essa a influência decisiva que os atentados tiveram nas eleições. Talvez ingenuamente, não considero os espanhóis cobardes ao ponto de ceder a este tipo de coacção primária.

B) Alguns espanhóis terem alterado o seu sentido de voto em reacção directa, não aos atentados propriamente ditos, mas à forma como a informação sobre estes lhes foi dada, nos dias seguintes à sua ocorrência, pelo governo PP.

Estes espanhóis terão entendido que o governo não jogou limpo e tentou manipular informação procurando daí retirar benefícios eleitorais para o partido, através, nomeadamente, da insistência em que havia sido a ETA a autora, ou a principal autora, dos atentados. Pessoalmente, inclino-me mais para que a resposta passe por aqui.

Mas as dúvidas não por aqui; chegados a esta conclusão, cabe fazer a pergunta fundamental:

É ou não verdade que o Governo tenha manipulado as informações de que dispunha sobre o atentado? Ou melhor, houve de facto manipulação, ou ter-se-á antes criado artificialmente a ideia (falsa) de que estava a haver manipulação?

Para responder a esta questão - em meu entender essencialíssima - é necessário dar resposta às interrogações que JPP enumera:

'Seria bom que o novo governo do PSOE, ou o novo parlamento, esclarecesse a sequência fidedigna de informações que chegavam ao governo, se houve ou não razões operacionais para não divulgar algumas, se houve ou não manipulação política na utilização ou sonegação de dados pelo governo, que informações foram dadas e em que tempo real ao líder da oposição, qual o grau de consultas mútuas, como e quando foram decididas as conferências de imprensa e outras declarações de responsáveis governativos, que instruções foram dadas à investigação, que certezas ou incertezas foram transmitidas pelos serviços de informação e pela polícia ao governo. Se não, ficamos com as "fontes" cirúrgicas da Cadena Ser, ou com a sensação de manipulação do PP. Esclarecer, para o ar ficar mais limpo.'

É que, da resposta àquela e a estas questões – partindo do principio que os atentados influenciaram o voto dos espanhóis – depende muito daquilo que irá passar-se no nosso futuro.

Com efeito, uma coisa é saber se os resultados de umas eleições podem ser condicionados à lei da bomba, ou por erros grosseiros, ainda que ao cair do pano, do governo que está em funções, outra, totalmente diversa é saber se, partindo das bombas, foram os media (com eventual auxilio da esquerda radical) a condicioná-los, criando uma ‘realidade’ que na verdade nunca existiu e que, em três dias e três noites, deu a volta a um resultado mais que previsível.

Essa é a dúvida que eu gostava de ver esclarecida, e para cujo esclarecimento o PSOE deve fornecer todos os elementos, sob pena de a história ser, afinal, ao contrário daquela que agora nos tentam contar.
E se mudássemos de assunto
Se do terrorismo pós-moderno passássemos para o já não tão moderno pós-rock?



Upgrade & Afterlife
Gastr del Sol



The Sea and the Cake
The Sea and the Cake

3.12.2004

Conselhos para distrair o masoquismo

O Alberto Gonçalves, fã dos Magnetic Fields, não precisará de grandes conselhos musicais. Mas sendo um ocasional ‘ouvinte’ (aspas porque sim) da tsf, sugiro os seguintes discos em alternativa a alguns dos emblemáticos programas dessa rádio de ‘serviço público’ (aspas porque me apetece):

2 Many DJs (qualquer volume) – para substituir os fóruns matinais. Em ambos os casos o barulho é muito; no primeiro a música é geralmente boa e no segundo a conversa é geralmente péssima

Frank Sinatra (qualquer disco da primeira fase) e Johnny Cash (qualquer disco da última fase) - para ouvir em vez dos instantes, momentos, sinais, lugares, o que seja, do Fernando Alves ('Estava uma manhã radiante quando Bill Clinton, sorridente, se aproximou da catraia e lhe pôs a mão no cocuruto"). Duas Vozes em vez de um vozeirão

Laurie Anderson (Big Science ou outro qualquer) - à hora do De Freud para Maquiavel. Pretenciosismo por pretenciosismo, que seja do Lower East Side

Cuckooland de Robert Wyatt – em vez dos noticiários. Esquerdistas facciosos por esquerdistas facciosos, é preferível ouvir um grande disco do que ouvi-los de hora a hora

Fearless (Pink Floyd, 3ª música do álbum Meddle) – para quando estiver a dar aquele fórum da bola (cujo nome não me lembro) que invariavelmente começa com a frase “boa noite sr. Fernando Correia, antes de mais quero dar os parabéns por este espaço de debate e de cidadania”, e inevitavelmente acaba com a malta a insultar-se reciprocamente e o pobre Fernando Correia a ter que, constrangido, cortar-lhes o pio. Futebol por futebol, antes o You'll Never Walk Alone em versão pré-Heysel, que os nossos hooligans de serviço ao comentário
Passion
Por ora, preocupa-me pouco a qualidade cinematográfica do filme que, em qualquer caso, ainda não vi. Por ora, interessa-me acima de tudo o clima de censura que sobre ele, em Portugal, se está a abater.
De repente, a esquerda bem pensante impressiona-se com o sangue e indigna-se com o suposto mau tratamento que é dado aos judeus. Bastou a Igreja ter dado o seu aval ao filme para que os argumentos começassem a proliferar – é porque é realista, é porque é literal, é porque é violento, é porque é anti-semita, mas no fundo, é porque é sobre Jesus Cristo e, por uma vez, retrata-o como humano e retrata o seu calvário tal como no evangelho é descrito. E isso, para os anticlericais primários, é difícil de engolir.
A imagem de um homem a levar porrada sem reagir não se enquadra nos seus planos para o cristianismo.
Medo ou a eficácia do terrorismo
Entre os Portugueses há muita cobardia. Um dia depois dos atentados em Madrid, aquilo que parece mais os preocupar, genuinamente mais os preocupar, é a possibilidade de Madrid ter sido uma vingança pelo apoio da Espanha aos EUA na guerra do Iraque e, a ser assim, podermos, também nós, ser alvo de tal vingança.
Em Portugal, não seriam necessários muitos atentados para que um terrorista conseguisse impor a sua vontade.

3.11.2004

Temos que continuar a ir a Bali surfar
Temos que continuar a andar de avião
Temos que continuar a trabalhar no 90º andar de um arranha-céus em Nova Iorque
Temos que continuar a apanhar o autocarro em Telavive e, na paragem, a esperar que ele chegue
Temos que continuar a andar de metro e de comboio em Madrid
Temos que continuar

3.10.2004



Novidades

'[...] Precisamos de novas fraudes, novos crimes, novas atrocidades, novas doenças, novas mulheres peladas, novo tudo. Velho, dentro em breve, será tudo o que durar de um dia para o outro.'

João Ubaldo Ribeiro


Palavras recorrentes

'A linha é formada por um número infinito de pontos; o plano por um número infinito de linhas; o volume por um número infinito de planos; o hipervolume por um número infinito de volumes... Não, este more geometrico não é, com certeza, a melhor forma de iniciar a minha narrativa. Afirmar que uma coisa é verídica está dentro das convenções de toda a narrativa fantástica; ora acontece que a minha é verídica.'

O livro de areia
Jorge Luís Borges

3.08.2004

Aliens

Após rever em DVD a Alien Quadrilogy, fui ler novamente um artigo que há uns meses havia sido publicado na Sight & Sound, do qual faz parte o seguinte excerto:

[…] 'On top of this, there are a range of fanciful contemporary readings of the 'Alien cycle', such as the 'Three Presidents Theory', which locates the first three movies within the decade of their release and attributes to each the obsession of the dominating US president of the period. Thus the gung-ho action of James Cameron's marines-in-space romp Aliens (1986) is interpreted as mirroring the military warmongering of the Reagan regime, while the lethal Aids-infected eroticism of David Fincher's Alien3 (1992) prefigures the sexual obsessions of Clinton's promiscuous premiership.
Meanwhile Ridley Scott's original, with its subplots of corporate corruption and interstellar double-dealing, is aligned with the post-Watergate paranoia that infected America in the wake of Richard Nixon's resignation in 1974. For those who buy who buy into this theory, the current release of Alien: The Director's Cut fuels parallels between the election-fixing antics of Nixon and his campaign in Vietnam and the suspicious aroused by George W. Bush's election victory in Florida and his subsequent prosecution of a controversial war in Iraq. Add to this the search for potential weapons of mass destruction in the form of the alien bugs for which The Company sends Ripley and her crew mates into hostile foreign lands, and Alien: The Director's Cut begins to seem surprisingly contemporary in its preoccupations.' […]

Nenhum comentário, apenas uma constatação: o último filme – Alien Resurrection (diga-se de passagem, o mais cronenberguiano de todos) – acaba com a imagem de um mundo pós apocalíptico, onde é possível ver a Torre Eiffel partida ao meio.

3.07.2004

Um selvagem
Eu percebo o que é que o No Quinto dos Impérios (pelo teclado do Diogo) quer dizer com este post. Percebo e estou de acordo – no que respeita aos processos-crime em que Avelino é arguido, quero que se faça justiça.
Mas quando a conversa é sobre Avelino, as coisas não podem ficar por aí. Avelino, para além de ser arguido em vários processo-crime – nos quais, repito, quero que se faça justiça – é militante do PP, faz parte do seu (nado morto) senado, é um dos pouquíssimos presidentes de câmara eleitos que este partido tem, e, acima de tudo, é um selvagem, não só na sua vida pessoal e privada (presunção inilidível, pois nunca privei com o personagem), como, mais grave, na sua vida publica e politica.
Avelino é primário e com o seu, reiterado e sistemático, vergonhoso comportamento, arrasta para a lama todos aqueles que a ele aparecem associados, a menos que dele se demarquem de forma clara, inequívoca e irreversível. O que eu quero dizer é que as pessoas do PP que se prezam e prezam o partido, tem que, não só condenar veementemente Avelino, como, expulsá-lo do partido e, obviamente, nunca mais o apoiar em qualquer eleição que seja.
A um político não basta ter votos. Para mim, ter votos nem sequer é o mais importante. Antes, durante e depois disso, é fundamental que o político tenha um mínimo de educação, de civismo, que não nos envergonhe pelo simples facto de existir, que não se porte como um bicho. E Avelino não preenche nenhum destes requisitos, pelo que não pode, em circunstância alguma, ser politicamente apoiado por um partido que queira ser respeitado.
Muita gente diz que são políticos como Avelino que afastam os cidadãos da política. Em parte esta ideia está certa - a maioria das pessoas capazes tem cada vez menos vontade de intervir na política, para não correr o risco de ver-se misturada com o tipo de gente de que Avelino é exemplo. Mas, essa ideia, não é totalmente correcta. Há uma fatia da população, que por ser também ela primária e boçal, vota em Avelino por com ele se identificar.
Nestes casos, em que o povo é quem mais ordena, só resta aos partidos que se querem respeitáveis, dentro daquilo que está ao seu alcance, procurar evitar que os Avelinos deste país continuem a representar seja quem for.
Neste caso, fiquei pacientemente à espera da reacção do PP à última javardice de Avelino, e à espera continuo. Até agora ninguém do PP disse nada de fundo sobre a questão, e, pelo tardar da reacção, temo que a próxima vez que o PP venha pronunciar-se sobre Avelino seja nas próximas autárquicas, ao lado dele, a apoiá-lo na eleição para uma qualquer câmara.

3.05.2004



Duas ou três coisas que sei sobre ela


Le
langage,
c'est la
maison dans
laquelle
l'homme
habite



Le mariage,
c'est donner
ses
seins
et ses
jambs

------------------------------------"Tou bi or
----------------------------------------Not tou bi
------------------------------------------Contre votre poitrine
-------------------------------------It iz ze question"

Em Junho, as guitarras eléctricas vão soar alto. Prevê-se uma nova revolução (cada vez mais) tranquila.

3.04.2004



Depois da selva e antes do silêncio
1974. Há trinta anos era editado Get Up with It. Depois, Miles Davis chegou a dizer que ‘um certo dia, todos os músicos de jazz deveriam juntar-se e ajoelhar-se para agradecer a Duke Ellington’. Antes, há trinta anos, em 1974, Miles prestava a sua homenagem estritamente pessoal ao Duke - He Loved Him Madly. Ele é Miles, Ele é Duke, e durante mais de meia hora a música, monocromática, vagueia, calma e compassadamente, hesitando, avançando e dando a impressão que algo está para acontecer, algo que nunca chega a acontecer, a não ser o vaguear calmo da música que hesita e compassadamente avança.

3.03.2004

Só mais algumas perguntas ao trágico e patético dr. Louçã
Hoje na televisão, uma mulher dizia, a rir, que a sua mãe tinha feito 11 (onze) abortos e tido 5 filhos, na mesma televisão onde antes uma outra mulher, ainda a rir, tinha dito já ter feito 15 (quinze) abortos, televisão essa onde mais uma mulher, ainda e sempre a rir, disse que já tinha feito vários abortos e que só não fazia mais porque já não tinha idade para engravidar.
Perante isto, pergunta-se ao dr. Louçã onde está a barbárie e a selvajaria; onde estão os talibãs; onde está a lama e a vergonha?
Queremos saber agora para mais tarde saber com que contamos
Mais do que das suas noites e tardes passadas na hemeroteca, interessa agora saber o que é que o dr. Louçã tem a dizer sobre a criminalização do aborto a partir das 12 semanas. Considerará ele essa lei (que se pretende fazer aprovar), se e quando vier a ser, uma lei justa? Será que, com ela em vigor, irá deixar de insultar publica e repetidamente as pessoas que não pensam como ele, como quando, com o seu mecânico ar trágico, a sua voz sôfrega e grave, diz que é “preciso acabar com a barbárie e com a selvajaria”, sendo bárbaros e selvagens aqueles que defendem a lei que existe. Será que irá ficar calado e quieto quando uma mulher que faça um aborto às 13 semanas venha a sentar-se no banco dos réus? Que diferença para ele há entre um aborto às 11 semanas e um aborto às 13 semanas? Porque é que num caso tratá-lo como crime é uma “barbárie” e uma “selvajaria”, e noutro é “moderno”, “liberal” e “civilizado”? Porquê? dr. Louçã
É bom que estas questões sejam desde já esclarecidas, pois eu não quero crer que daqui a uns anos, se e quando esta descriminalização se consumar, o dr. Louçã venha a clamar por mais modernidade, exigindo que o prazo para abortar livremente seja alargado para as 16, 28 ou 36 semanas, e chamando selvagens e bárbaros àqueles que a ele de novo se irão opor? Não quero crer.
Não quero crer porque - dr. Louçã - os adjectivos "selvagem" e "bárbaro" são para ser usados com rigor, de forma a evitar que no futuro seja necessário alguém vir a público denunciar que em tempos o dr. Louçã andou a defender aquilo que nesse, não desejável mas infelizmente previsível, momento futuro, estará a qualificar como barbaridade e selvajaria.
O que é que isso interessa?
Andar a vasculhar o passado de quem quer que seja para o atirar à cara, é uma coisa demasiado reles, apenas tolerável, pela sua natureza reles, a um reles tablóide. Foi exactamente isso que o BE andou a fazer nos últimos dias na hemeroteca, vasculhando os escritos de Paulo Portas para o confrontar com as suas contradições.
Mas a pergunta que importa fazer é esta:
O que é que interessa aquilo que Paulo Portas pensou sobre o aborto, para as pessoas que se opõe à sua legalização? Em que é que isso as compromete?
Nada e em nada. Só uma esquerda dogmática e habituada a seguir cartilhas de líderes iluminados é que se lembraria de usar este fait divers como argumento. É ridículo pensar que alguém fica embaraçado por outrem em tempos ter dito algo diferente daquilo que agora diz, mesmo que esse alguém seja o mais fervoroso adepto do actual Paulo Portas.

3.02.2004

Batoteiros
Veja-se a batota e o descaramento com que certa esquerda petulante e arrogante que a faz, fala de uma petição contra a despenalização do aborto.
Que eu saiba, e todos sabemos, e eles sabem que nós sabemos, os únicos votos que até agora foram contados nesta matéria, foram em maioria para o NÃO. É, pois, mentira que não se queiram contar votos. Já foram contados e eram mais.
Também quanto à contagem de assinaturas essa esquerda faz batota e mente. Não é verdade que tenham sido aqueles que são contra a despenalização do aborto a começar a discussão das assinaturas. Quem primeiro falou de um certo movimento nacional, ou vaga de fundo, ou lá o que é, para alterar a lei do aborto, baseando-se para tal no número de assinaturas de uma petição, foi essa esquerda. Segundo ela, o elevado número de assinaturas peticionando um novo referendo era a prova de que o país tinha mudado quanto a esta questão.
Que eu saiba, e é bom que eles saibam que nós sabemos que eles vão ter que saber, o número de assinaturas recolhidas numa petição contra a despenalização do aborto apenas lhes foi exibido como contraprova da existência dessa vaga de fundo. Só por isso se fala em assinaturas, ou será que o que vale para um lado não vale para o outro?
Outra batota que esta esquerda sistematicamente faz, é a de estigmatizar os que são contra o aborto e, consequentemente, a favor da penalização do mesmo, insultando-os de radicais e outras coisas do género, sem perder um minuto que seja a distinguir a multiplicidade de razões, de convicções e de posturas que “as pessoas que são contra o aborto” têm. Eu por mim, distingo bem entre os que querem alterar a lei e não recorrem à batota, dos outros, uma minoria, que de tão mediática acaba por parecer maior e que no fundo que não é assim tão fundo se está nas tintas para as pessoas que supostamente defende.

3.01.2004

Na ressaca dos Óscares

O melhor:

O discurso de Sofia Coppola. Por uma vez os obrigados foram para os mestres, Antonioni, Wong Kar Wai, Godard.

O Senhor dos Anéis. Goste-se ou não, tem que admitir-se que isto (também) é cinema, e do bom.

Ben Stiller. Para quando pô-lo a apresentar a festa?

Sean Penn. Ter ganho

O pior:

Sting vestido de seminarista a tocar uma sanfona numa daquelas músicas étnico-new age em que se especializou. O que é feito de...

Bill Murray. Ter perdido
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