12.10.2003

há coisas que só vistas

(ou uma visita de Bush a Inglaterra, antes, durante e depois, da visita de Bush a Inglaterra)

Quem passar pelo número 196A de Piccadilly - um edifí­cio histórico onde antes funcionou um conhecido banco - está longe de imaginar o que lá por dentro acontece. Há quem sustente que é uma farsa e uma aldrabice. Outros dizem que é arte. Eu, não sabendo bem o que é, sei que gostei muito.
Nessa morada fica a galeria Hauser & Wirth, e nela, desde o passado dia 16 de Outubro, está a ser exibido o último trabalho Paul McCarthy.
Do iní­cio dos anos 70 até agora, já passaram trinta anos. Mas os espectáculos grotescos que em tempos escandalizaram Los Angeles e hoje são dados a ver nas mais respeitáveis galerias deste mundo, continuam cheios de criatividade.
Em Londres é exibido Piccadilly Circus - um ví­deo projectado simultaneamente em três paredes da grande (e com pé direito altí­ssimo) sala principal da galeria, "decorada" com o cenário devastado e caótico resultante da performance que serviu à filmagem do vídeo. "Cashier number four please, ... cashier number two please, ...", repete uma velha gravação, à  hora do chá para o qual a Rainha de Inglaterra convidou George W. Bush e Osama Bin Laden, caracterizados McCarthynianamente, com cabeças e pés gigantes, género Mickey da Disneylândia. Se no iní­cio tudo é sossegado - com a Rainha a receber gentilmente os convidados, que de forma educada tomam os seus lugares - à  medida que os ví­deos avançam, a coisa descamba. A casa é virada do avesso, a mobí­lia é destruí­da, as personagens entram numa espécie de esquizofrenia aguda, com atitudes e gestos escabrosos e repetitivos. Um espectáculo verdadeiramente selvagem e javardo, impróprio para descrever com mais detalhe neste blog.
Não vale a pena procurar nisto significados ou mensagens - polí­ticas ou outras.
Vale a pena ver. Pelo menos uma vez.


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