10.18.2004

The dark side of her mind. The bright side of our lives

A brutal exposição de Paula Rego na Fundação de Serralves fez-me lembrar, para além de muitas outras coisas (a riqueza sugestiva numa obra tão figurativa, narrativa e expressionista é uma das marcas da Paula Rego), um dos últimos posts da Sara, onde se fala “na mão naquilo, aquilo na mão, aquilo naquilo, aquilo atrás daquilo, com a língua naquilo”, as pernas abertas, a cabeça no meio delas, o braço enfiado, ou como somos todos (os humanos) brutos, feios, porcos, maus - acrescento eu.
No Porto estão duas obras que sobressaem das demais: The Executioner Garden e respectivos estudos – através dos quais se percebe a excelência da técnica (a da arte percebe-se intuitivamente) da autora, eximia no desenho e na perspectiva -, e Possession - um políptico onde uma figura semelhante ao seu auto retrato se degladeia com algo que não se vê, mas cuja presença se sente de forma tão intensa como em poucas outras obras pictóricas de que me recordo.
Ao percorrer a exposição, é impossível não pensar nas ideias feitas que acompanham a obra de Paula Rego, e que, por isso mesmo, são também as suas ideias fortes: o grotesco, Walt Disney em versão para maiores de 18, o feminismo, o surrealismo ou o pesadelismo de uma infância sempre presente. São cento e muitos quadros, entre os quais há vários inéditos, múltiplos, estudos preparatórios e gravuras. Uma maravilha. Paula Rego trata-se mal e trata-nos mal: animais no topo da hierarquia social, mulheres com cara e corpo de homem, e homens com caras apaneleiradas e as calças caídas. Mas, também, de que é que estavam à espera?
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