5.31.2004

O Homem do Armário
Numa grande empresa nacional, instalada num prédio de vários andares, é possível encontrar, num patamar das escadas de serviço, um gajo que passa a vida em pé de frente para um armário a mexer no que lá está dentro. Ninguém faz ideia do que está lá dentro, nem do que o gajo ali faz, mas, sempre que por ali alguém passa, lá está ele a remexer no interior do armário. Aquele vão-de-escada é o seu mundo. Aquele canto do armário é o seu local de trabalho. Mexer no armário é a sua função.
É, no mínimo, incomodativo e, na realidade, revoltante o preço a que são vendidos os DVDs da Criterion Collection. Aos €40 e €50 o filme. Bem sei que esta é, de longe, a melhor colecção do mundo, tanto na forma – capas impecáveis, excelente restauração das fitas e som originais, verdadeiros extras, muitas vezes inéditos – como no conteúdo – estão lá representados muitos dos maiores realizadores de sempre, com especial predominância para os europeus e japoneses, mas também algumas obras marginais, mas importantes, do cinema americano, mais Douglas Sirk, os melhores filmes de Hitchcock (Notorious e Spellbound), o melhor (para mim) realizador da última vaga (Wes Anderson com Rushmore e Royal Tenenbaums), enfim, muita coisa boa como poderão ver no respectivo site. Acresce que, para além do preço, estes filmes encontram-se demasiadas vezes no fundo das banheiras por arrumar da fnac (agora, até tampa eles põe nos alguidares), o que, tornando-os ainda mais apetecíveis, aumenta a dificuldade da sua aquisição. Noutro dia, deixei-me de merdas e cerimónias e mergulhei numa delas para sacar de lá a versão Criterion (a única existente, que eu saiba) do Lord of the Flies de Peter Brook.
Lord of the Flies, começou por ser (e continuará a ser) um livro de William Golding. Uma das mais poderosas distopias do século XX, que relata de forma admirável a evolução (ou involução) comportamental de um grupo de crianças que, subitamente, após um desastre aéreo, se vêem naufragadas e sozinhas numa ilha deserta.
São meninos civilizados os desta história. Inglesas educados num colégio interno elitista, como só em Inglaterra existem, onde foram sujeitos a uma rigorosa, mas equilibrada, disciplina, habituados desde o berço a ter as melhores maneiras.
Civilizados como são, ao verem-se sozinhos naquele fim-de-mundo, começam por procurar organizar-se, escolhendo um líder que distribui tarefas e responsabilidades tendo por objectivo as prioridades colectivas. Porém, à medida que o tempo passa, as vontades, os anseios, os medos, as invejas, as ambições, individuais, começam a tomar conta de alguns, e, quando a luta pela sobrevivência se torna a prioridade e a possibilidade de resgate uma miragem, aquelas crianças esquecem de vez os códigos civilizacionais aprendidos e transformam-se em pequenos selvagens, sendo que, na selva, quem vence são os mais fortes.
Este livro, que parece ter sido escrito para acabar de vez com Rousseau, tenta mostrar-nos que a natureza humana contém muita sacanice e que a liberdade é um bem precioso mas constantemente na corda bamba.

Aquiles já não mora aqui
Um dos efeitos que esta guerra do Iraque está a ter é o de atirar por terra o mito do soldado americano. O marine hiper preparado cheio de coragem e brio que, destemido, tenta impor a democracia no mundo. Haverá soldados americanos que correspondem àquela descrição, mas são uma minoria. Na maioria, são uns putos de vinte e poucos anos, mal treinados para este tipo de combate, do género terra a terra, que se alistaram apenas para terem um emprego e que, de um dia para o outro, se viram enviados para uma terra que lhes é totalmente desconhecida, na geografia, na demografia, na cultura, e na qual vivem, minuto a minuto, atolados no medo da próxima esquina.
Nem só de Godard vive um homem
Há já algum tempo (cerca de uma semana) que não via uma tão grande americanada. Também não esperava outra coisa quando decidi ver The Day After Tomorrow: uma mensagem louvável mas demasiado demagógica, personagens primárias, um final feliz e, pelo meio, as imagens de uma catástrofe climatérica. Foi precisamente em busca destas que me dirigi ao cinema, e dele não saí desapontado. Os tufões em L.A., o Maremoto que inunda Nova Iorque, Manhattan submersa na neve, o enregelamento do Empire State Building, e demais cenários agrestes, estão graficamente muito bons, valendo a pena serem vistos num grande ecrã.
A não perder por fanáticos do Protocolo de Quioto, fãs de filmes-catástrofe, e todos aqueles que gostavam que a Florida ballot battle tivesse tido outro fim.
Instantâneos do Rock in Rio II
(via SIC Notícias)

(um repórter) ... Dave Grohl (dos Foo Fighters) tem estado envolvido em várias causas sociais, como a luta pela preservação da floresta, prevenção da sida e ainda no rock against Bush, onde participou...

5.30.2004

getting away with it

O lançamento do Fora do Mundo soube-me a fim de festa. Fiquei a saber, minutos antes de chegar à feira do livro, do fim do Dicionário e, com este, o fim do blog de que mais gostava. O Pedro tocava em tudo e tocava sempre bem. Erudito ou fútil, sério ou com (imenso) humor, citando ou criando, crítico ou contemplativo, poético ou analítico, ou tudo ao mesmo tempo, não havia nada que não lhe saísse bem, incluindo aqueles posts, por nós tantas vezes escritos, que apenas visam 'encher', alimentando o espaço em branco. Porque Pedro Mexia é um autor, e dos autores, daqueles de quem gostamos, tudo é bom, mesmo aquilo que objectivamente não é.
Pedro Mexia ou Pedro M., a persona que, sendo, inventou e, inventando, é, irá fazer muita, muita, falta no dia a dia dos seus leitores.
Safou-se disto. Foi-se embora e vai levar tudo aquilo que aqui fez. Mas a vida, essa, continua e, com ela, os blogs. Pelo menos, na daqueles da qual já fazem parte.

instantâneos do Rock in Rio

(via SIC Notícias)

(um repórter) ... enquanto se ouve a orquestra metropolitana de Lisboa a afinar os últimos acordes para os três minutos de silêncio (sic)

(uma repórter) Há aqui muita gente que acompanha Peter Gabriel desde há muitos anos, desde o tempo dos Velvet Underground e da Factory de Andy Warhol

(um repórter) ... foi, de facto, um espectáculo espantoso. O que David Bowie fez à música, Peter Gabriel fez à imagem

O quê? Ficou por responder (e eu vou ficar a pensar na resposta)

5.28.2004

Hang the DJ
A Sara diz-nos que, em havendo bar aberto e um bom DJ, não é contra o casamento. Eu também não. Mas não me atrevo a pôr tais condições.
Se o bar aberto, mais, menos ou nada martelado, lá vai havendo, o bom DJ, no contexto de um casório, é coisa raramente vista.
A abrir, somos normalmente presenteados com um Danúbio Azul em versão Classical Music for People Who Hate Classical Music, como se de um baile de debutantes vienenses pobres se tratasse. Arranca o pai com a noiva, que, após uns passos mal ensaiados, é entregue ao noivo. Seguem-se as famílias nucleares, com todo o swing (de troca, mesmo) possível pelo meio – mãe com noivo, sogro com sogra, mãe da noiva com noivo, pai do noivo com noiva, e, quando o Presidente da Junta está entre os convidados de honra, mãe da noiva com mãe do noivo. Da valsa, passa-se, invariavelmente, para o Sinatra de New York, New York. Este é um standard que nenhum casamento dispensa, parta ele das imediações do Carrefour de Telheiras, seja numa casa de boas famílias, no Pavilhão de Portugal, na messe da Força Aérea ou no pavilhão dos bombeiros. É a hora em que os balões se enchem de whiskey e rodam charutos mais ou menos puros. De Sinatra para Glen Miller, deste para um qualquer francês nostálgico que faz saltar das cadeiras os casais mais obscuros, uns sons latinos qual cruzeiro em Alcapulco, os Beatles da pior fase, os anos do ye ye, e, finalmente, para terminar em beleza o set inicial, o sempre obrigatório hino gay, que põe os casamentos hetero em êxtase - I Will Survive de Gloria Gaynor é, por si só e à força de tanto tocar, a pior música de sempre, usada, nestas ocasiões, para servir de transição do tempo dos ‘mais velhos’ para o tempo dos ‘jovens’.
'A juventude, ha, meu deus, a juventude' (disse um dia o grrrande Rui de Carvalho). A juventude, dizia eu, com a genica própria da idade, gosta de coisas mais mexidas. Vai daí, o DJ faz-lhes a vontade e despeja todo o lixo dos anos 80, altura em que estes jovens eram ainda mais jovens e iniciavam a sua educação musical vendo e ouvindo o Top + e o Countdown. Wham, Bananarama, Flashdance (com o seu intróito fortemente a puxar o sentimento), a primeira música de Brian Adams que até aqueles matulões desengonçados é capaz de pôr a dançar, tal e qual bonecos articulados. Dos 80 para outras ‘sequências’: O medley Gipsy Kings (muita mão no ar e dedos a estalar se vê nesta altura), as Brasileiradas nordestinas, José Cid e restantes nostálgicos do rectângulo, e - coisa que começa a ser perigosamente habitual, inclusive em casamentos de gente civilizada - uma sequência de pimbas lançados e apadrinhados por Herman José. Pelo meio os obrigatórios mega sucessos populares com os seus esquemas xunga, da Bomba ao Macarena, do Saturday Night ao Grease, da Cher ao Bicho. Em edições casamenteiras onde a ruralidade predomina, acrescem àqueles o Apita o Comboio e uma coisa meio tecno, meio alentejana, que parece estar a dar.
Enquanto o DJ trabalha para ganhar os imerecidos cento e poucos contos da praxe, sem nunca deixar a pista, está aquele típico casal, saído de uma sessão dos Alunos de Apolo, dançando o que quer que seja como se fosse um tango, um foxtrot, um cha cha cha. Braços bem esticados, dedos afastados nas mãos bem abertas, uma na outra, outra nas costas do parceiro, hirtos, dão passos firmes e rodopiam velozmente. Toda a gente parece achar-lhes graça, mas a verdade é que este casal, inevitável em qualquer boda, é, não só para cima de ridículo, como deveras incomodativo, ao usar o recinto como se fosse só seu, esbarrando a todo o minuto nas rodinhas mais comedidas que se agitam à sua volta, exibindo com ar contente e concentrado um espectáculo de miséria.
Em matéria musical, um casamento é, quase sempre, uma desgraça. Uma colectânea da Rádio cidade. A melhor forma de, num (cada vez menos) curto espaço de tempo, ouvir o que de pior se fez e vai fazendo.
Hang the DJ
Hang the DJ
Hang the blessed DJ

5.24.2004

Deliverance

Tróia é um filme para miúdas suburbanas que dão risinhos marotos à vista do caparro armado e hormonalmente induzido de Brad Pitt. Brad Pitt não é o pior actor do mundo, mas é muito parecido com ele, tal como muito parecido é com aquele que faz de seu primo em Tróia, que, por sinal, é o pior actor do mundo. Aliás, essa parecença acabou por induzir em erro Heitor, um guerreiro com quem simpatizo casado com uma mulher linda, levando-o a matá-lo (oh, já estou a estragar a filme àqueles que ainda não o viram), por julgar tratar-se de Aquiles, Brad Pitt, primo do pior actor do mundo.
Em matéria de cinema, o meu calcanhar-de-Aquiles são os épicos passados na antiguidade clássica. Ben Hur, Cleópatra, Spartacus até aos filmes de cartão (vulgo Peplum), onde os mitos gregos começaram por ser contados a 24 fotogramas por segundo. Num fim-de-semana cheio, este foi um dos finais possíveis.
Pelo meio, constatei que Quentin Tarantino e Morrissey estão a ficar muito parecidos. Fisicamente, pois, já que quanto ao resto, enquanto um sobe o outro desce. Não para muito baixo, pois you are the Quarry é um bom disco, um dos melhores dos últimos quatro meses, do qual irei gostar mais à medida que o tempo for passando. O problema é que, de bons discos está o mundo cheio. Eu perdoo-lhe, como ele perdoou Jesus e Jesus nos perdoa a todos, e mais agradeço a Tarantino por ter sido tão generoso nos inúmeros planos dos pés de Uma Thurman.
Kill Bill vol. 1 é uma obra-prima, disse-o logo que o vi, Kill Bill vol. 2, enquanto parte de Kill Bill, é também uma obra-prima. Mas Tarantino não está em foco apenas por causa do vol. 2. Está ainda por ser - ou ter sido, que a coisa já acabou - o presidente do júri do festival de Cannes. Os Cahiers du Cinéma, depois de um número maçador (589) onde se falou do estado do cinema no mundo (e onde o nosso - dos portugueses - Francisco Ferreira escreve um artigo de duas páginas, praticamente todo dedicado a dizer mal do Governo – os subsídios, as leis do audiovisual, as guerras indústria vs. autor, o costume), voltam com um grande número especial Cannes 2004. Os novos filmes de Almodôvar, Wong Kar-Wai, Godard, Kiarostami; um óptimo artigo sobre a nova e alargada versão de The Big Red One do subestimado Samuel Fuller. Mas não era sobre os Cahiers que eu queria falar. Quero falar de Tarantino, muito elogiado, não nos Cahiers, mas nos Inrockuptibles (estes franceses e a mania de fazer boas revistas). Num artigo de Serge Kaganski, Tarantino é apresentado como o Ás que completa o poker maior do cinema americano de hoje. Os outros são Cronenberg, Eastwood e Lynch, e eu não podia estar mais de acordo. Tarantino, diz Kaganski, tem, enquanto júri, uma vantagem sobre aqueles três: é um apaixonado por cinema e um adorador multifacetado, polivalente, eclético, de filmes. Conhece tão bem Hawks como o gore italiano, os westerns spaguetti como a nouvelle vague, a série z americana como a porrada acrobática que vêm de Hong-Kong, concluindo que Tarantino é o homem certo para fazer swingar Cannes. Também pensei nisso quando li o artigo na semana passada. Mas, pensei mal.
Estou-me nas tintas para que Michael Moore seja um alucinado, um anti-bush primário, e tente difundir uma montanha de mentiras. O que não consigo é conformar-me com o facto de a Palma de Ouro ter sido dada a um "documentário". Cannes é o maior e o melhor festival de cinema do Mundo. É o festival dos Godards, dos Bergmans, dos Viscontis, dos Kurosawas, dos Coppollas, dos Lynches, dos Wenders, dos Tarantinos. Não é Sundance. Não é San Sabastian. Não é Tróia. Não pode fazer estas figuras. Não devia fazê-las, já que este ano as fez. Lutem contra a guerra, votem contra Bush, façam politica, premeiem o primo do pior actor do mundo, mas não dêem a Palma a um documentário. Já estou a ver os Barnabés a escrever não sei quantos posts sobre Fahrenheit 9/11 (Na terra da liberdade [imagem da bandeira americana] escreve-se com um lápis azul [cartaz do documentário riscado de azul]), a fazer não sei quantas perguntas incriminatórias (De quem tem medo o homem mais poderoso do mundo? [por baixo, uma imagem da carantonha de Michael Moore]), a apontar todos aqueles dedos (ele é burro [cara do Bush com ar de burro], mas sabia! [imagem das torres a arder]) e a maçar-nos com os desafios estafados do costume (Digam lá, de uma vez por todas, quem é a favor da censura!), mas nada disso me chateia. Chateia-me, e muito, é que a palma tenha ido para um documentário. Para um documentário, irra.
No meio disto tudo, ainda não tive tempo para dizer, aqui, que o maradona é o Lester Bangs dos Blogs. O Frank Zappa dos Blogs; o Ornette Coleman dos Blogs; o Maradona dos Blogs. E não digo isto por ele ter feito uns links simpáticos para aqui, digo-o porque me apetece e porque acho. Como tudo o que aqui escrevo.
Houve (como diria Artur, o Jorge) muitas coisas bonitas neste fim-de-semana, e houve, também, outras menos bonitas. Parece, porque não vi, que o congresso do PSD foi uma chatice. Não houve golpe de teatro, o circo não pegou fogo e Santana não fez nenhum número (parece que nem sequer a maior ovação conseguiu arrancar), mas lá inventou mais uma das suas teorias de bolso para fazer figura nas notícias. Lembro-me do tempo (que há-de voltar, que há-de voltar) em que não saía de casa para ficar a ver na televisão os congressos do PSD. Agora, até para ir para Palmela saio. Para Palmela, irra.
Não falo, nem da boda, nem de Najafa, nem de Moqtada al Sadr, nem de Nassiria, nem de Faluja, nem de Abu Ghraib, nem do Sporting. Só de uma maçadora ida a Palmela - que me desculpem os meus queridos amigos RAP (que não esse) e Inês, companhias super agradáveis e excelentes na ajuda à muda de um pneu – para inventar pistas e escolher menus, com passagem pela baixa de Setúbal, pela esplanada de um McDonalds, onde foram vistas várias miúdas que, perante Troia, soltariam uma risada marota à primeira imagem do caparro bodybuilder do primo do pior actor do mundo.

5.21.2004

ESTREIAS



Hud

The only question I ever ask any woman is, 'What time is your husband coming home?'

Um dos meus filmes esquecidos preferidos é este. Em português o filme recebeu o título de Hud – o mais selvagem entre mil, e, por uma vez, acertámos. Hud, ou melhor Paul Newman, é, de facto, o mais selvagem. Hud dá cabo da vida de todos os que o rodeiam, é arrogante, imoral, irresponsável, indecente, cínico, egoísta, e mau – mean - malvado, mas, simultaneamente, encantador. É um dos mais perfeitos anti heróis do cinema. Que faz vergonhosamente orgulharmo-nos da maldade que, em maior ou menor grau, todos temos.
Hud é um filme tristíssimo, porque depois dos excessos vem a ressaca de uma vida vazia de sentido. No início dos anos 60, quando muitos estavam ainda a começar a alucinar, Martin Ritt, o realizador, ofereceu-nos esta monumental ressaca, num preto e branco baço (seria do meu VHS) mas ainda assim brilhante. Quais Rebel Without a Cause, quais Giant, quais quê.

* Acaba de sair em DVD (na Fnac, claro)




A Casa dos Budas Ditosos

Este pequeno grande livro é, na categoria literatura-da-tusa, um dos melhores que já li. Tal como em Pedro Juan Gutierrez (Triologia Suja de Havana e O Rei de Havana) e algumas passagens de Michel Houellebecq (Plataforma e As Particulas Elementares), João Ubaldo Ribeiro descreve minuciosamente bem actos sexuais de relevo e respectivos prólogos e epílogos, quando os há. De forma porca, como são e devem ser descritos. Sem romantismo nas palavras, que pode até haver na história - pode, não garanto que haja - mas não nas palavras, onde as descrições são cruas e, por isso, tão boas. O sexo, mesmo com amor, não deve ter floreados.
Na Casa dos Budas Ditosos, ao contrário de Gutierrez e Houellebecq, quem fala (embora pela caneta de um homem) é uma mulher, o que, para o homem que lê, torna o livro mais forte, pois os homens, mesmo que pudicamente o neguem, gostam de ouvir as mulheres falar das suas façanhas sexuais.
No D. Maria, onde estreou a peça adaptada do livro, quem vai falar é Fernanda Torres, uma das melhores actrizes brasileiras. Diz quem já viu em São Paulo que Fernanda fala sem desmerecer a obra que sozinha carrega às costas, e digo eu, ou muito me engano, ou é desta que o moribundo Teatro Nacional vai acordar.

5.19.2004

Não gosto:
Como muitos, de erros ortográficos primários em outdoors gigantes como os que a Câmara Municipal de Lisboa caucionou ('Benvindo (sic) a Lisboa’, lê-se no dito). E, ainda menos, da forma miserabilista e esfarrapada como Pedro Santana Lopes e/ou o seu gabinete tentaram desmarcar-se do disparate. Foram oferecidos pela organização do Rock in Rio, disseram eles, como quem diz “a cavalo dado não se olha o dente”, naquela postura muito nossa (dos portugueses) de aproveitar a fundo as borlas, as palas, as simpatias.
A cavalo dado não se olha o dente? Claro que se olha. E mais, se os dentes estiverem podres, resta uma atitude: abater o cavalo e insultar quem o ofereceu.
Em qualquer caso, nunca nele montar.




.................................. So Who's The Fool?
Gosto:
De Damien Hirst. Ainda a propósito dos minimalistas do Guggenheim, uma das obras que mais me impressionou nessa exposição, a primeira que vi, a última da exposição (de 2002), foi o enorme quadro de Damien Hirst (que não é um minimalista. Quanto muito um maximalista) que dá pelo título de Armageddon. São milhares de moscas caseiras mortas e coladas num painel de 2,5m por 3,5m, criando uma superfície monocromática e brutal. Damien Hirst, à parte de ser um mimado (porque o mimam) e um megalómano (porque lhe enchem os bolsos, pagando os preços absurdos que o mercado atribui), é um génio. Um dos poucos na arte contemporânea. E os génio, quando resolvem atirar-se para a frente, pensar em grande e fazer maior, saem-se com coisas destas. Depois das shark-infested waters, das tainhas que, num aquário cheio de destroços dos dias, circulam à volta de uma cadeira de ginecologista, das cabeças de caça cravadas de objectos cortantes, isto só visto, porque contado não tem qualquer impacto.

Gosto:
Do minimalismo. Sobretudo na arte. Enjoo com o tipo de argumentação marxista que afirma perante as White Paintings de Robert Rauschenberg: “Isto, também eu fazia”. Como se a arte fosse tanto melhor quanto o trabalho (físico) que dá a criar. Respondo invariavelmente: “Fazias, mas não fizeste, por isso é que o Rauschenberg (ou seja quem for) está aqui exposto e tu pagas um bilhete simbólico para vê-lo.
Vi há dois meses, por um preço simbólico, uma extraordinária exposição do acervo minimalista do Guggenheim de Nova Iorque – Singular forms (sometimes repeated). Lá expostas estavam algumas das grandes obras de sempre desta corrente horizontal. Donald Judd, Dan Flavin, Robert Ryman, James Lee Byars, Sol LeWitt, Frank Stella, Robert Mangold, Wolfgang Laib, Felix Gonzalez Torres - estava lá toda a gente.
Gosto de ver exposições no Guggenheim de cima para baixo - a pé, é sempre preferível descer - tendo visto esta de trás para a frente por estar cronologicamente montada de baixo para cima (confuso). De agora para meados do século passado. Pinturas, esculturas, instalações que qualquer um de nós faria, tivesse tido a ideia, soubesse contextualizá-la, vendê-la, dar-lhe um sentido conceptual, muito para lá da pobreza aparente que ostentam. Formas geometricamente simples, básicas, primárias, muitas vezes repetidas, que qualquer um de nós faria, tivesse tido a arte de as criar.

5.17.2004

Gosto:
De Chris Patten. Lembro-me de como desempenhou as funções de último Governador inglês de Hong Kong e da forma admirável como conduziu a sua devolução à China. Às 0 horas de 1 de Julho de 1997, a Union Jack é recolhida e os Ingleses partem, de barco, como haviam chegado, de cabeça levantada e ao som do Rule Britannia, como sempre.
Perante este modo de tratar a soberania, não tenho duvida que Chris Patten vai ser, se vier a ser, um excelente presidente da Comissão Europeia.
Porque é que o Iraque me entristece
Saiu há dias, não sei bem onde, um artigo que explica muito bem o que sinto acerca daquilo em que se está a tornar a intervenção no Iraque. Uma trapalhada das sérias. (By the way: Meu caro PPM, usem-se todos os argumentos para defender a permanência das tropas, menos as afirmações de alguém como Ramos Horta, sob pena de descredibilização. A mim, nada interessa o que diz o Ramos Horta sobre este assunto. Um tipo que vive ‘à conta de’ não tem estatuto e independência para dar palpites, para além de não ter cabeça nem sabedoria para dizer o que é bom e o que é mau). Adiante. Os americanos não podem recuar, não devem recuar, e os seus aliados, os que querem sê-lo nos momentos em que os aliados são mesmo necessários, devem igualmente lá ficar. Agora, que isto está a ser mal conduzido, não tenho muitas dúvidas. O Iraque tornou-se num barril de pólvora, ou numa corda de bombas chinesas que rebentam diariamente causando maiores ou menores danos, sempre grandes para quem os sofre. Já sei que, graças a esta ‘séria trapalhada’, foi deposto o assassino Sadam, que este pagou pelos males a que durante anos submeteu os seus concidadãos, que teve o seu castigo, que isso é positivo e de aplaudir. E é. Mas, qual o preço que vai custar este castigo. Poderá ainda ser cedo para dizê-lo, porém, de dia para dia, afigura-se-me cada vez mais claro que é um preço excessivo. Não me venham com conversas ingénuas e politicamente correctas de que qualquer preço é um bom preço quando o fim é depor um ditador sanguinário. Por esse raciocínio, básico, porque não abrir guerra a outras ditaduras, doa a quem doer. Coreia do Norte e Cuba, por exemplo. Atacar estes países. Invadi-los. Livrar os seus povos da opressão dos amigos do Bernardino. Hajam os mortos que houverem, resulte a instabilidade para o mundo que resultar. Depor o Ditador sanguinário é sempre um bom fim, mas se para tal for necessário pôr o mundo de pantanas, teremos que ponderá-lo muito bem.
Como as coisas estão – com bandos à solta por todo lado, atentados espalhados por sete cantos, guerras e guerrilhas religiosas, saques, raptos e sequestros, e mais os episódios, pontuais, mas de impacto profundo, chocantes por tudo e sobretudo por serem inesperados (eu, pelo menos, não esperava) das torturas, onde aparece uma miúda, um calhau, uma gaja miserável que mais parece um puto, a levar um indefeso iraquiano nu por uma trela, como um cão. A infligir a maior humilhação que pode ser infligida a um árabe. Pior que qualquer decapitação. Pior que qualquer tortura.
Não se podem levar mulheres-soldado para tomar conta de prisioneiros árabes, mesmo quando as mulheres-soldado tomam conta deles de acordo com a Convenção de Genebra – o que, não duvido, quase todas as americanas soldados fazem –, é sempre uma humilhação e uma forma de tortura para um árabe estar preso às suas ordens. Os think tanks da D.C. e arredores, tinham obrigação de saber isso e não cometer erros infantis. Usem as mulheres em todas as outras guerras, mas não na frente de combate com árabes, sobretudo a guardá-los (ler o artigo na última Spectator sobre este assunto).
Dizia eu, como as coisas estão, a solução parece não existir, pelo menos a boa solução. Há, pois, que remediar. E, para isso, é fundamental que se passe o controlo do terreno para os locais. Que os aliados venham para a retaguarda, ajudando no que for preciso, mas fora da rua, fora da vista daquela gente que, se um dia os viu como libertadores – e muitos e bem, viram – começa agora a odiá-los.
Tive mixed feelings relativamente à invasão do Iraque, mas, em momento algum, deixei de tentar defender os americanos, procurando, às vezes com grande esforço, argumentos para sustentar as suas acções. A operação militar correu bem. Congratulei-me com a queda de Bagdad, com a prisão de Sadam, com a esperança que isso trouxe a tantos e tantos iraquianos. Mas, agora, começo a temer que tenha sido tudo um grande disparate. Que ao Sadam deposto acabe por suceder um novo Sadam (dizem alguns que é a única forma de por ordem no Iraque, sem passar por uma verdadeira colonização americana), que sobre a cabeça dos americanos, para além do peso das baixas, tornem a voar os complexos do tipo Vietname, fragilizando a sua margem de manobra na política mundial. Que no Iraque, a um regime sanguinário laico, se siga um regime fundamentalista também sanguinário, sem qualquer fantasia de democracia.
Quero, espero, faço por acreditar, que ainda é possível não acabar assim. Mas tenho dúvidas, e, por isso, aqui as conto.

5.13.2004

E como hoje continua a ser um bom dia para celebrar
Parabéns ao Quinto !
Como diria Neil Hannon:

Raise your glasses high
Drink the cellar dry
Raise your glasses high
And drink the all town dry
O Barnabé dá catequese aos seus 900 leitores
(A Fátima, chegam mais umas centenas de milhares de peregrinos)

O Barnabé voltou a uma das suas cruzadas preferidas – atacar a igreja católica e os católicos, a propósito de o que quer que seja. Desta vez, o pretexto é Fátima.
Não sou um católico confiante. Acredito que posso acreditar. Nunca fui a Fátima, nem fiz qualquer peregrinação, nem sequer sou praticante do mais elementar ritual que é ir à missa, mas tento, com muitas falhas, ser um bom cristão.
Apesar do meu fracasso espiritual, uma das coisas que mais me repugna é a forma militantemente ressabiada como certa esquerda, sistematicamente, aponta o dedo aos católicos, usando-os como arma de arremesso politico – como se a religião existisse contra essa esquerda, para dar cabo dela, para acabar com a fé que os poucos que ainda a seguem têm que ter para nela continuarem a militar. É-me totalmente indiferente que se brinque ou goze com a igreja, com os crentes ou com os rituais da fé, desde que seja com o propósito de fazer rir, que tente ter graça apenas para ter graça, que não tenha por trás segundas intenções, que são as primeiras, de combater os católicos, de censurar a sua liberdade de expressão e de manifestação. Portugal não é o Irão, e o cristianismo, mais ainda o catolicismo, é, e digo-o sem qualquer juízo de valor subjacente, uma religião tolerante e aberta. É um facto. Em regra, os católicos não se importam de ser objecto de anedotas e, inclusive, a maioria, ri-se livremente quando lhes acha graça.
Sucede que, o que se assiste no Barnabé não é nada disso.
A esquerda moralmente superior que martela aqueles posts encara o ataque aos católicos como uma missão dos lúcidos para salvar do obscurantismo os desgraçados que nele vivem submersos. Para esta esquerda radicalmente pura, sempre consciente do bem e do mal, do certo e do errado, sempre a julgar, sempre a avaliar, sempre a pregar, a dar sermões, a exigir confissões, os únicos católicos sensatos, são aqueles que põe em causa o próprio catolicismo, ou por outra, são os não católicos.
O cartaz da Irmã Lúcia, que até poderia ter graça noutro contexto, aqui assume um carácter ofensivo e grotesco, mesmo para quem não é devoto de Fátima. Os Barnabés não conseguem ter um mínimo de humildade para conceber que alguém, voluntariamente, faça um voto de clausura e passe o resto da vida a rezar. Mas, mesmo não conseguindo conceber (a mim, também custa), podiam, ao menos, não se ofender com isso. O facto de a Irmã Lúcia ter feito votos de clausura e silêncio não é objectivamente mau para ninguém. Pode ser irrelevante para uns e bom para aqueles que acreditam que, a rezar, a Irmã Lúcia pode fazer bem ao próximo, mas nunca pode ser mau, a não ser para ela – que não é, pois decidiu livremente fazê-los. Já não vejo a mesma atitude dos Barnabés relativamente a práticas que são impostas noutras religiões, contra a vontade dos próprios crentes, ou, até, dos não crentes que por ela vivem rodeados. Mas isso é outra conversa.
Depois, o Barnabé incomoda-se que as peregrinações a Fátima passem na televisão e que, a comentá-las esteja um padre em vez de não-sei-quem que os Barnabés gostariam de ver. Como se a televisão, que em 90% do tempo passa merda que não diz nada a ninguém, não pudesse, com todo o propósito, passar um evento religioso, num país onde a maioria, bem ou mal, ainda é religiosa, correndo o risco de chatear os Barnabés, mas prestando um serviço público a muitos que a sustentam directa (RTP) ou indirectamente (as outras). As mesmas televisões que nos enchem diariamente de Louças, Fazendas, Dragos, a palpitar sobre o que lhes apetece, apesar de dizerem pouco a quase ninguém.
No anticlericalismo mais que jacobino dos Barnabés, denota-se uma frustração por a religião cristã, apesar de todos os ataques que lhe dirigem, continuar centena após centena de anos, sólida e a chamar milhões de pessoas. Ao passo que as religiões deles – os comunismos de diferentes cartilhas amalgamados e empacotados num embrulho politicamente correcto que os dissimula, mas não esconde o que de pior neles há – encontram-se, menos de um século depois, a agoniarem por mais umas centenas de votos para eleger mais um deputado a somar aos dois ou três, ou nenhum, que têm.
É tudo uma questão de dimensão, de fé e da falta dela.

5.12.2004



A vida até parece uma festa
Pareceu-me ter visto uma fotografia da Malu Mader no novo Bomba Inteligente de sempre. Quero que fique claro que sou absolutamente fã de Malu Mader, e, quanto mais não seja por isso, qualquer dia é um bom dia para celebrar.
Da betinha Lurdinha dos Anos Dourados à, por vezes irritante, mas, sempre magnética Maria Clara Dinis de Celebridade, passando pela dona de casa abandalhada de vários capítulos de A Vida Como Ela É, pela individualista/conformista Maria Lúcia dos Anos Rebeldes (grande série, grande personagem), e pela Top Model Duda, Malu Mader nunca envelhece. E eu, a vê-la, também não.

5.06.2004

Também eu quero dar os parabéns a José Pacheco Pereira

É um livre-pensador que não vacila nunca. À esquerda, à direita, em todo o lado, pensa e diz o que pensa, doa a quem doer. Mas, como dói a muitos, criou-se a ideia de que JPP é apenas muito bom a pensar e a dizer e menos bom a fazer. Dizem que não tem pachorra para aturar as guerrilhas quotidianas, para gerir as susceptibilidades, para tratar das pequenas coisas do dia a dia.
Não vou nessa.
JPP é de mais inteligente para não fazer tudo isso melhor que os que fazem disso a única ocupação. E, assim, espero que venha a fazer muito, para além daquilo que já faz melhor do que ninguém, nos jornais, nas televisões, nas rádios e no seu blog.
Também eu quero dar os parabéns ao Mourinho
Vamos, pois, ter duas gabardines de napa na final de Gelsenkirshen. Uma, pertença de um boulanger de nome Dos Campos, que em tempos ganhou a vida a jogar (e bem) futebol. A outra, daquele que, muito provavelmente, é o melhor treinador do momento.
José Mourinho regressou a Portugal e logo, por não lhes ter dado cavaco, foi posto de lado pela pandilha treinadores recorrentes e incompetentes – os Maneis Zés dos gansos embebedados; os Quinitos das finais da taça, da nossa triste taça, vestidos de fraque; os Cajudas primos da nandrolona que ‘metem a carne toda no assador’. Uma malta que tem alimentado o futebol português de mediocridade e primarismo. Aos ataques destes invejosos, seguiram-se os ataques, também invejosos – compreensivelmente invejosos, neste caso, dados os resultados que foi conseguindo no Porto –, de benfiquistas e sportinguistas, secundados em certa medida pelos media que neles vêm o público-alvo preferencial (afinal, são 9 milhões).
Perante tudo isto, Mourinho foi criando defesas que passam por uma atitude antipática e, geralmente, mal encarada, às vezes rude, que por sua vez provoca novos ataques e, assim, se alimenta a si própria.
Não acho que Mourinho seja arrogante. O que acho é que as pessoas, neste país (e, se calhar, nos outros), confundem arrogância com segurança, com auto-estima, com confiança. Só aos modestos ou falsos modestos é dado direito de vencer, e nunca àqueles que partem para a luta convencidos que vão ganhá-la – onze contra onze, a bola é redonda, todos os resultados são possíveis, a conversa estafada de sempre.
Mourinho teve a lata de ser diferente. Disse que ia ganhar. Mostrou-se convencido que ia ganhar, porque estava convencido que ia ganhar. Ganhou e é um convencido. So what? O que é que interessa que ele seja convencido se tem todas as razões para sê-lo, como se tem visto.
Gosto de Mourinho. Digo-o agora, como disse há três ou quatro anos quando meia dúzia de grunhos da Juve Leo impediram que viesse para o Sporting. Digo-o, por muito que isso choque os meus amigos mais susceptíveis. Gosto de Mourinho, porque Mourinho sabe muito de futebol. Sabe mais do que nós, que nos limitamos a ver jogos (ainda que milhares de jogos), o que, parecendo natural, é pouco habitual, quando falamos de treinadores portugueses. Mais. Mourinho, nas poucas vezes em que fala de futebol, nas poucas em que lhe dão oportunidade de falar sobre futebol e não o enchem com o emaranhado de questiúnculas e casos da nossa bola, consegue ser interessante. Mourinho sabe de táctica e de estratégia – expressões que na boca de um Gabriel Alves metem dó, com Mourinho fazem sentido quando aplicadas ao jogo que me estraga tantos fins-de-semana. Mourinho sabe ‘montar’ a equipa (ao que dizem as más línguas, por saber montar na equipa). Mourinho sabe muito. É muito competente. É profissional e, por isso, ganha.
Pois então, que ganhe ao Mónaco.
Devia ser proibido jogar-se à bola no Mónaco. Não faz sentido haver lá um clube de futebol. Mónaco é Formula Um. Mónaco é Roleta. Mónaco é Stephanie (ou melhor, era Stephanie, há muitos anos). Mónaco é circo. É França com a mania que não é. Mónaco não é futebol; quanto muito é gala do futebol.
Que se lixe o Pinto da Costa e o putanheiro Reinaldo Teles. Nunca antes desejei tanto que o Mónaco perdesse. Espero nunca mais vir a desejar que o Porto ganhe.
M & Ms
Decidi, finalmente, comprar o Metal Machine Music (MMM). Depois de muitos anos de dúvidas e hesitações, de tormentos por não o ter, de angústias por o querer e não querer, entendi por bem que não podia passar mais tempo sem ele. Mas, cuidado.
MMM não é um disco para ser ouvido e nem sequer é um disco que possa ser posto tocar para outros ouvirem. MMM é para guardar na prateleira; é para fazer figura ao lado dos outros; para ser ostentado e exibido a quem por lá passar; para ser manuseado, desarrumado, posto na gaveta, dela retirado, para cima do sofá, da mesa-de-cabeceira, para o chão, de onde é levantado para de novo na prateleira ser posto. Nunca para ouvir. Porque em MMM não há ritmo, não há melodia, não há harmoia, não há música, mas tão só uma barulheira infernal feita às três pancadas por Lou Reed com a ajuda de uma panóplia de tralha, num dia em que quis ser contemporâneo. No dia em que Lou Reed quis ser incompreendido e pretensioso, e pedante, e parvo. Em que julgou que era o Stockhausen do Lower East Side, e pensou que podia ser respeitado, ou insultado, ou insultar todos os seus fãs, a pretexto dos insultos que previu receber.
MMM é uma fraude, mas é também o disco que Lester Bangs, num dos melhores textos jamais escritos sobre um disco, considerou the greatest album ever made.
MMM é uma merda, é inacreditavelmente mau, mas, se nos dermos ao prazer de ler o que Lester Bangs sobre ele escreveu, também nós, por uns momentos, o acharemos o melhor disco de sempre.

5.04.2004

Life on Mars
Tenho acompanhado com muito interesse a chapadaria entre o Barnabé e o Acidental.
Faz falta, de vez em quando, um número destes para animar a blogosfera política.
Só fiquei um pouco assustado com a expressão “os Barnabés deste mundo”. Assustado com a possibilidade de os Barnabés não serem todos deste mundo. De existirem Barnabés noutros mundos. Discos voadores do Sérgio Godinho. Danieis Oliveiras verdes com antenas na cabeça a martelarem centenas de posts espaço fora. Cartazes do 25 colados nos anéis de Saturno. Manifs espontâneas no deserto marciano contra a invasão por sondas do grande Satã. Reais, Lavouras, Rodions, Thirdbacus, Warewolfs, a comentarem desenfreadamente nas caixas negras de naves espaciais.
O que é que o Barnabé tem que é diferente dos outros?
O que é que o Barnabé tem que é diferente dos outros?
O que é que o Barnabé tem que é diferente dos outros?
Repete a voz pausada e artificial de Hal 9000 ao longo da sua viagem a Júpiter e para lá do infinito.

5.03.2004

Desintenção de voto (ou talvez não)

Princípio de Peter
Aos fadistas, e em especial aos Câmara, só deveriam ser permitidas candidaturas nas autárquicas de Sintra, ao contrário do que o nome indica, não para a dita mas para a Junta (de Colares), apenas e só em listas do PPM, depois de extinto este partido, claro. Tudo o mais é uma anedota.

Porém, bem vistas as coisas...
Em havendo incompatibilidade entre cantar fados e o exercío do mandato de deputado europeu
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