10.31.2004

o Inimigo Público errou

Agenda política de Santana Lopes (corrigida)
8h30m - Tomar o pequeno-almoço e ler a "Dicas da semana"
9h00m - Deitar
16h00m - Acordar
16h30m - (...)

this is today (e não está nada fácil)

Pop art is a nasty bit of work. It toadies to the powers that be and plays to the peanut gallery; broadcasts our dirty secrets but never lets us in on its own. Pop art is pushy, unapologetic, expedient—and amnesiac. It glories in the way things are and doesn't worry much about the way they should be. But Pop knows how to turn on the charm. It's brash, it's quick, it's fun to hang with. You can count on Pop to keep things light, but it's better when it shows its depths.

[Jack Bankowsky; excerto do editorial da ArtForum de Outubro de 2004]



Um número especial para aprender qualquer coisa sobre (mais de) meio século de Pop art e perceber porque é que esta corrente, graças à sombra tutelar de Andy Warhol, se encontra num beco sem saída criativa.

10.29.2004

Haiku Buttiglioni (contraditório)

Não gosta de homos
E fêmeas
Só em casa

Haiku Buttiglioni

Crê em Deus
E di-lo
E adeus

Imbróglio de Sócrates (não joga à bola)

- Conhece-te a ti mesmo!
- Hã?... Só sei que nada sei
- Hum... conhece-te a ti mesmo...
- Só sei que nada sei!!!

desse ponto de vista

Compreendo bem o que queres dizer - Rui. Também eu prefiro o sexy hot (apesar do excesso de filmes made in brazil) ao canal parlamento europeu.

10.28.2004

Rocco senza i suoi fratelli (ou, a ditadura do politicamente correcto)

A censura que o parlamento europeu exerceu sobre Rocco Buttiglione, baseada única e exclusivamente nas suas convicções morais, é, parafraseando Álvaro Cunhal, uma coisa muito triste.
Rocco é católico e, como católico coerente que é, considera a homossexualidade um pecado. Mas não só: tal como todos os católicos coerentes, também considera pecado, a infidelidade, o divórcio e por aí fora. Contudo, isso não o impede de conviver com homossexuais, com infiéis (no sentido acima referido) ou com divorciados. De lhes apertar a mão. De ser amigo deles. Como não impede a quase totalidade dos católicos, muitos deles, aliás, homossexuais, infiéis ou divorciados. O catolicismo é a religião mais tolerante de todas. Convive alegremente com o pecado, porque tem a consciência de que o pecado faz parte da sua essência. É claro que há uma moral católica, mas, na esmagadora maioria dos casos, é uma moral que se exerce de forma branda, uma moral indicativa que dá inteira liberdade aos católicos (repito, aos católicos) de a seguirem ou de não a seguirem. O catolicismo é, de longe, a mais livre das religiões.
Ao contrário, esta esquerda pós-moderna, envergonhada do seu passado, hiper-moralista ao ponto de ser incapaz de separar a moral da política – que impõe a sua moral na política, e censura a moral alheia fora dela –, é profundamente intolerante e hipócrita. A esquerda que elimina Buttiglione por causa de uma sua convicção pessoal é exactamente a mesma esquerda que, à boca fechada, se indigna e contorce por haver homossexuais que defendem uma política da família (da família tradicional, entenda-se), ou outras quaisquer políticas conservadoras. À boca fechada, porque às claras estão calados. Por boa educação – dizem eles; por cobardia – digo eu.
Espero que a Itália não ceda e volte a indicar Buttiglione para a comissão. Este caso é demasiado importante para que se fique por um mero adiamento.

10.26.2004

a solução para os problemas do mundo

Elevar freguesias a concelhos? Sou totalmente contra. Em contrapartida, já vejo com alguma simpatia a ideia de enterrar as freguesias nos concelhos. E, já agora, os concelhos nos distritos, os distritos nas províncias, as províncias no país, o país no mundo, e o mundo no universo.

hão de se ver comigo

Só se for ao espelho. Caso contrário apenas conseguirão ver-me a mim.

insónia

Ultimamente, tenho tido algumas insónias. Só que o nome dela não é bem Sónia.

hotmail

Mas não há nada mais frio do que quando ela não está lá.

10.25.2004

música obliqua

“Eu, cada vez mais, estou interessado pela música. Na verdade, eu sempre achei a música superior”*. Se a música é superior – e eu não vou, obviamente, pôr isso em causa – então Caetano Veloso é, de entre os vivos, a sua mais genial expressão. Aquilo a que ontem à noite pude assistir em Lisboa, não foi senão um daqueles instantes que se repete cinco, seis, sete, não muitas mais vezes, numa vida. Daqueles momentos em que se tem a certeza absoluta de estar no sítio certo - de todos os sítios do mundo -, na hora certa. Quase duas horas. Tão, tão certas.


*[Caetano Veloso - entrevista a Geneton Neto in Caderno de confissões brasileiras, 1983]

10.24.2004

os americanos representam grande parte da alegria existente neste mundo*

"De Cole Porter eu sei muitas canções, sei reconhecer que são dele. Meu interesse por música americana, por jazz, cresceu; fiquei conhecendo mais o reportório de Gershwin e o de Cole Porter também. Eu gosto muito de cantores, sobretudo cantoras americanas, e adorava ficar ouvindo gravações de canções de Cole Porter, entre outras. Fui admirando cada vez mais Cole Porter, vendo como ele era genial. Mas houve um momento em que o interesse específico teve uma virada supersignificativa. (…) Eu detesto aqueles guaranás e band-aids no calcanhar, daquela música de Aldir Blanc, por causa do amor imenso que eu tenho por esses momentos de You’re the Top. (…) No dia em que eu lia a letra de You’re the Top, o Cole Porter virou figura do primeiro time da minha cabeça."

[Caetano Veloso. Caetano – Esse Cara. Heber Fonseca. Editora Revan. RJ, 1995]

*Americanos

p.s.Caetano Veloso canta hoje no cruel Pavilhão Atlântico excertos do Great American Songbook e - espero - mais qualquer coisa.

p.p.s. Outros textos (muito interessantes) sobre Cole Porter poderão ser lidos aqui.

estudantes

Ao contrário de Caetano Veloso, entre os estudantes e a polícia, tendo a escolher a polícia. Mas é preciso ver que eu nunca estive preso e que Caetano pouco ou nada foi estudante.

Fever Pitch

Wayne Rooney- Van Nistelrooy - Cristiano Ronaldo (Alan Smith)

E o (ultimamente imbatível) Arsenal lá levou dois secos

o país profundo

Converso com uns amigos jornalistas. Dizem-me que, nas redacções, se vive um ambiente de coacção moral – “ou a malta começa a portar-se bem, ou vai tudo para o olho da rua”. Contraponho com a impressão que tenho, ao ler os jornais e ao ver as televisões, de que ninguém se está “a portar bem”, o que, face às ameaças que evocam, é, no mínimo, estranho. Dizem-me que é uma reacção desesperada, uma fuga para a frente, um esticar da corda, mas que – não tenha eu dúvidas – as ordens são claras e são para mandar calar quem incomoda.
A conversa evolui. Passamos para um novo assunto, sempre dentro do vasto tema que é o país possível. Novas revelações dos amigos jornalistas: aquele é isto; aquela é aquilo; o não sei quantos gosta é de …; esse, esse gajo é o pior de todos; todos têm podres, todos vivem essencialmente a tentar escondê-los, todos são esquizofrénicos, nada é o que parece, ou – melhor – tudo é pior do que o mau que já aparenta ser.

Ins...

00.00 Quiet is the new loud
00.45 Riot in an empty street
01.30 Quiet is the new loud
02.45 The way we were

10.23.2004

What holds the world together

O vento que sopra por entre o cabelo da Gena Rowland. A boca dela - tão grande que consegue engolir o mundo e todo o vento que nele sopra. Ela.

(saiu o novo disco dos American Music Club)

10.22.2004

As tatuagens de Asia Argento (iii)

AN ANGEL: "It's taken from a painting by the Belgian painter Delvaux... But she's not an angel, I added the wings. And I did it there (rising from her pubis mound) not for some sexual iconography of a flying pussy, but more to hide it from my father, who was not so happy about me having all these tattoos. I remember when I finally showed it to him, like three years after, 'cos I managed to hide it for a couple of years, he said that now I could fulfill my dream and work in the circus as the tattooed wonder."

uma t-shirt nova

Hum... Quero ver isso

wishful thinking (ii)

A Inês não apagou os arquivos

10.19.2004

wishful thinking

O blog my moleskine não acabou

As tatuagens de Asia Argento (ii)

TWO SNAKES AND A SUN: "It's over my ass. I did the two snakes in Minneapolis when I was shooting Trauma. I was 16. The sun that's in between, I did that in Amsterdam (again) when I was 17. The snakes were taken from a Medusa statue that I saw in Rome, and they were interwined around her waist. And the sun... I dunno', I drew it... but all these tattoos, I have to say, I would have a million symbolic reasons that were very true at the time I was having the tattoo, very romantic in a way...
You could say: "I got this tattoo for a reason'" - but not really, I really liked those drawings, and this is the bottom line."

10.18.2004

The dark side of her mind. The bright side of our lives

A brutal exposição de Paula Rego na Fundação de Serralves fez-me lembrar, para além de muitas outras coisas (a riqueza sugestiva numa obra tão figurativa, narrativa e expressionista é uma das marcas da Paula Rego), um dos últimos posts da Sara, onde se fala “na mão naquilo, aquilo na mão, aquilo naquilo, aquilo atrás daquilo, com a língua naquilo”, as pernas abertas, a cabeça no meio delas, o braço enfiado, ou como somos todos (os humanos) brutos, feios, porcos, maus - acrescento eu.
No Porto estão duas obras que sobressaem das demais: The Executioner Garden e respectivos estudos – através dos quais se percebe a excelência da técnica (a da arte percebe-se intuitivamente) da autora, eximia no desenho e na perspectiva -, e Possession - um políptico onde uma figura semelhante ao seu auto retrato se degladeia com algo que não se vê, mas cuja presença se sente de forma tão intensa como em poucas outras obras pictóricas de que me recordo.
Ao percorrer a exposição, é impossível não pensar nas ideias feitas que acompanham a obra de Paula Rego, e que, por isso mesmo, são também as suas ideias fortes: o grotesco, Walt Disney em versão para maiores de 18, o feminismo, o surrealismo ou o pesadelismo de uma infância sempre presente. São cento e muitos quadros, entre os quais há vários inéditos, múltiplos, estudos preparatórios e gravuras. Uma maravilha. Paula Rego trata-se mal e trata-nos mal: animais no topo da hierarquia social, mulheres com cara e corpo de homem, e homens com caras apaneleiradas e as calças caídas. Mas, também, de que é que estavam à espera?

10.14.2004

As tatoos de Asia Argento (i)

AN EYE: "It's on my shoulder, I got it on my first trip to Amsterdam when I was 14. I was so high on hash, and while I knew that I wanted an eye, I really didn't know how I wanted it. The guy at the tattoo place felt sorry for me, and anyway he did it."

It sounds like a musical wet dream*

dedução lógica

O Dalai Lama também é impotente. Sendo assim, terá que ser o passivo

concertos para piano de Paganini

Não subestimem demasiado o homem. Ou será que querem levar com ele por muito mais tempo?

10.13.2004

Podres de boas

Mas será que, estando podres, ainda são boas? Ou, sendo podres, ainda estão boas?

Agora andas a ler blogs às escondidas

Mas alguém lê blogs sem ser às escondidas?

Who the fuck said that this is something to be proud of

A TSF é igual a liberdade da expressão popular* (ou qualquer coisa parecida)
*de um spot publicitário

10.11.2004

Nada (circular)

Aqui, não há nada. Ali, talvez haja qualquer coisa

Bright Lights, Big City (iv)


Los Angeles, Elizabeth Hurley
Mario Testino, 2000

Bright Lights, Big City (iii)

Entalada entre as montanhas, o deserto e o oceano, a cidade expande-se até perder de vista. Palco para milhares de filmes - como é natural -, mas não só. Desde que há cinema, Los Angeles tem sido uma das suas mais recorrentes personagens:
A Los Angeles pós-apocaliptica de Blade Runner; a Los Angeles vintage de The Big Sleep; a Los Angeles surreal de Barton Fink, The Big Lebowski ou Magnolia; a Los Angeles onírica de Mulholland Dr., a Los Angeles seca de Chinatown; a Los Angeles desencantada de In a Lonely Place; a Los Angeles debochada de Boogie Nights; a Los Angeles decadente de Sunset Boulevard.

Bright Lights, Big City (ii)


The Damm Family in Their Car, Los Angeles, CA, 1987
Mary Ellen Mark


Los Angeles
Sarah Morris
2004

Bright Lights, Big City



Em Collateral – o último filme de Michael Mann -, a única coisa que verdadeiramente interessa – e interessa muito – é a forma como a noite de Los Angeles é filmada.

10.09.2004

equivocados

Ouço por repetidas vezes dizer “não há miséria que não acabe em fartura”. Equivocados, andam todos equivocados. De outra forma, saberiam bem que não há miséria que acabe, ou - melhor - não há miséria que não acabe numa miséria ainda maior.

10.07.2004

sobre Burroughs e Jelinek

De William Burroughs não gosto de nada, a não ser da voz (que pode ser ouvida aqui em todo o seu esplendoroso monocordismo) e da adaptação que David Cronenberg fez de Naked Lunch.

De Elfriede Jelinek não conheço nada, a não ser a adaptação para cinema que Michael Haneke fez de Die Klavierspielerin (A Pianista) - um dos melhores filmes que vi nos últimos anos.

10.06.2004

grab my shaft, blow my horn

Vejo Shattered Glass, uma fita para sádicos (como eu) sobre os delírios de Stephen Glass - um deslumbrado que ia dando cabo da revista New Republic. Só que, de cada vez que Chloe Sevigny (uma das jornalistas da trupe) aparece no ecrã, eu, instintivamente, ponho-me a pensar noutras coisas. Noutras fitas.

Cabrita Reis no Chiado

Para além das colossais instalações escultóricas, Pedro Cabrita Reis, de quando em vez, também se dedica a desenhar sobre o papel. Na galeria do simpatiquíssimo João Esteves de Oliveira - uma galeria comercial (Rua Ivens, 38, Chiado) que tem feito um trabalho notável na divulgação de obras em papel dos melhores autores portugueses (nem sempre os mais óbvios) - irão estar expostos a partir de hoje, mais de trinta desenhos de Pedro Cabrita Reis, a grande maioria dos quais da década de 80 e princípios dos anos 90. A visita, logicamente, aconselha-se.

10.05.2004

república

Na minha família, sempre que alguém queria apontar uma grande trapalhada, balbúrdia, confusão, barafunda, exclamava “isto parece uma república!”. Nos últimos tempos - apenas nos últimos tempos -, foi acrescentado à república o título de das bananas.

república vs monarquia

Em abstracto, escolho a monarquia. Em concreto, não escolho nada.

quem disse que eu só gosto de discos que ninguém conhece



Este, é provável que muitos não conheçam. Mas quem está mal são eles, não eu.

10.04.2004

leituras para depois do Indie

O Indie Lisboa apareceu (já não me lembro bem porquê) associado ao festival de Sundance – o mais famoso festival americano de cinema independente. Claro está que, para alguns, de independente Sundance não tem nada. Mas, para estes, tudo o que seja feito com mais do que uma handycam, uma cadeira e uma mesada, está automaticamente excluído do nobre conceito de cinema independente.
Passando adiante - porque o objectivo deste post não é desancar nos radicais do cinema-orgulhosamente-sem-meios -, valerá a pena àqueles que estiverem interessados em saber mais sobre o festival de Sundance, ler o livro Down and Dirty Pictures de Peter Biskind, cujo subtítulo é, exactamente, Miramax, Sundance, and the rise of independent film.
Confesso que ainda não me abalancei a ele. Em qualquer caso, a avaliar pelo anterior trabalho de Biskind: Easy Riders, Raging Bulls – How the sex 'n' drugs 'n' rock 'n' roll generation saved Hollywood -, um verdadeiro must no que respeita a gossip sobre a indústria cinematográfica, onde são descritos em pormenor variadíssimos episódios da vida artística e pessoal dos moviebrats (Coppolas, Scorceses, De Palmas, Schraders, Spielbergs e companhia), temo bem que este seja um livro de leitura obrigatória.




Indie Lisboa



A minha escolha
Jojo in the Stars


(Terminou ontem a primeira edição do Indie Lisboa - um festival de cinema que, à semelhança de quase todos os ‘eventos alternativos’ que por cá vão ocorrendo, foi maioritariamente frequentado por weirdos (incluindo eu). Uma lufada de ar fresco que trouxe a possibilidade de ver alguns óptimos filmes - o já referido Jojo in the Stars (obra-prima), The Last Customer, Fog of War, Breaking News, One Year Later, Oïo e 10 on Ten - que, de outro modo, muito provavelmente, nunca veria, ou apenas veria em DVD. Por outro lado, foi também um pretexto para ir regularmente ao São Jorge - a mais civilizada sala de cinema de Lisboa, apesar do urgente upgrade de que necessita (ar condicionado, alguém que trate de colocar um ar condicionado).
Muitos parabéns a quem o organizou, incluindo, como não podia deixar de ser, à Sara. Que venha o próximo. Com novos filmes e os weirdos do costume)

10.02.2004

movies for the ears iii

Tom Waits has made a career out of doing precisely the wrong thing. While the Beatles invaded America, he attempted to get a job as a Sinatra-style crooner at a San Diego golf club. As San Francisco turned psychedelic, he travelled to Haight-Ashbury with the intention of becoming not a hippy, but a be-bop-fuelled beatnik. When the US became dominated by the 70s west coast sound - cocaine-numbed faux-country about takin' it easy - Waits was to be found growling mournful piano ballads in which drunken low-lifes without a dime in their pockets cursed their luck while staring at the hookers through the neon-lit diner window (...)

(Alexis Petridis no The Guardian)

movies for the ears ii

Like an altar built of barbed wire, scrap metal and broken glass, “Real Gone” hammers ungraceful materials into something like beauty.

(New York Times)

movies for the ears

Após um primeira audição do último Tom Waits, estou, como é natural, atordoado.Para já, destaco a terceira faixa: Sins of your Father. Algures no sul da Florida, possivelmente numa casa debruçada na ponta de um Key, do velho transístor sai uma música a meio caminho entre o Rocksteady e Blues que traz logo à memória outras músicas como Clap Hands (Raindogs) ou Straight to the Top (Franks Wild Years). Um tour de force de dez minutos e meio. A voz, cada vez mais afogada na quinquilharia que a rodeia, salta, directa, do fundo da alma. Ouça-se a entoação com que Waits canta (sim, porque aqui canta) “I’m gonna take the sins of my father; I’m gonna take the sins of my mother, I’m gonna take the sins of my brother (…)”

10.01.2004

feitas as compras

de sexta-feira ao fim da tarde, há que distribuí-las por alguns dos meus bloguistas preferidos:


para a Inês


para o Rui


para o Diogo


para mim (apenas blogueador, jamais preferido)

Kerry vs Bush

Não faço ideia de quem ganhou o debate, até porque os critérios comummente usados para aferir o resultado destes confrontos são cada vez menos substanciais: a postura dos candidatos, a forma como são ditas as coisas, o maior ou menor à vontade, o olhar, a cor da gravata e outros aspectos marginais, mas que mediaticamente podem assumir enorme importância. No entanto, atendendo às coisas que foram ditas e não já à forma como foram ditas, não tenho dúvidas que, dentro da pobreza a que se assistiu (que não é de agora - reveja-se, por exemplo, o famoso debate Nixon vs. Kennedy e a prestação deste último), Kerry, apesar de tudo, disse as mais acertadas.
O problema de Kerry está na falta de consistência. Na ânsia de não chocar ninguém, Kerry não consegue ser suficientemente incisivo nas suas criticas nem retirar delas todas as consequências. Sobre o Iraque, Kerry disse - e eu estou totalmente de acordo - que Sadam não era uma prioridade, e que canalizar os esforços que a América canalizou para derrubá-lo, no meio de uma guerra total ao terrorismo, tinha sido um erro. Com isto, Kerry deu a entender que subjacente ao seu juízo estava a convicção de que Sadam não era uma ameaça, pelo menos ao ponto de justificar uma guerra. Ora, Kerry, ao longo do debate, acabou por reconhecer mais do que uma vez que, também ele, havia visto Sadam como uma ameaça, concedendo assim a Bush a possibilidade de, na réplica, o arrumar, dizendo, com um estilo algo primário, que se Sadam era uma ameaça ele, ao acabar com ela, havia feito o que lhe competia. Depois, para justificar-se do facto de ter considerado Sadam como uma ameaça e, apesar disso, criticar a invasão, Kerry centrou os seus ataques na forma como Bush conduziu a guerra - sem uma coligação alargada, sem a anuência da ONU, todos, a meu ver, argumentos menores -, ao invés de criticar de modo mais contundente a própria guerra e as consequências que, para já, estão à vista.
Kerry deveria ter dito abertamente que a invasão do Iraque foi um tiro ao lado; que Sadam nunca foi uma ameaça real; que não havia terrorismo fomentado no Iraque que justificasse tamanho esforço; que, bem pelo contrário, agora que não há Sadam nem qualquer outro poder sólido, o Iraque está a tornar-se num território fértil para novos terroristas. Mas não disse. Ou não o disse com a força que as circunstâncias exigiam. Kerry abordou estas ideias, mas fê-lo de forma tão tímida que não chegou para criar qualquer contraste significativo com Bush.
É claro que é difícil (para mim também, quanto mais para ele) reconhecer que, muito provavelmente, a guerra do Iraque foi um logro. Até porque isso significa aceitar que, ponderados os pós e os contras, teria sido melhor (excepto para os iraquianos) o Iraque ter ficado como estava, ou seja, com Sadam. A este respeito não há terceiras posições: ou a guerra era necessária e foi bem feita, ou não era e não foi.
Hoje, ao contrário de ontem, acho que não foi necessária e, pior, pode até ter sido contraproducente na, muito mais importante, guerra contra o terrorismo. Kerry, embora aparente achar o mesmo, por razões de comprometimento “patriótico” (que eu, como é óbvio, não tenho) não conseguiu dizê-lo convincentemente. Não sei se ganharia, ou não, caso conseguisse. Mas, pelo menos, mostrava ser uma alternativa.
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