10.24.2004

o país profundo

Converso com uns amigos jornalistas. Dizem-me que, nas redacções, se vive um ambiente de coacção moral – “ou a malta começa a portar-se bem, ou vai tudo para o olho da rua”. Contraponho com a impressão que tenho, ao ler os jornais e ao ver as televisões, de que ninguém se está “a portar bem”, o que, face às ameaças que evocam, é, no mínimo, estranho. Dizem-me que é uma reacção desesperada, uma fuga para a frente, um esticar da corda, mas que – não tenha eu dúvidas – as ordens são claras e são para mandar calar quem incomoda.
A conversa evolui. Passamos para um novo assunto, sempre dentro do vasto tema que é o país possível. Novas revelações dos amigos jornalistas: aquele é isto; aquela é aquilo; o não sei quantos gosta é de …; esse, esse gajo é o pior de todos; todos têm podres, todos vivem essencialmente a tentar escondê-los, todos são esquizofrénicos, nada é o que parece, ou – melhor – tudo é pior do que o mau que já aparenta ser.
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