12.29.2003

2003

Rio de Janeiro – Feriadão, Ipanema, posto qualquer coisa – a praia do ano

Graniza de Fragola na Antica Gelateria de Note (Sicília) – o gelado do ano. Deste e de todos os outros.

Bonnie Prince Billy – Master and Everyone - o disco do ano.


Sugimoto em Lisboa (Expo) e Londres (Serpentine)


The Complete Jack Johnson Sessions – Miles Davis no boxe (a reedição do ano).

Olafur Eliasson, The Weather Project (Tate Modern, Londres)

São Paulo. No Boo, 6 empregados japoneses estão vestidos de igual e perfilados atrás de um balcão preto. A música, a tocar no volume máximo, é Suzuki (Tosca). Quem quiser conversar não deve ir lá. É para ouvir, ver e comer.

Filmes:
Kill Bill
25ª hora
A Cidade de Deus


Massive Attack - Coliseu

Le Mépris – Critterion Collection – o DVD do ano - da melhor colecção de sempre.


24 – A televisão do ano

Francis Bacon, Steve McQueen e Thomas Ruff – Todos ao mesmo tempo no Porto (Serralves).

Plataforma – Michel Houellebecq

Mediterrâneo com o Etna ao fundo – Mar do ano

O D.J. do ano - Rui da Silva (The Miami Session)

Christian Marclay: Vídeo Quartet (Paula Cooper Gallery, Nova Iorque) – O sampler do ano.

Objecto não identificado do ano: Dancin’ Days (first re-edit collection) – ou o funk é memo bom

Aterragem da ponte aérea São Paulo/Rio. O avião do ano.

Velhos e novos sons de Nova Iorque, da no wave e do pós punk:
- New York Noise. Dance music from the New York underground 1978-1982
- N.Y No Wave. The ultimate East Village 80’s soundtrack
- Post Punk 01. Rough Trade
- No New York
- The sound of Young New York
- Yes New York


Todo Caetano – todo o ano

12.21.2003

contra o aborto

"A alegria é a coisa mais séria da vida"

12.18.2003

não nos deixemos enganar

As discussões sobre o aborto voltaram em força.
Porquê? Porque estão a ser julgadas mulheres que abortaram e porque há quem tenha vindo dizer - quem supostamente não se esperava que viesse dizê-lo - que devendo continuar o aborto ser crime, não deviam as mulheres que o praticam ser punidas. Por qualquer aborto? Aparentemente sim, pois quem disse não distinguiu. Logo vieram outros dizer (e com razão face ao que havia sido dito) que, a ser assim, manter a lei era uma hipocrisia. Se a lei não é para cumprir, a lei não serve para nada.
É verdade!
Por isso, eu, como defendo a lei que há, defendo que a mesma deve ser cumprida, e, consequentemente, defendo que quem a viola deve ser julgado e, afinal, por ela punido. Não digo isto de ânimo leve. Sei que em muitos casos a decisão de abortar está envolta em circunstâncias dramáticas e miseráveis que quase, ou mesmo, tiram a quem o faz o poder da livre escolha em fazê-lo. Sei que punir quem o faz nessas circunstâncias é, no mínimo, cruel.
Pois é.
Mas a lei actual tem solução para essas situações. Existem instrumentos jurídico-penais à disposição dos julgadores para evitar punições injustas e cruéis. As circunstâncias atenuantes, quando verificadas em grau elevado, podem levar à exclusão da culpa. E como se sabe, sem culpa não há crime. Isto é, na aplicação da actual lei ao caso concreto, é possível - abstractamente possível e, logo, concretamente possível – absolver uma mulher que fez um aborto, ainda que se prove que ela fez mesmo um aborto.
Mas há outros casos. Há casos onde deve haver punição. Há quem faça um aborto de forma mais ou menos leviana, apenas para se livrar de uma chatice (quem o negar é que está a ser hipócrita). Há quem ganhe dinheiro a fazer abortos, sem cuidar de ter a certeza que os abortos que está a ajudar a fazer são casos limite em que quem o faz não tem alternativa. Fá-los porque ganha dinheiro e como ganha dinheiro dispõe-se a fazê-los. Há quem faça um aborto sem ter qualquer razão objectiva e subjectiva, para além da razão do “porque sim”. Nestes casos, que só em concreto podem ser apurados, a punição é aceitável e, face à lei vigente, necessária.
O facto de haver muitas mulheres que, provando-se que fizeram aborto, não são punidas, não é de modo algum sinal que a lei não esteja a ser cumprida. Muito menos é razão em si mesma para mudar a lei. É sinal de que quem julga, julga pessoas num contexto e numa dinâmica, não se limitando a fazer da aplicação da lei um silogismo mecânico. O que é bom.
Que se queira mudar a lei por achar-se que o que está em causa não merece tutela jurídica do Estado é algo que, não concordando, admito. Que se queira mudar a lei invocando a sua inutilidade intrínseca e apoiando essa invocação na hipocrisia e cobardia de alguns que, sendo catalogados como contrários ao aborto, hesitam e cedem ao politicamente correcto acabando por dizer que ninguém deve ser punido por ela, é tentar fazer passar por parva muita gente.
Não contem comigo para esse peditório.

12.17.2003



Diz-se que os filmes franceses são complicados e maçadores
Pois é! Mas quando se trata de escolher as meninas são imbatíveis

12.16.2003

White Stripes


Com o fim do ano chegam as listas dos melhores. E eu, vou já avisando, gosto muito de listas.
Comecemos pela pior, que, por acaso, até acerta no melhor.
A Q - uma revista com grandes vendas e pequenos conteúdos - elege Elephant dos White Stripes como disco do ano.
Com os discos dos Led Zeppelin debaixo do braço, uma guitarra, uma bateria e nenhuma tecnologia, os irmãos (?), marido e mulher (?), whatever, Jack e Meg White, enfiaram-se numa garagem de Detroit e deram ao mundo um disco ecléctico, onde se ouvem coisas como o mais potente rife de baixo desde os Joy Division e do Jah Wobble dos PIL (Seven Nation Army) até vocais à Queen dos primeiros discos (There's No Home For You Here), passando por introspecções psicadélicas (In The Cold, Cold Night) e uma homenagem velada aos conterrâneos Stooges (Black Math) - tudo embrulhado em papel próprio que não permite falar em plágios ou piscadelas de olho.
Não sei se é o grande disco de 2003, mas sei, e por mim falo, que é um dos classificáveis como tal.

12.13.2003

as meninas modernas e giras gostam de cadeiras modernas e giras, como elas

12.12.2003

Se é secreto, que deixe de o ser

Acaba de aparecer por aí quem melhor escreve português. Com muito Caetano na bagagem e uma bagagem muito grande. Parece Jesus, mas não é.
Bem-vindo Jacinto Lucas Pires!

12.10.2003

há coisas que só vistas

(ou uma visita de Bush a Inglaterra, antes, durante e depois, da visita de Bush a Inglaterra)

Quem passar pelo número 196A de Piccadilly - um edifí­cio histórico onde antes funcionou um conhecido banco - está longe de imaginar o que lá por dentro acontece. Há quem sustente que é uma farsa e uma aldrabice. Outros dizem que é arte. Eu, não sabendo bem o que é, sei que gostei muito.
Nessa morada fica a galeria Hauser & Wirth, e nela, desde o passado dia 16 de Outubro, está a ser exibido o último trabalho Paul McCarthy.
Do iní­cio dos anos 70 até agora, já passaram trinta anos. Mas os espectáculos grotescos que em tempos escandalizaram Los Angeles e hoje são dados a ver nas mais respeitáveis galerias deste mundo, continuam cheios de criatividade.
Em Londres é exibido Piccadilly Circus - um ví­deo projectado simultaneamente em três paredes da grande (e com pé direito altí­ssimo) sala principal da galeria, "decorada" com o cenário devastado e caótico resultante da performance que serviu à filmagem do vídeo. "Cashier number four please, ... cashier number two please, ...", repete uma velha gravação, à  hora do chá para o qual a Rainha de Inglaterra convidou George W. Bush e Osama Bin Laden, caracterizados McCarthynianamente, com cabeças e pés gigantes, género Mickey da Disneylândia. Se no iní­cio tudo é sossegado - com a Rainha a receber gentilmente os convidados, que de forma educada tomam os seus lugares - à  medida que os ví­deos avançam, a coisa descamba. A casa é virada do avesso, a mobí­lia é destruí­da, as personagens entram numa espécie de esquizofrenia aguda, com atitudes e gestos escabrosos e repetitivos. Um espectáculo verdadeiramente selvagem e javardo, impróprio para descrever com mais detalhe neste blog.
Não vale a pena procurar nisto significados ou mensagens - polí­ticas ou outras.
Vale a pena ver. Pelo menos uma vez.


12.04.2003

infância

O Ricardo (que aproveito para saudar pelo excelente Babugem, um blog que trata de coisas que realmente interessam como música e cinema) fala do filme The Royal Tenenbaums como sendo "originalíssimo e ternurento". Eu vou mais longe: para mim é o melhor filme dos últimos anos. Atrevo-me a dizer que só não gosta deste filme quem não teve infância (ou, pelo menos, uma infância feliz). Está lá tudo: Os fatos de treino Adidas, as cabanas dentro de casa, o Between the Buttons riscado a tocar num pick-up.

12.02.2003

o homem de turbante

Headphones. No metro ouço o último Sakamoto: um piano impressionista, Bossa Nova, break beat, uma das grandes músicas de sempre (Forbidden Colours).
Ao meu lado, uma gorda monstra, vestida com uns collants esfarrapados, tenta, sem conseguir, chamar a atenção de uns turistas nórdicos carregados com mochilas de quatro andares. Um preto, debruçado sobre as pernas, permanece imóvel durante várias estações.
Subo das profundezas para a rua. Uma multidão percorre os passeios de forma ordeira e apressada. Dentro das lojas, a música que mais se ouve é ainda The Streets (Original Pirate Material, 2002), que numa perspicaz critica, salvo erro da Wire, foi descrita como Shakespeare goes clubbing. Por entre a multidão, vejo um homem de turbante. Nesta cidade estão sempre a ver-se homens de turbante.
É verdade, estou em Londres.
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