10.28.2004

Rocco senza i suoi fratelli (ou, a ditadura do politicamente correcto)

A censura que o parlamento europeu exerceu sobre Rocco Buttiglione, baseada única e exclusivamente nas suas convicções morais, é, parafraseando Álvaro Cunhal, uma coisa muito triste.
Rocco é católico e, como católico coerente que é, considera a homossexualidade um pecado. Mas não só: tal como todos os católicos coerentes, também considera pecado, a infidelidade, o divórcio e por aí fora. Contudo, isso não o impede de conviver com homossexuais, com infiéis (no sentido acima referido) ou com divorciados. De lhes apertar a mão. De ser amigo deles. Como não impede a quase totalidade dos católicos, muitos deles, aliás, homossexuais, infiéis ou divorciados. O catolicismo é a religião mais tolerante de todas. Convive alegremente com o pecado, porque tem a consciência de que o pecado faz parte da sua essência. É claro que há uma moral católica, mas, na esmagadora maioria dos casos, é uma moral que se exerce de forma branda, uma moral indicativa que dá inteira liberdade aos católicos (repito, aos católicos) de a seguirem ou de não a seguirem. O catolicismo é, de longe, a mais livre das religiões.
Ao contrário, esta esquerda pós-moderna, envergonhada do seu passado, hiper-moralista ao ponto de ser incapaz de separar a moral da política – que impõe a sua moral na política, e censura a moral alheia fora dela –, é profundamente intolerante e hipócrita. A esquerda que elimina Buttiglione por causa de uma sua convicção pessoal é exactamente a mesma esquerda que, à boca fechada, se indigna e contorce por haver homossexuais que defendem uma política da família (da família tradicional, entenda-se), ou outras quaisquer políticas conservadoras. À boca fechada, porque às claras estão calados. Por boa educação – dizem eles; por cobardia – digo eu.
Espero que a Itália não ceda e volte a indicar Buttiglione para a comissão. Este caso é demasiado importante para que se fique por um mero adiamento.
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