3.15.2004

Questões para averiguar sobre o grau de má fé

Duas questões levantam-se, face aos resultados das eleições em Espanha:
1- Os atentados tiveram influência nos resultados?
2- De que forma é que os atentados influenciaram os resultados?

A resposta à primeira questão parece ser clara; pouca gente dirá que os atentados não influenciaram, directa ou indirectamente, o sentido de voto dos espanhóis.

Já a resposta à segunda questão, não parece ser tão simples. Vejamos:
Pode ter ocorrido um de dois cenários totalmente diferentes:

A) Alguns espanhóis terem alterado o seu sentido de voto – de um partido para outro, ou da abstenção para um partido – como consequência directa dos atentados, procurado, com tal alteração, evitar a vitória do partido que julgavam mais os poder expor a outros atentados, ou beneficiar o partido que pensavam ter uma política que no futuro melhor prevenirá novos atentados.

Neste cenário e seguindo esta a linha de raciocínio, entrariam as reacções tipo: se o PP apoia os EUA na guerra do Iraque e os atentados visam punir os aliados dos EUA, então o melhor é votar contra o PP.

Em minha opinião, não foi essa a influência decisiva que os atentados tiveram nas eleições. Talvez ingenuamente, não considero os espanhóis cobardes ao ponto de ceder a este tipo de coacção primária.

B) Alguns espanhóis terem alterado o seu sentido de voto em reacção directa, não aos atentados propriamente ditos, mas à forma como a informação sobre estes lhes foi dada, nos dias seguintes à sua ocorrência, pelo governo PP.

Estes espanhóis terão entendido que o governo não jogou limpo e tentou manipular informação procurando daí retirar benefícios eleitorais para o partido, através, nomeadamente, da insistência em que havia sido a ETA a autora, ou a principal autora, dos atentados. Pessoalmente, inclino-me mais para que a resposta passe por aqui.

Mas as dúvidas não por aqui; chegados a esta conclusão, cabe fazer a pergunta fundamental:

É ou não verdade que o Governo tenha manipulado as informações de que dispunha sobre o atentado? Ou melhor, houve de facto manipulação, ou ter-se-á antes criado artificialmente a ideia (falsa) de que estava a haver manipulação?

Para responder a esta questão - em meu entender essencialíssima - é necessário dar resposta às interrogações que JPP enumera:

'Seria bom que o novo governo do PSOE, ou o novo parlamento, esclarecesse a sequência fidedigna de informações que chegavam ao governo, se houve ou não razões operacionais para não divulgar algumas, se houve ou não manipulação política na utilização ou sonegação de dados pelo governo, que informações foram dadas e em que tempo real ao líder da oposição, qual o grau de consultas mútuas, como e quando foram decididas as conferências de imprensa e outras declarações de responsáveis governativos, que instruções foram dadas à investigação, que certezas ou incertezas foram transmitidas pelos serviços de informação e pela polícia ao governo. Se não, ficamos com as "fontes" cirúrgicas da Cadena Ser, ou com a sensação de manipulação do PP. Esclarecer, para o ar ficar mais limpo.'

É que, da resposta àquela e a estas questões – partindo do principio que os atentados influenciaram o voto dos espanhóis – depende muito daquilo que irá passar-se no nosso futuro.

Com efeito, uma coisa é saber se os resultados de umas eleições podem ser condicionados à lei da bomba, ou por erros grosseiros, ainda que ao cair do pano, do governo que está em funções, outra, totalmente diversa é saber se, partindo das bombas, foram os media (com eventual auxilio da esquerda radical) a condicioná-los, criando uma ‘realidade’ que na verdade nunca existiu e que, em três dias e três noites, deu a volta a um resultado mais que previsível.

Essa é a dúvida que eu gostava de ver esclarecida, e para cujo esclarecimento o PSOE deve fornecer todos os elementos, sob pena de a história ser, afinal, ao contrário daquela que agora nos tentam contar.
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