5.06.2004

M & Ms
Decidi, finalmente, comprar o Metal Machine Music (MMM). Depois de muitos anos de dúvidas e hesitações, de tormentos por não o ter, de angústias por o querer e não querer, entendi por bem que não podia passar mais tempo sem ele. Mas, cuidado.
MMM não é um disco para ser ouvido e nem sequer é um disco que possa ser posto tocar para outros ouvirem. MMM é para guardar na prateleira; é para fazer figura ao lado dos outros; para ser ostentado e exibido a quem por lá passar; para ser manuseado, desarrumado, posto na gaveta, dela retirado, para cima do sofá, da mesa-de-cabeceira, para o chão, de onde é levantado para de novo na prateleira ser posto. Nunca para ouvir. Porque em MMM não há ritmo, não há melodia, não há harmoia, não há música, mas tão só uma barulheira infernal feita às três pancadas por Lou Reed com a ajuda de uma panóplia de tralha, num dia em que quis ser contemporâneo. No dia em que Lou Reed quis ser incompreendido e pretensioso, e pedante, e parvo. Em que julgou que era o Stockhausen do Lower East Side, e pensou que podia ser respeitado, ou insultado, ou insultar todos os seus fãs, a pretexto dos insultos que previu receber.
MMM é uma fraude, mas é também o disco que Lester Bangs, num dos melhores textos jamais escritos sobre um disco, considerou the greatest album ever made.
MMM é uma merda, é inacreditavelmente mau, mas, se nos dermos ao prazer de ler o que Lester Bangs sobre ele escreveu, também nós, por uns momentos, o acharemos o melhor disco de sempre.
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