Bring it All back Home
Quando se tratam de discos de que gosto mesmo muito e que, por alguma razão, representam a minha história da música, a ânsia de não deixar escapar nada leva-me a comprar várias versões do mesmo. A primeira, porque gosto da música; uma nova, porque é remasterizada (burro!, muitas vezes burro); outra, por ser uma edição japonesa com aquelas capas a imitar um LP; mais uma, porque tem músicas extra, lados b de singles, demos, versões de ensaio; mais outra, porque o booklet tem novos textos e fotografias; para não falar dos vinis, onde a saga se repete com as edições em prensagem alemã, quadrifónicas ou de 200 gramas para audiófilos.
‘Porque é que vais comprar outra vez este disco?’ – ‘Mas... esse já tens! Vários, aliás’, – são perguntas em tom vagamente desinteressado perante a compra da 7ª versão do Atom Heart Mother ou de mais uma edição definitiva do White Album. E a resposta, dada de forma súbita mas não brusca, segue sob a forma de um: ‘Porque sim’. – Logo acrescido de um: ‘Porque este tenho a certeza que é bom’ – com a voz na maior das calmas para não ferir uma sensibilidade ingénua e civilizada.
‘Já sei, já sei. Encontramo-nos daqui a duas horas à porta’ – É o comentário resignado à entrada da Other Music, Meca dos discómanos, onde, juntamente com vários alucinados como eu, instalo-me num fim de tarde de sexta-feira para vasculhar e abastecer: do milagroso disco de Damien Rice, de mais uma edição de Tin Drum (‘especial’ e ‘limitada’ com disco extra e novas versões), da última caixa do monumental legado de Miles Davis – as complete sessions de In a Silent Way – e de mais uns discos que o Gerald (uma enciclopédia ambulante) me aconselha.
O que faço eu aqui? Porque compro discos e continuo a comprar discos? Pus-me então a pensar.
Para me martirizar? Não – Por hábito consumista? Também não – Porque gosto, ou acho que vou gostar, da música? Certo.
Mas, acima de tudo, porque, apesar da angústia (ou, talvez, por causa dela), a única coisa melhor que ouvi-los, é comprá-los.