1.31.2005

afinal não era spam








Videodrome, David Cronenberg, 1983. Hoje à noite, na sic radical, um dos melhores filmes dos anos 80 (com uma tal de Mrs. Deborah Harry).


começar bem o dia

Recebi um email da Mrs. Deborah Harry. Assunto: Your Assistance (Very Urgent).

1.28.2005

não há porque ser blasé (a não ser porque se quer)

Concordando com quase tudo o que aqui é dito sobre o golo do Paíto (olha a rima), a começar pela impossibilidade de se repetir e a acabar na humilhação que representou para os benfiquistas, sempre direi que são golos como este os que mais me interessam: do Sporting, contra o benfica, impensáveis, com sorte à mistura, no prolongamento, num alguidar chamado Luz, com menos um jogador, trapalhões – com certeza que sim – mas, muito mais do que isso, espectaculares.

Era uma vez, em Macau, um desgraçado condutor de riquexó que resolveu arriscar a sorte no casino. Nessa noite, ganhou os milhões mais do que suficientes para poder viver com a cabeça enfiada na tigela cheia de arroz o resto dos dias da sua vida. Nessa mesma noite, nesse mesmo casino, num par de horas, acabou por estoirá-los. Confrontado com o episódio, ripostou (em chinês – não me lembro se mandarim ou cantonês): é verdade que continuo pobre, descalço, e a acartar os outros no lombo. É verdade que a minha vida, tendo podido mudar, continua triste. É verdade, e a verdade é dura. Mas, pelo menos, que não é pouco, agora posso dizer que gastei xxxxxxxxx milhões numa só noite. E isso nunca mais ninguém me tira. (os chineses, como toda a gente sabe, são obcecados por jogo, qualquer jogo, desde que seja a dinheiro).

No dia em que o Paíto assinar por um clube filiado na associação de futebol da Guarda, depois de ter sido dispensado por um clube da associação de futebol da Póvoa do Varzim, onde aterrou vindo do Fafe, ao qual havia sido emprestado por um clube que por aí há, treinado por um homem que usa as golas levantadas, depois de naquele ter sido posto a rodar pelo Sporting – dizia eu –, nesse dia, o Paíto vai poder olhar cara a cara para os seus companheiros e, num balneário com as paredes por caiar (e, já me esquecia, um calendário oferecido pela unidade local de distribuição de produtos Nobre), reviver com indisfarçável orgulho "o grande golo do Paíto".

Insisto, foi um Grande Golo o golo do Paíto. Volto a insistir, foi um grande golo o golo do Paíto. Um dos que maior alegria me deu (esporádica, é certo, como são todas). Eu gostei muito. Ele, o Paíto, esse mesmo que marcou "o grande golo do Paíto", ainda gostou mais. E tu - deixa-te de tangas e não te armes em Rogeiro da bola - também.

1.27.2005

Então e o golo do Paíto...

... Não merece um comentário?
(se calhar não)

fomos melhores


Somos melhores.

1.25.2005

o mundo divide-se em dois

Entre aqueles que exigem o regresso de Júlio Isidro aos domingos à tarde e os outros.

a escassez estimula o consumo

Quanto mais tenho para gastar, menos me apetece gastá-lo.

em suma, esta choldra continuará a ser ingovernável

Não há dúvidas de que este país (como, aliás, quase todos) só é governável com uma maioria absoluta. Dúvidas não há de que os partidos que sozinhos podem ter essa maioria absoluta estão pouco ou nada interessados em governar.

1.24.2005

desconfio

Não fazia a mínima ideia de que encornar a namorada ou mesmo ir às putas fossem comportamentos pouco consentâneos com ser-se de esquerda. É que, sendo pelo menos metade do país de esquerda, a avaliar pelas minhas contas, ou a esquerda anda muito pouco ortodoxa ou alguém está a querer enganar-nos.

1.23.2005

onde é que está a hipocrisia?

O cansativo Francisco Louçã, provavelmente em estado de necessidade desculpante (eu não vi mas parece que estava a levar uma sova), lançou no final do debate com Paulo Portas a ideia de que quem não tem filhos não pode falar sobre vida (ou, descodificando-a de forma benevolente, a “ideia” de que quem não tem filhos não pode opinar sobre o assunto aborto). Uma enormidade - parece que estamos quase todos de acordo - que não merece mais comentários. Houvesse bom senso nas hostes do Bloco e este episódio, pelo que delas dependesse, teria morrido ali. Mas não.

Dias depois, alguns candidatos desta agremiação e parte da gente que à sua volta gravita sacaram da manga a palavra 'hipocrisia' para qualificar o comportamento de Paulo Portas. De acordo com o candidato a deputado pelo Porto, “Há um limiar de hipocrisia muito forte da parte de Paulo Portas, que constrói uma fachada de conservador, de homem de Estado, mas que depois não a leva até às últimas consequências". Ou seja – e agora cito o Público -, segundo o deputado bloquista, para ser fiel aos princípios que professa, Paulo Portas deveria constituir família e ter filhos.

Ora, por muito que me esforce, não me lembro de alguma vez ter ouvido Paulo Portas a defender que o ideal de vida de um homem (de Estado ou sem ser de Estado) é casar e ter filhos. Nunca o ouvi pregar as virtudes do casamento, nem as qualidades do homem que gera descendência. O que eu por várias vezes vi e ouvi, e gostei de ver e gostei de ouvir, foi Paulo Portas defender que as famílias, e as famílias mais numerosas, devem, em certos aspectos (nomeadamente fiscais), ser tidas em consideração. Defender uma política para a família, promovê-la quando se está no Governo, não é o mesmo que proclamar que todos e qualquer um devem “constituir família e ter filhos”. Até as cabeças mais primárias do Bloco são capazes de perceber isso.

O que representa então esta investida contra a invocada e alegada hipocrisia de Paulo Portas. Algo mais do que meras anormalidades, por piores que elas já sejam. O que representa isto, que afinal é exactamente o mesmo que representam as palavras de Louçã durante o debate, é uma insinuação moralista e cobarde que, por ser subliminar, apenas se dirige aos bons entendedores. É, por isso mesmo, estúpida, já que ineficaz. É, acima de tudo e numa só palavra, um nojo.

grandes nomes

1.20.2005

kinky Nastacia Kinski

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Calma que há-de abrir...

o silêncio de Deus

God only Knows, já dizia a música. Mas parece que não vai contar a ninguém.

1.19.2005

tempos houve em que era bem mais difícil curar uma bergaminite


1.18.2005

quem sabe, sabe

Que o Alberto Gonçalves tem razão, já eu sabia. Que tem toda a razão, passei agora a saber. Honkytonk Man é mesmo um dos melhores filmes de Clint Eastwood. Uma viagem serena, pontuada por raros sobressaltos, através do interior da América. Uma enorme história simples passada na estrada. Entre o Oklahoma e Nashville, Tennessee. Entre um sonho muito pouco convicto e um belíssimo final que nada (ou tudo) fica a dever a John Ford. Honkytonk Man é ainda o filme onde Clint presta homenagem a outra das suas paixões - a música country, algo de que eu, serenamente e sem grandes sobressaltos, também vou aprendendo a gostar.
Depois de revê-lo com olhos de ver e mais uma mão cheia de anos em cima, Honkytonk Man passou a ombrear com Bird e Play Misty for Me no topo da lista dos Eastwoods preferidos cá da casa. Só fica um mistério por desvendar: por que carga de água é que um homem que faz fitas deste calibre insiste em meter-se nos liftings.

1.17.2005

cuidado com o filme de Ingmar Bergman

(no prelo)

e do Toy, ninguém fala?

Há dias em que tenho a sorte de encontrar o disco certo.
E o que é o disco certo? - Pergunta quem lê isto.
É um disco arrebatador, que, música após música, canção após canção, surpreende, entusiasma, faz-nos sentir melhores pessoas, pessoas quase boas, e torna o mundo um lugar feliz – respondo eu.
Apothecary, de Carl Hancock Rux, é isso mesmo. O último disco certo que veio parar às minhas mãos. Uma monumental obra de soul, onde sobra lugar para muitas outras correntes da música negra e não só. Do funk ao R&B, do gospel ao legado de Gil Scott-Heron, da electrónica ao be bop, de muitas outras coisas a tantos outros sons, Apothcary é fruto de um caldo de influências, porém elitista, já que cozinhado com as melhores matérias-primas, os mais frescos ingredientes e as mais saborosas especiarias.
Em jeito de ressalva, informo que estou a escrever este post no exacto momento em que acabei de ouvir Apothecary pela primeira vez. A quente, portanto. Mas não creio que venha a arrepender-me do que acima digo. Pode até ser que este disco não venha a ter o reconhecimento que merece - hoje em dia o ruído é demasiado para que tudo o que é bom acabe por vir à tona -, mas que é um daqueles rasgos com que a cultura americana, vai-não-vai, se abana a si própria, disso não tenho a mínima dúvida. Intenso, como a melhor música de Marvin Gaye. Caleidoscópico, como os melhores poemas de Allen Ginsberg. Perene, como as melhores canções de Bob Dylan.

Cortesia Quase Famosos

1.15.2005

não vamos por aí

Com o aproximar das eleições, têm surgido alguns blogs cujos membros se entretêm a deixar comentários e a espalhar emails insultuosos para a nossa "classe" política: o não sei quantos é isto, não sei quem é aquilo, fulano anda com sicrano, beltrano enfia não sei que mais não sei onde - e outras calúnias do género.
Desaprovo. Esta não é a melhor forma de restituir ao país político o respeito que, apesar do que tem feito por desmerecer, ainda merece. Já se sabe que eles têm defeitos, mas é escusado ir por aí.
Assim, lanço daqui um apelo aos anónimos difamadores para que se contenham e, entretanto, deixem de inundar o meu caixote de correio electrónico com tais aleivosias. É que, por este andar, com tanta maledicência à solta, qualquer dia estão a dizer que o Carlos Castro pega de empurrão.

1.14.2005

body and soul

A mera possibilidade de ter que um dia escolher entre Transmission e She's Lost Control assusta-me. Mais até do que a hipotética e descabida opção entre mãe e pai, tornada inevitável perante uma pistola apontada à cabeça.
Não fosse Substance uma compilação que reúne canções gravadas e editadas em diferentes datas, e diria que estávamos perante o mais perfeito emparelhamento de músicas de sempre.


1.13.2005

riscar o que não interessa

Alçada Baptista Bastos
Vasco Granja de los famosos
Spice Girls just want to have fun
Daniel Oliveira da Figueira
Neil Young Marble Giants
Rogério Samora Machel
Vitalino Canas de Senhorim

as férias da Rita (ou a culpa tem que deixar de ser do Cavaco)

Eis senão quando aterro num blog que de imediato se torna para mim essencial. Um blog pertinente onde são colocadas questões relevantes, só por si, já seria um achado. Mas este vai mais à frente: debruça-se, ainda que de forma discreta, sobre “as férias da Rita”.
Se há tema capaz de escaldar almoços à partida maçadores, é este. Motivo para longos debates e empenhadas discussões - as quais, apesar do tom civilizado, resvalam por vezes para questiúnculas que não de pormenor entre pessoas que se querem bem -, as férias da Rita são como um leitmotiv para a vida que passa. Todo aquele que convive com a Rita acaba por viver as vicissitudes que as suas férias sempre acarretam. E ao vivê-las faz delas assunto. Matéria para reflexão. “As férias da Rita” infiltram-se no património mental dos que a rodeiam, passando a fazer parte do mesmo. Perduram, mesmo depois da Rita deixar de ser companhia habitual, como memória ancorada no fundo da massa encefálica, da mesma forma que aqueles bonecos de plasticina checoslovacos que o Vasco Granja tinha por péssimo hábito impingir antes de passar para o Bugs Bunny permanecem na mente de todos os que tiveram o azar de um dia assistir ao Animação 2.
Nos últimos anos, as férias da Rita têm coincidido com certos e determinados “eventos” menos bons. "Eventos" que, inclusivamente, são maus. Atentados, apagões, tsunamis (?). A Rita parte para parte em regra certa, quente e distante; o evento dá-se; a notícia surge, instala-se, e, dura, dura e vai durando. Descoberto o nexo de causalidade, hoje, as vésperas de férias da Rita não podem deixar de ser vistas como um pronuncio de desastre.
Talvez por isso, ou quiçá por razões mais prosaicas (não quero crer), a Rita – generosa e bem formada - resolveu reduzir as suas férias, ao ponto de, no ano transacto, ter abdicado de parte significativa das mesmas em prol de um próximo desconhecido. De nada lhe valeu. De nada lhes valeu - com tão bem se sabe. Bastou uma semana a recuperar a praia perdida para que uma nova tragédia de proporções incalculáveis ocorresse.
Não há saída. As férias da Rita emanciparam-se da pequena esfera local onde costumavam fazer mossa e passaram a ser fenómeno com relevância universal. Determinante, incontornável, conforme os acontecimentos o demonstram.
Dito isto, é sem espanto que vejo alguém tomar a iniciativa de pôr as férias da Rita à consideração do mundo. Afinal de contas, não será o mundo, por via daqueles que nele habitam, o maior interessado nas ditas férias?

1.12.2005

save as draft

1.11.2005

a nudez e o seu contexto

Por falar em "nus memoráveis", "estranheza", "corpos pouco atraentes", "envelhecidos", "situações bizarras" ...

O que de certeza não se pode dizer é que o contexto seja um mau contexto.

1.10.2005

olha que não, olha que não

My mom doesn't let me watch this because Tinkerbell gets naked. For that, I give it 5 stars. I like naked girls.
(anónimo)

1.09.2005

y sobre esto, lo que tiene a decir Pacheco Pereira?

?Qué te gustaría leer en el banquillo?
Un libro bueno, pero el banquillo no es el mejor sitio. Por mi cumpleaños me regalaron varios libros de literatura clássica, Hamlet, Guerra y Paz. Ahora me estaba leyendo Crimen y Castigo, de Dostoievsky, pero lo encuentro bastante complicado para terminarlo.
(Ronaldo, camisa 9 do Real Madrid, em entrevista à Vogue España)

depressão

Logo após o concerto dos REM, a caminho do parque de estacionamento, cruzo-me no centro comercial Vasco da Gama (uma espécie de Colombo com vista para o rio) com um amigo. Enquanto o cumprimento, pergunto-lhe, irreflectidamente, o que está ali a fazer. Já preparado para encaixar com o mais que merecido duh!, ouço a resposta: "vim às compras".

you want to go out friday, and you want to go forever ...

À partida, um concerto dos R.E.M. no Pavilhão Atlântico numa sexta-feira à noite, é coisa a que se vai mas da qual não se espera nada do outro mundo. Primeiro, já se sabe, o pavilhão não é um lugar agradável para assistir a concertos (pelo menos daqueles onde a música interessa). É frio, grande demais, o que estraga o som e distrai as massas. Segundo, os R.E.M. já deram o que de melhor tinham para dar, limitando-se, agora, a picar o ponto de quando em vez. Os últimos grandes discos, coincidentes com dois dos meus favoritos, datam de há uns anos atrás: Up e o fabuloso Monster (nem uma, caraças, nem uma), de 1998 e 1995, respectivamente.
Não esperava muito e pouco mais tive: dois momentos altos, com Begin the Begin e Walk Unfraid; o último cd – Arround the Sun – descarregado quase por completo (valeu, sobretudo, High Speed Train); competentes interpretações de Loosing my Religion, The Great Beyond e The One I Love; má versão de Drive, onde a inexplicável falta do famoso solo de guitarra deixou uma amarga sensação a coitus interruptus; um momento Ramones, com a repescagem da primeira música do grupo Permanent Vacation (e eu a pensar - quando ouvi o título - que iam tocar uma cover de Neil Young); Michael Stipe, parecido com um boneco de uma banda desenhada Marvel, a dançar muito bem; enfim, um serviço de bar exemplar.
Valeu a pena. Sem ser propriamente a minha praia preferida (ou talvez por isso mesmo), os R.E.M., ainda que em ritmo de manutenção, dificilmente desiludem. Convém é já não ter grandes ilusões.

1.06.2005

tudo é possível no país possível

"Comunistas em pousio/Jerónimo de Sousa pousa para novo anúncio CK/Professor Astromar pousa numa bancada da AR"
Como se a realidade não fosse muito mais divertida.

por este andar...

Não sei aonde é que isto vai parar – é o que se ouve dizer. Mas eu suspeito que, para grande desgraça nossa, isto não vai mesmo é parar.

1.04.2005

this is not a loud song (nor a love one)

As long as you keep the volume on your personal computer turned down

se faz favor

(Não, não faço. Daqui só saio) Obrigado

1.03.2005

Deus, esse grande malandro

I Confess: está longe de ser o meu Hitchcock preferido, no entanto, por durante anos ter sido o mais difícil de encontrar, acabou por tornar-se no mais apetecido. (Foi longa, que não penosa, a espera: desde a noite em que o vi pela primeira vez, circa milnovecentosenoventaepoucos, numa sessão da RTP 2, até hoje, dia em que, no sítio do costume, deitei mão ao DVD).
Do pouco muito que me recordo, este é um filme para pôr meia blogosfera a coçar a cachimónia, perturbada, como sempre fica, com os "fenómenos absurdos" que as suas mentes iluminado-positivistas não compreendem. É verdade, a fita mete um padre, dúvidas, dúvidas e mais dúvidas, e fé. Um padre que não é perverso, dúvidas físicas e metafísicas, e fé numa criatura superior que, apesar de omnipotente, nos concede a liberdade para agirmos como bem entendermos.
Alguns dirão que é inquietante. Eu digo apenas que é mais um grande (e bonito) filme de Hitchcock.

1.02.2005

ano novo, vida nova?

Já lá vão mais de seis meses sem que alguém diga o que quer que seja ao Manel. Ora, não querendo gerar alarmismos, pergunto se não será caso para o Manel solicitar (mais) uma audiência com carácter de urgência ao Sr. Presidente da República?

1.01.2005

entretanto

Enquanto o mundo não acaba, um poema de amor. O primeiro a ser lido no ano que começa:

Nos tempos primitivos / o australopiteco dizia para a mulher / “ó minha
macaquinha, sorria, olhe ali um mamute!” /
Nos tempos de hoje em dia / o homem diz para a mulher: / “ó minha dama de companhia, mamo-te.” /
Prefiro o setentão sinfónico dos Camel / que dizia: / ó minha dama de fantasia,
amo-te.

[E para Terminar Um Pequeno Poema de Amor, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, O Afastamento Está Ali Sentado, 2002, Quasi]
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