3.17.2004

O que é o pós-rock?

Por entre perguntas escusadas como ‘do you want to meet a woman tonight?’, propostas baixas para gang bangs (‘órgias’ em português), e afirmações bruscas e mentirosas como ‘you need me! You just dont know me’, de umas tais de Kelly UpTops, Busty Britney ou Cindy Guns, a minha caixa de hotmail (nunca um nome foi tão apropriado), recebeu uma mensagem de uma leitora, que me coloca a seguinte questão: ‘afinal, o que é essa coisa do pós-rock?’

Para melhor responder a esta pergunta, em vez de recorrer à invenção, vou antes socorrer-me de um artigo sobre a matéria, há anos publicado nos Inrockuptibles.

‘Faire du post-rock, c’est facile. Prendre un group de rock traditionnel et, dans l’idéal, originaire de Chicago. Tuer le chanteur. Placer la section rythmique au centre de la pièce. Eventuellement, mettre un bassiste de formation à la guitare ou remplacer cette dernière par des claviers, des cuivres ou même une deuxième basse, une forêt de bambous, un poste de télévision, un ventilateur ou tout autre ustensile électroménager. Avec les instruments de musique, jouer les mêmes notes dans des octaves différentes, tout en répétant des motifs rythmiques. Avec le reste, laisser courir son imagination. Oublier la pendule. Rechercher l’hypnose, la pulsation. Essayer de toucher ses jambes avec son cerveau. Quand le résultat désiré est obtenu, séparer la formation et envoyer chacun des membres créer un nouveau groupe de post-rock. […]’

‘Tocar pós-rock é fácil. Há que pegar num tradicional grupo de rock, de preferência, oriundo de Chicago, matar o cantor e pôr a secção rítmica no centro da cena. Eventualmente, colocar um baixista de formação na guitarra ou substituir esta por teclas, metais, ou mesmo um segundo baixo, uma floresta de bambu, uma televisão, uma ventoinha ou qualquer outro electrodoméstico. Com os instrumentos musicais, tocar as mesmas notas em oitavas diferentes, repetindo os motivos rítmicos. Com o resto, deixar funcionar a imaginação. Esquecer o pêndulo; procurar a hipnose, a pulsação; tentar tocar as pernas com o cérebro. Finalmente, quando for obtido o resultado desejado, separar o grupo e mandar cada um dos seus membros criar um novo grupo de pós-rock [...]’
(tradução apressada para quem não perceber nada de francês)

Esclarecida? Eu também não. Trata-se de um tema que parece complicado, e é.
O pós-rock é uma música tocado por gente que ouviu muitos discos de diferentes proveniências – de Brian Eno a John Fahey, do folk ao dub, de Bristol a Düsseldorf - e que, sendo por um lado rock, por outro, procura e consegue ultrapassar o clássico esquema de verso, refrão, verso, verso, refrão, refrão.
Mas, como diria uma certa mulher que mais parece um cavalo, isso agora não interessa nada.
Então o que é que interessa?
Interessa ouvir.

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