11.27.2003

deixa estar

Numas colunas Monitor Audio - daquelas grandes revestidas de cerejeira. Com o volume alto. Não no máximo, apenas alto. À volta da sala ou através do universo. Nua ou não, a música é a de sempre.

It's a constant battle to keep in shape

só uma pergunta. Depois, não falo mais sobre este assunto

Porque é que Facundo Quiroga, defesa titular da selecção argentina - repito, Argentina - não tem lugar na equipa do Sporting?

A loja das revistas

Um dos mais antigos hábitos que tenho é o de comprar revistas. Desde há muitos anos, quando atravessava a cidade, do Campo Grande até aos Restauradores, para comprar o “Guerin Sportivo” - uma revista italiana de futebol recheada de fotografias a cores - que o ritual da ida à “loja das revistas” se repete. Nessa altura, ainda criança, uma ida à baixa era para mim uma verdadeira odisseia. Tudo era grande e distante. O trajecto, em dois autocarros, parecia ser longuíssimo e demorar quase um dia inteiro. Com o passar do tempo, desinteressei-me de comprar revistas de futebol. Já lá vai a altura em que comprava tudo o que havia, desde as clássicas francesas Onze, Football Magazine (sempre com o Platini na capa) e France Football, passando pela tipicamente portuguesa Foot, com as suas fotografias desbotadas e baças e a deliciosa rubrica “mulheres dos craques”, até uma coisa alemã, chamada Kicker, só para ver as bonecos.
Agora, as revistas são outras. São de música, de cinema, de artes plásticas, de viagens. São, esporadicamente, coisas inacreditáveis como a Shock Cinema, a Bizarre e a Easy Riders (sim, essa que é de motas mas é sobretudo de gajas com mamas de fora em cima das ditas motas). Hoje é tudo mais pequeno, mais perto e mais fácil. Mas a “loja das revistas” de ontem continua a ser a mesma de hoje - um corredor cujo nome ainda não fixei (para mim é apenas a “loja das revistas”) à entrada do centro comercial (?) Paladium, logo ao lado do elevador da Glória.
Era, e ainda é, a melhor loja de revistas de Lisboa.

11.25.2003

David Byrne

Até acho interessantes as incursões de David Byrne pelas orquestrações, como no último Lead Us Not Into Temptation.
Mas o David Byrne de que gosto é outro: é o dos ambientes carregados de Fear of Music; é o do funk punk de Remain in Light; é o do cut & paste com Brian Eno em My Life in the Bush of Ghosts.
É o que cantava os dias que passam e a água que corre.

Letting the days go by/let the water hold me down
Letting the days go by/water flowing underground
Into the blue again/after the money's gone
Once in a lifetime/water flowing underground


Once in a Lifetime, 1980

11.23.2003

e para a noite, dentro do mesmo plano


Two Banks of Four

11.22.2003

The Creator Has a Master Plan


É bom acordar e saber disso

ainda a Turquia

JV insurge-se (fundamentadamente) contra a minha vontade em ver a Turquia na UE. Diz-me que não são principalmente económicos os “critérios” que eu menosprezo, mas sociais e políticos, e chuta-me um relatório de 140 páginas sobre os ditos, que, admito, não li. Segundo opina JV, a Turquia ainda não dá garantias de bom comportamento, para além de, em tempos idos, nos ter obrigado a disparar os canhões.
Meu caro,
Confesso que a declaração de apoio à entrada da Turquia no clube, foi feita de forma algo anárquica, sem pensar aprofundadamente sobre o assunto, e movida, não tanto pelo ataque de ontem, mas por uma simpatia que tenho por este país e pelo facto de a sua selecção, de forma injusta, ter ficado fora do Euro2004. Tal não significa, porém, que reconheça ser o que disse, de algum modo, descabido.
Em primeiro lugar, a Turquia (tendo, é certo, uma parte do território na Ásia) fica na Europa. Não é uma questão de correcção política, é uma questão de geografia.
Em segundo lugar, o facto de os turcos terem combatido outros europeus nada releva para o caso. São inúmeras e violentas as guerras que desde sempre houveram entre europeus. Foi, aliás, sobre essas guerras que, século após século, se foram formando e (há que admitir) consolidando os valores que fundamentam parte dos tais critérios que JV, eu e todas as pessoas de bem, consideramos importantes.
Em terceiro lugar e indo aos critérios - sociais, políticos e outros -, quando falamos dos turcos, não estamos a falar de selvagens que no passado, quando a selvajaria reinava, foram importantes. Estamos a falar de gente não muito diferente de nós. Mais civilizada ou menos civilizada, mais boçal ou menos boçal. Talvez não seja má ideia ir lá para conhecer ao vivo e para além dos relatórios.
Concedo que a Turquia ainda tem que “melhorar”. Há algum défice em matérias importantes, que, digo eu, mais depressa será corrigido dentro do que fora.
Mas atenção! A ideia de aplicar indistintamente um modelo único a todos os Estados, tem originado as maiores barbaridades, com consequências fatais para os respectivos povos, em nome da boa consciência dos importadores de modelos de “boa democracia” (veja-se o caso de África). Não se trata de “multiculturalismo” como religião. Trata-se, tão só, de realismo.
Quanto ao resto e bem vistas as coisas, talvez eu não leve tão a sério como isso a “construção” da UE. Pois é. Há dias em que as minhas favorite things são menos de Julie Andrews e mais de John Coltrane. Quase todos.

11.21.2003

ainda (e sempre) Zappa

O ABsurdo(.) continua a sua odisseia em volta do génio. Num magnífico poste (Zappa em quase 20 partes: Conceptual Continuity), Gonçalo Falcão dá-nos uma lista comentada de 21 discos obrigatórios.
A esses, acrescento três:

Weasels Ripped My Flesh (1970)
Esquizofrenia ou a grande salgalhada sónica.


Chunga's Revenge (1970)
Se não fosse por tudo o resto, bastaria a capa.


Make a Jazz Noise Here (1991)
Ao vivo é onde Zappa mais se estica. O título diz tudo.

Istambul

Mais um ataque selvagem. Outra vez as construções silogísticas que levam à responsabilização dos EUA e de Israel. Os primeiros, porque, com a sua política, atiçam os terroristas, provocam-nos, acordam-nos - porque são o verdadeiro alvo, porque são aliados, porque, numa palavra, existem. Os segundos, apenas e só, porque teimam em resistir enquanto nação politicamente organizada dispondo de um território.
Sou favorável à rápida entrada da Turquia na UE. Não interessa tanto se cumpre ou não "os critérios". Não quero uma Europa asséptica, onde apenas cabem os escandinavos e a Bélgica. Nós e os gregos – povos antigos e com história – estamos constantemente a ser alvo de chacota pelos que vão “à frente”. A Turquia, se entrar, vai certamente juntar-se a este grupo. Um grupo sem índices, números, gráficos, estatísticas, indicadores e tabelas para ostentar. Mas com história. Uma longa e rica história.

11.19.2003

assim de repente

Compartilho três coisas com o Pais Relativo. A saber:
O gosto nostálgico e adolescente pelos Pink Floyd do Rui.
A compulsiva necessidade de frequentar concertos de rock do Pedro.
E o desprezo por Manuela Moura Guedes e pela sua lixeira teledifundida.
Dizem-me que são socialistas. Who cares? Bastavam estas afinidades para podermos entender-nos.

hoje sou holandês

No passado fim-de-semana, no Hampden Park em Glasgow, a Escócia a jogar mal (como tão bem sabe jogar Escócia) e sem Rod Stewart na bancada, venceu por 1-0 a Holanda na 1ª mão do play-off para o nosso Euro.
Desde a qualificação para o mundial do México 86 que sou fã da selecção holandesa de futebol. Não sei bem porquê. Nessa altura ainda não tinha visto a Holanda jogar, pois esta não tinha participado nos dois primeiros campeonatos de selecções que vi – o mundial de Espanha em 82 e o europeu de França de 1984. O pouco que sabia sobre a selecção holandesa chegou pelo rumor de que praticava um futebol geométrico e preciso, que, por isso, era conhecida como a Laranja Mecânica, e que havia, injustamente, perdido duas finais de campeonatos do mundo.
Seja como for, nunca mais me esqueci das poucas imagens que vi, comentadas por Rui Tovar (que é feito de?), numa quarta-feira desgraçada, em que, na banheira de Roterdão literalmente alagada, a Holanda foi eliminada pela última (e única) grande selecção Belga, onde jogava um tal de Ceulemans que viria a fazer miséria no México. Desde essa noite, nunca mais deixei de a acompanhar e por ela torcer.
No último sábado, lá estive em frente à televisão. A derrota por 1-0 com a Escócia trouxe à memória a eliminação de há quase vinte anos. Aí como agora, disputava-se um play-off. Aí como agora, a Holanda havia perdido por 1-0 na primeira-mão. Aí como agora, eu estava do lado dos holandeses.
Hoje, disputa-se a segunda mão. Já não na banheira de Roterdão a transbordar, onde ainda se assistia aos jogos em pé por não haver espaço para tanta gente sentada, mas sim na arena de Amesterdão, um estádio “moderno” e confortável com cadeiras aquecidas e espaço para esticar as pernas. Já não contra a rival e vizinha Bélgica de outros tempos, mas contra uma selecção escocesa sem graça treinada por um alemão maçador.
Hoje, a história não pode repetir-se.

All Blacks down

Nove da manhã de Sábado em Lisboa, quase meio dia de diferença horária nos antípodas. Em Sidney, uma Austrália hiper eficaz derrotou a Nova Zelândia afastando-a da final do campeonato do mundo de rugby.
Embora goste mais de futebol (porque cresci a ver e a ouvir, porque o meu clube é um clube de futebol, porque, porque, porque), considero o rugby, hoje, sem hesitação, um desporto muito mais são. No rugby não há anti jogo, nem perdas de tempo, nem manhas, nem ronhas, nem fitas. Quem cai ao chão levanta-se de imediato, porque tem vergonha de lá ficar. E quem cai e se levanta, cai pela força de placagens em alta velocidade e centenas de quilos em cima, não com um toque aqui ou um empurrão acolá. No rugby, ao contrário do futebol, não há casos, nem discussões com árbitros. As rivalidades são antigas mas os adeptos convivem nas bancadas. Os melhores jogam para ganhar pelo máximo de pontos possíveis e, mesmo quando estão a perder, continuam a jogar para ganhar pelo máximo de pontos possíveis. Foi assim no Austrália – Nova Zelândia. Os All Blacks, surpreendidos por uma Austrália muito táctica, cedo se viram a perder. Em nada foram abalados e lutaram, incansáveis, até ao fim. Mas, como o jogo só tem 80 minutos e do outro lado também se sabia jogar bem, o fim chegou e o resultado não se alterou. Tive pena. Os All Blacks representam o que há de melhor no rugby – a força e a alma.

11.14.2003

Cindy Sherman

Quando, algures no fim dos anos 70, uma jovem pseudo feminista de New Jersey sonhou que queria ser artista, a obra começou a nascer. Mas atenção, não foi uma qualquer obra. Entre 1977 e 1980, sob o forma de fotografia, Cindy Sherman, atrás e à frente da câmara, deu à luz que necessariamente tem que iluminar o objecto fotografado, e a todos nós, simples mortais, um conjunto de imagens que jamais poderá ser ignorado por quem tiver o privilégio de as ver.
Os Untitled Film Stills, uma série de 69 fotografias, são, para mim, uma das obras centrais de toda a arte contemporânea. Nela está representado todo o imaginário feminino, que não feminista (como alguns insistem em apontar), sob várias das abordagens que dele é possível fazer. A mulher como género. Às vezes como objecto outras como objectivo ou com o objectivo de nos tornar, a nós, objectos. Frágil e ingénua mas poderosa. A bomba. Inteligente, não inteligente mas ainda assim criada com muita inteligência. A mulher fatal que chega a casa e deixa cair as compras no chão ou as atira ao chão para se deixar sobre ele cair. Assustada e a precisar de ajuda. Assustada porque não sabe bem se a ajuda é boa ou má. Quase sempre tesuda. Quase nunca bonita. Sempre, mas sempre, cheia de personalidade e postura.
Cindy Sherman é, por encarnar todas as suas personagens, tudo isto. Mas pode também ser outra coisa. Pode ser apenas alguém que teve uma boa ideia e com muito talento, alguma imaginação e poucos recursos, criou um mundo onde se consegue retratar mas no qual nunca quis habitar. Como disse um critico “(..) photograph after photograph, Sherman was ever present, and yet never really there”.
Como todas as grandes obras, os Untitled Film Stills são intemporais.
É certo que o décor é datado. É certo que faz lembrar policiais de série b e neo-realismos de baixo orçamento. É certo que aquelas roupas já não se fazem e pouco se usam. É certo que a Nova Iorque que por vezes aparece já não existe. É certo que o mundo mudou. Mas, se há um passado que se imagina atrás de cada uma daquelas imagens e personagens, não há, à sua frente, qualquer futuro, pois o futuro é demasiado curto para nele caber toda a eternidade.



Foi (até que enfim!) pela primeira vez editado um livro com estas 69 imagens.

11.13.2003

Pastilhas?

Inscrevi-me, há dias, no consultório do MEC. Não consegui perceber como é que aquilo funciona. Fez lembrar-me qualquer coisa do Damien Hirst. Mas o defeito é meu. De certeza.

Holidays/No Feelings, 1989
Drug bottles in cabinet
54 in. x 40 in. x 9 in.

television, the drug of the nation

Não no sentido em que proclamavam os Disposable Heroes Of Hiphoprisy (Hypocrisy Is the Greatest Luxury, 1992), mas no bom sentido. Como algo que vicia e nos torna mais felizes enquanto estamos sob o seu efeito.
Acabo de ver quase de uma assentada vinte (20) episódios de uma série americana chamada 24, onde a acção tem lugar em 24 horas distribuídas por 24 episódios de uma hora cada (um pouco menos, para ser rigoroso).
A experiência é inesquecível. Uma trama de espionagem que vai sendo revelada aos poucos e nos impele selvática e irracionalmente para o capítulo seguinte.
Imagino o que seria ver esta série em emissões televisivas (há em DVD), com um único episódio por semana, a começar sempre a horas erradas. Uma tortura imensa. Um episódio por semana é uma dose muito curta para um organismo atingido por este vício.
Só faltam 4 episódios para terminar e já estou a desesperar só de pensar como vou sobreviver no pós-24. Como é que vou passar sem aquela gente. Haverá alguma por aí alguma clínica de desintoxicação?
Como parece natural, esta série bateu recordes de audiência nos países civilizados.
Por cá, como também cada vez parece mais natural, não teve qualquer hipótese.
Foi chutada para as 3 da manhã, a seguir a horas e horas do lixo “em língua portuguesa” de que as nossas televisões tanto se orgulham.

11.11.2003

Zappa blog

Só mesmo por absurdo é que alguém se lembraria de fazer um Blog cujo core issue é Frank Zappa.
A quem quer que seja o ABsurdo(.), o meu obrigado.

try the red

Acrílico sobre papel. Na margem esquerda uma tira fina com pouco mais de um cm em cor de laranja. Do outro lado, na margem direita, a tira é preta e continua fina. No meio uma imensidão de encarnado em várias camadas. É minimalista. Mas enche. É um artista português. Hugo Canoilas. O Cristiano Ronaldo da pintura.

11.08.2003

Israel, Islamismo, Ocidente, os media e a guerra demográfica

Na sequência da sondagem que atribuiu a Israel o título de país mais ameaçador da paz mundial, houve muita gente que veio a terreno condenar tal resultado (lamentável, diga-se) por o mesmo demonstrar o renascimento de um anti-semitismo europeu.
Sem deixar de admitir que há, certamente, atitudes anti-semitistas nas respostas que na sondagem deram a “vitória” a Israel, penso que as razões fundamentais para o resultado são outras:
Por um lado, os média, muito tendencialmente dominados pela esquerda, continuam a viver na obsessão do politicamente correcto, não tendo qualquer pejo em fazer verdadeiras campanhas, mais descaradas ou mais disfarçadas, a favor do seu “lado”, o “lado certo”. Em tudo procuram tomar partido, mas nem sempre - raras vezes, mesmo - de forma honesta e assumida (não tenho nada contra linhas editoriais partidárias [de tomar partido, entenda-se]). Os média, dominados pela esquerda, tomam partido, procurando transmitir a ideia – falsa – de que não o estão a fazer. De que estão apenas a relatar factos e a proferir juízos de ciência.
Ora, na questão de Israel, estes média (dominantes insisto), tomam sistematicamente uma posição anti-israelita. Porquê? Porque os Israelitas são judeus? Não só, nem principalmente, creio.
Tomam, porque à frente do Governo de Israel está um partido de direita tradicional e sem complexos – o Likud – e, sobretudo, porque Israel é um indefectível aliado dos Estados Unidos da América. Esta conjugação de factores faz de Israel um alvo a abater pela esquerda politicamente correcta que domina os média. Com a sua força, estes média incutem todos os dias nas cabeças, pouco preparadas e cada vez menos disponíveis para pensar de forma critica, do europeu médio, a ideia de que o mal é Israel, vem de Israel e vai ser consumado por Israel.
Mas há uma outra razão para que os Europeus considerem Israel mais perigoso do que a Coreia da Norte ou o Irão:
Os sábios islamitas (porque são sábios) têm consciência de que a guerra contra o Ocidente, da qual a guerra contra Israel é apenas um episódio, não é susceptível de ser ganha pela força das armas. O fomento da miséria, da desigualdade e da falta de liberdade nos países islâmicos onde o ódio ao ocidente prolífera (não são todos, há que dizê-lo) não é propício ao desenvolvimento das condições necessárias à recuperação de séculos de atraso tecnológico, e o terrorismo, por mais sofisticado e mortal que seja, não é capaz de dar cabo de uma civilização. Há, porém, um campo no qual os sábios islamitas sabem que esta guerra pode vir a ser ganha. O campo da demografia.
No que respeita a Israel, há duas grandes comunidades judaicas no mundo: a israelita e a americana, o resto é paisagem. Destas, a comunidade americana está a caminhar para o desaparecimento a breve prazo. Cada vez são menos os casamentos dentro da religião e mesmo os filhos de pai e mãe judaicos, não raras vezes, são criados à margem da Tora (ou do Talmud, os mais radicais). Com a disseminação desta comunidade, os judeus de Israel ficarão isolados, sem um apoio fundamental que os tem sustentado e, desta forma, vulneráveis ao assalto final.
No que respeita ao restante mundo ocidental, as perspectivas dos islamitas também não são pessimistas. Nos últimos anos, tem-se assistido a uma diminuição preocupante da natalidade em vários países desenvolvidos. As pessoas, egoisticamente ou não, cada vez tem menos disponibilidade para ter filhos. Os governos, sem visão estratégica, pouco ou nada se preocupam com o fenómeno. Paralelamente, vemos um aumento da emigração de países árabes originando a criação de comunidades muçulmanas, nos Estados Unidos e na Europa, que, ao invés de outras comunidades de emigrantes, pouco ou nada se integram, cultural e socialmente, nos países de acolhimento, vivendo de forma fechada e tentando a pouco e pouco impor os seus hábitos, costumes e mentalidade aos autocnes que nas suas imediações vivem. A acrescer a tudo isto, há a propensão destas comunidades em se reproduzirem, sem que, no entanto, aos seus descendentes seja dada a oportunidade de se integrarem, mantendo a sua identidade cultural, mas abandonando o ódio ao ocidente.
Face a este cenário, os sábios do Islão prevêem que no futuro, a comunidade muçulmana venha pouco a pouco a impor-se em número aos ocidentais nos seus próprios países. São, pois, grandes as probabilidades de constarem dos 59% de europeus, que na sondagem responderam Israel, membros desta grande comunidade islâmica.
Face a isto, coloca-se-nos um dilema. Levantar estas questões de forma séria e sensata e aguentar o chorrilho de insultos habitual – racismo, extremismo, etc. –, ou calar e deixar comodamente as coisas acontecer.
Cá por mim, tenciono continuar a falar. Até para evitar que o verdadeiro racismo e extremismo que se esconde por trás das respostas politicamente correctas dadas aos microfones das rádios e televisões que diariamente são colocados à frente do povo, seja cultivado, alimentado e venha a exteriorizar-se, quando já houver pouco a fazer para remediar.
O racismo, qualquer um, só se combate quando se atacam as suas causas. O respeito pelos outros, só se consegue quando respeitamos o que é nosso. O mundo muçulmano, que prezo e respeito na exacta medida em que (em grande parte, felizmente) respeita e preza o meu, só é concebível enquanto existir um Ocidente ao seu ocidente.

11.06.2003

não ter medo de ser feliz

Havia concerto dos Blur mas não me estava a apetecer muito ir. Ainda não entrei no último disco, a milhas de Great Escape e Park Life, e estava com a cabeça a rebentar. Não. Não me estava a apetecer quase nada.
Mas não podia deixar de ir. Porque tinha bilhetes comprados há muito tempo, como sempre faço com terror que esgotem e venha a arrepender-me. Porque na guerra com os Oasis sempre estive do lado dos Blur e agora, no pós guerra, tinha que estar presente. E, finalmente, porque era no Coliseu e eu tenho o hábito de gostar de voltar aos sítios onde já fui feliz.
Com a ajuda de uns estimulantes lá me enfiei num Coliseu à pinha, que, depois do fiasco de Ben Harper (não há nada a fazer, o Pavilhão Atlântico é impróprio para ouvir música), fez de imediato subir-me a moral.
Pouco após o início do concerto, um amigo e primo meu que anda a trabalhar para todos nós convidou-me a abandonar a plateia para lugares mais "importantes" onde estava instalado (outra vez o velho dilema entre o moshe ou a cadeira confortável). Aceitei o convite e logo depois Tender com visão panorâmica sobre a sala em êxtase. Seguiram-se as grandes músicas, Think Tank a soar melhor que em disco, fora de tempo, Damon Albarn em pico forma, números à Sex Pistols, Song 2, The Universal (a melhor), e no fim do final, com as luzes já acesas, o regresso ao palco, como só antes os Pixies ousaram fazer.
Lembrei-me então do princípio da noite, da minha relutância, da dor de cabeça que havia passado com a descarga de decibéis, e confirmei aquilo que já há muito sei. Uma guitarra eléctrica, um baixo e uma bateria é o suficiente para valer a pena arriscar ser feliz.

11.05.2003

estava escondido a apanhar amêijoas e a polícia estragou-me o barco

Não é minha intenção escrever aqui sobre as não-notícias que algumas televisões constantemente passam. Houve, no entanto, uma reportagem que vi, em que canal não sei (a não ser que não foi na TVI que já dessintonizei), que me obriga a fazer este post.
Estavam uns tipos na apanha ILEGAL da amêijoa quando, perante a aproximação da polícia marítima, desatam a fugir. Na fuga, o seu barco vira-se e eles têm que ser salvos. Ainda encharcados, mas já livres da polícia, são entrevistados para a televisão.
Na entrevista, após nos contarem que, com a fuga, tiveram prejuízos, e quando questionados sobre quem deveria pagar tais prejuízos, os pescadores responderam (não, desta vez não é o governo) os polícias.
Porquê? Porque se não fossem os polícias não tinham tido que fugir e se não tivessem fugido não tinham virado o barco. Ou seja, se não fossem os polícias não tinham virado o barco. Os repórteres, com este silogismo, ficaram-se.
Há muita gente preocupada, e bem, com a falta de educação, de cultura, de capacidade de abstracção para aprender matemática, de civismo, blá, blá, blá.
Com este episódio, há uma nova preocupação. A falta, em alguns seres, do mínimo denominador comum que permite distinguir o homem dos bichos – para além da alma - a responsabilidade.
Digo isto com pena e com todo o respeito pelos pescadores, pelo pessoal da apanha da amêijoa, por estes senhores que apareceram na televisão e, claro, pelo dr. Manuel Monteiro.

11.04.2003

tentativa falhada

Calçada do Combro acima, Rua das Taipas abaixo, Avenida da Liberdade acima (sem liberdade, com transito parado).
O que vale é que há oxigénio. Entre as 7 e as 8, Yen Sung põe música para respirar.
Nãa... Não vale a pena.

11.03.2003

Barbaridades

Recebi um email com o título “Barbara Guimarães tudo se vem a saber...”, no qual é relatado o episódio de um subsídio que esta recebeu do Ministério da Cultura (então tutelado pelo seu actual marido, AKA Carrilho) e se discorre, de uma forma demagógica, sobre o escândalo que tal representa. No fim do email é-me pedido que divulgue o texto como forma de protesto.
Obviamente, não vou enviar o texto para ninguém.
Em primeiro lugar, se eu fosse Ministro da Cultura e independentemente de ter, ou estar na expectativa de vir a ter, qualquer coisa com a senhora em questão, tinha atribuído o subsídio ao programa. Para mim, uma boa maneira de promover a cultura junto das massas analfabetas é através de um programa apresentado por uma mulher linda e nada burra (repito, nada burra), de forma despretensiosa e esteticamente agradável.
Em segundo lugar, não posso de deixar comparar o programa de Barbara Guimarães com outro similar, oficialmente de serviço público, como era o em boa hora extinto “Acontece”.
Um cenário pavoroso e baço, e um apresentador que apenas dava voz aos seus compagnons de route, das três já estafadas feministas Marias aos Malangatanas e Craveirinhas, passando por AlBerto (um mito pós-moderno), como se estes fossem os únicos que valesse a pena divulgar, já que os outros, nas raras vezes em que foram convidados ao programa, foram tratados abaixo de cão. Há que não esquecer a forma rude e ignorante como Carlos Pinto Coelho entrevistou o filósofo Jean-Francois Revel, só porque este desmontou de forma cristalina a argumentação da França contra a guerra no Iraque.
Em terceiro lugar, porque o programa da Barbara Guimarães é, para a nossa televisão, um óptimo programa.
Dir-me-ão que ela, na pendência ou na sequência do subsídio, começou a andar, casou e vai ter um filho do Carrilho. So what? Alguém, sinceramente, acha que é por ter recebido um subsídio? Ou será inveja. Dela, dele e do subsídio.

11.01.2003

hoje é dia de Ben Harper

Hoje há um bocadinho de Marvin Gaye, de Sly Stone, Stevie Wonder e de Jimi Hendrix, em Lisboa.
Hoje é dia de concerto de Ben Harper.

Kill Bill - obra-prima absoluta

É o apogeu do estilo. Tudo é estilo, tudo é forma e, neste caso, a forma é tudo. Não é preciso mais nada.
Há loiça partida, massacres no Texas, assobios à Enio Morricone, Manga semi pornográfica e muita pancada. Há yakusas e samurais, girl power em Tóquio, Riot Girrrrl em palco e motas a acelerar. Há Sam Peckinpah, Bruce Lee e colegiais em saia de xadrez. Há uma história de vingança, Sergio Leone na neve, flauta de pan épica e coreografias de Kung Fu com espadeirada. Há guitarras eléctricas, Dário Argento, cabeças a rolar e litros de sangue a esguichar. Não há bons, são todos maus. Há Darryl Hannah à John Wayne, Lucy Liu linda de morrer e Uma Thurman, qual Nadja Comaneci, a voar.
Há que ir ver.
Já!

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