Cabeças rapadas

Berlim está cheia de cabeças rapadas. Com os seus DocMartens, deambulam pelas ruas exibindo tatuagens e casacos de cabedal. Uma coisa verdadeiramente assustadora, se se pensar que esta foi em tempos a capital do III Reich. Porém, bastará observá-los com um pouco mais de atenção para perceber que são totalmente inofensivos. Na verdade, andam aos pares, de mão dada e, de quando em vez, até dão festinhas no pescoço uns dos outros. Ah, e os mais conservadores não dispensam um pequeno bigode e óculos escuros à Freddie Mercury.

Nada se perde, tudo como dantes

Em Berlim, na Potsdamer Platz, descubro que a Bravo ainda existe, depois de, dias antes, num quiosque dos Restauradores, ter visto uma Gina à venda.

O acontecimento blogosférico do ano (so far)

Rui Branco, quando lhe apetecer, aqui

O acontecimento cinematográfico do ano

The Big Red One (The Reconstruction), de Samuel Fuller. 23 e 29 de Abril no Indie Lisboa

oh, fuck off! I'm not really into sausages

Um americano em Berlim perante a ementa de um restaurante bávaro

A propósito de Berlim, do muro, da cortina de ferro...

A Vanity Fair de Abril saiu em Março (e traz uma boa reportagem)

as vantagens de comer corn flakes enquanto novo

Na Alemanha, sou sistematicamente abordado em alemão. À entrada para os estádios do Euro, fui sistematicamente abordado em sueco.

Der Himmel über Berlin ?

Nem anjos, nem Nastassja Kinski, nem nada. Era de noite e estava um nevoeiro do caraças.

valise de cartão

É lugar-comum dizer que os alemães são um povo ordeiro, instruído e taciturno. Ora, como todos os lugares-comuns, também este assenta numa aturada observação empírica. Assim, foi sem surpresa que, em pleno aeroporto de Frankfurt (um dos mais movimentados do mundo), o silêncio quase sepulcral só foi interrompido ao fim de vários minutos por uma conversa em português sobre blocos de cimento, estruturas em alvenaria e canalizações em PVC.

All quiet on the Western Front

Dan Brown, Danielle Steel, James A. Michener, Tom Clancy, John Grisham, Paulo Coelho. Todos com vários livros à venda no quiosque do aeroporto de Frankfurt.

Esquerda e Direita

Durante uma daquelas conversas recorrentes sobre a falta de mangas no aeroporto de Lisboa e o consequente uso do autocarro para transportar os passageiros para o avião, tomo consciência de que a Direita, quando quer fazer um comentário desdenhoso sobre o país, recorre à comparação com Africa. Já a Esquerda prefere comparar o objecto depreciado com a América do Sul.

Aforismo para uso (do) pessoal doméstico

Ter uma casa arrumada é apenas questão prejudicial para ter uma casa limpa.

A Primavera chegou (II)

No restaurante, a meia dose é acompanhada por uma salada de tomate e alface servida numa daquelas clássicas travessas de alumínio. (A travessa de alumínio – existente em três tamanhos – é um ícone a preservar). O empregado, com uma camisa branca de manga curta, sua (que nem um porco), exalando um odor nauseabundo. Fulano, sem sequer provar as febras, despeja sobre o prato várias pitadas de sal refinado (?). Ao lado, o copo de tinto da casa espera por ser reabastecido. Uma bica, um gigante, tempo para ler a secção de outros desportos d’A Bola e depois fixar o olhar no horizonte onde nada acontece.
Travessa acima, o velho espera que os anos passem devagar. Devagar, como ele se move.

A Primavera chegou (I)

No Adamastor, um miradouro ali em Santa Catarina, olhar para a cidade deixou de ser prioridade.

e a culpa é daquele colombiano ex-amigo do Saramago

Ou muito me engano ou, neste Verão, as praias vão encher-se de “putas”

Mais CBGB que Woodstock (ou um post onde abundam as expressões em inglês)

O New York Times errou quando, há uns anos, qualificou John Carpenter como "the last hippie film-maker", e note-se que não digo isto por adorar Carpenter e ter muito pouca paciência para hippies. Basta ver Assault on Precinct 13 para perceber que o que de mais importante há na obra deste maverick, muito pouco dado a floreados, é precisamente o contrário daquilo que o NYT quis impingir: uma ética punk; uma lógica do it your self; uma estética less is more.
No way, se John Carpenter é o último dos realizadores hippies, eu sou o fã n.º 1 da Manela Moura Guedes.

all farewells shall be sudden

Acabou o país relativo. Hats off para O País Relativo.

a €7 naquela loja francesa

na prateleira de Nick Cave

The Crust on its Uppers, Derek Raymond
Solomon Grundy, Dan Gooch
The Selected Poetry of Rainer Maria Rilke
A Dictionary of Quotations from The Bible
The Trial, Gordon Thomas
In a Glass darkly, Sheridan Le Fanu
The Book of God, Walter Wangerin
The Velvet Undergroung Handbook, M. C. Kostek
Collected Shorter Poems, W.H. Auden

(visto numa fotografia de uma Mojo Collections antiga)

para quando a versão anotada?

O programa Conversa Afiada (Sic N) está cada vez mais difícil de acompanhar. José Gil, o entrevistado de hoje, resolveu exprimir-se em código. Falou de "nevoeiro", de "inscrições", de "espaço público", de "cidades inteligentes", e de outros "conceitos" que, (in)consciente da noção que as pessoas têm do uso que ele lhes dá, achou por bem não explicar. A entrevistadora, para tentar fazer-se entender perante o convidado, lá foi usando o mesmo vocabulário, ao que parece, altamente significante no dialecto de Gil. O problema (provavelmente só meu) foi não ter percebido nada daquilo que o senhor quiz dizer. Como Gil esclareceu, Lisboa não é uma das suas "cidades inteligentes". Deve ser por isso.

Freud revisitado (pelos Beastie Boys)

"Now your mom threw away your best porno mag"

sociologia para advogados de Corporate

Assim sendo, um Cartório Notarial é o local onde o poder é absoluto

detalhes transcendentes

Na minha edição em DVD de Halloween , as vozes - e uma delas é de Donald Pleasence - ouvem-se mal, facto agravado pela ausência de legendas para deaf and hard of hearing persons . Em contrapartida, a banda sonora (as usual, do próprio Carpenter) e barulhos anexos estão num potente 5.1, a capa tem um holograma, e a filha do Tony Curtis aparece vestida de colegial.

"um vodka" right or wrong

Rodrigo, essa é uma daquelas em que não concedo. Seja "ele" tónico, com laranja ou, porventura, com whiskey.

Geração de 70 (reprise)

Festas "anos 80"
Ressacas "os anos não perdoam"

Geração de 70

Festas “anos 80”. A partir de quando fará sentido fazer festas “anos 90”?

um post em alemão onde se fala de psicadelismo e voleibol

Es gibt Romane, in denen wirre, psychedelische Rapunzeln Perücken tragen und ihr Haar verlieren, die Ritter dann mit Scheckkarten das Schloss zu knacken versuchen, in denen Fotografen aus Palo Alto sich für Volleybälle halten und man Monatsbinden dazu benutzt, von innen beschlagene Autofensterscheiben sauber zu wischen. Verwirrend, aber sympathisch.

Hallelujah, I Love Her So

Toda a história da música soul resumida no título de uma canção de Ray Charles.

é a cultura geral, estúpido!

No campeonato de escolas vienenses, Arnold Schoenberg, Wilhelm Reich, Anton Webern, Viktor Frankl, Hans Kelsen, Gustav Klimt, Robert Schumann, Alban Berg e Otto Wagner, jogaram. Freud ficou no banco.

estado de vigília

Sempre que está com insónias, põe-se a ler A Interpretação dos Sonhos. Continua sem dormir, mas deixa de se martirizar com isso.

Televisão, uma escola para a Nação

Agora que se aproxima mais uma edição da Quinta das Bestialidades Celebridades, começo a duvidar da justeza do hino dos Disposable Heroes of Hipocrisy, em que estes proclamavam: “television, drug of the nation, breeding ignorance and spreading radiation”. Afinal, que outro programa nos permite, diariamente, aprender algo sobre transexualismo, depressão induzida, dietas à base de psicotrópicos, malefícios do Prozac, técnicas de coming out, o travelling na ficção porno, silicone em centros comerciais, botox it yourself, e outras temáticas da coisa pós-moderna.

alguém sobreviveu?

Acordou com o ladrar de uma matilha de rafeiros; minutos passados, ouviu buzinas e uma velhota a gritar com um puto; finalmente, sentiu a trepidação provocada por uma britadeira que escavacava o passeio. Levantou-se, foi buscar uma pistola e disparou dez vezes.

Dia Internacional da Mulher (III)

"Woman is the nigger of the world" - cantava o ex-beatle John. "Colonize-se" - respondeu-lhe o reaccionário.

Dia Internacional da Mulher (II)

Ainda Paglia: "If civilization had been left in female hands, we would still be living in grass huts." E, assim, ter-se-iam evitado complexas questões como a de saber quem põe a loiça na máquina ou quem vai pagar a conta do gás.

Língua portuguesa, essa traidora

Pandora's Box, caixa de Pandora ou, em português do Brasil, boceta de Pandora.

real people with strange habits

Existe, no entanto, um local onde parte do destino da mulher pagliana já se encontra cumprido. Há uns anos, no ARTE, vi um documentário sobre uma casa nova iorquina onde as mulheres dominam os homens. A sério. O programa chamava-se Fetishes, o estabelecimento Pandora's Box, e elas eram dominatrixes. Consta que até se pagava - e bem - para lá entrar.

Dia Internacional da Mulher (I)

Camille Paglia, uma (a única) feminista muito cá de casa, disse um dia: "It is woman's destiny to rule men. Not to serve them, flatter them, or hang on them for guidance. Nor to insult them, demean them, or stereotype them as oppressors". Não posso estar mais de acordo. Porém, enquanto esse dia não chega, há que ir lembrando que os melhores cozinheiros são homens.

Closer (II)

No google, à procura de uma fotografia para ilustrar o post de baixo, encontro, sem surpresa, isto:

Closer

Apesar de não ter desgostado, saí deprimido com o facto de ainda se fazerem filmes sobre temática tão pouco controversa. Nunca contar, nunca perguntar - são regras há muito pacíficas, que gente minimamente instruída já devia ter assimilado. A menos, claro, que a intenção seja rebentar com tudo.

não seria um paulistano a arrear num carioca?

Maxim, the popular men's mag, published a fitness article on how to get in shape by beating people up. It was illustrated by drawings of a muscular yuppie punching, kicking, stomping and strangling a man who looked exactly like Mahatma Gandhi.

Quase Famosos no Europa

A Europa não é só um velho e respeitável continente que acabou comandado por um ex-maoísta convertido ao mercado. É também uma bonita casa de diversão nocturna, ali ao Cais do Sodré, onde os Quase Famosos – sim, os autores deste blog quase anónimo - organizam uma festarola, na sexta-feira, 11 de Março, a partir das 22.30.

Promete-se tudo, inclusive a possibilidade de tentar uma coreografia “Jennifer Lopez” ao som dos Einstürzende Neubaten. Estará afixada em frente ao gira-discos uma minuciosa lista de músicas que não se podem pedir. O resto – ou seja, o sapateado e as lantejoulas - é convosco.

Para ganharem o direito a entrar, só terão de citar integralmente a letra do terceiro tema do primeiro álbum dos Felt e dizer o nome do xilofonista que colaborou com John Zorn no concerto de Zurique (17 de Fevereiro de 91). A partir daí, o céu – neste caso, a bola de espelhos e os focos – é o limite.

Será proibido falar de política, de bola e da vida sexual frustrada dos DJ’s de serviço.

Os Quase Famosos

um apelo à serenidade impõe-se

Num país moderado, habitado por um povo moderado, um governo moderado tentará, com moderação, "implementar" políticas moderadas. Alguns radicais moderados, em debates televisivos moderados por moderadores não menos moderados, tentarão, de forma moderada, criticar a moderação das políticas mais moderadas.

estado de graça ou Estado "de graça"?

Nem um, nem outro. Até porque, como toda a gente sabe, almoços grátis é coisa que não há.

porque as boas notícias não podem esperar

(telefonema, ontem à noite, à saída do CCB)
...então e o Beira Mar, ganhou?
Não, hoje era para a taça.

Rijkaard, Gullit, Van Basten, golo

Rinus Michels, "O General", 1928-2005

há dois anos

algures na blogosfera

O Voz do Deserto está para este blog, como Roots, dos Sepultura, está para o metal moderno-urbano-ó-antropológico: único e essencial. Parabéns para o Tiago Cavaco.

há 40 anos

algures no universo

"What do you despise? By this are you truly known."
(F. Herbert, Dune, 1965)

contra o estado geral de bovinidade

O Blasfémias faz um ano. Apesar de, pontualmente, por lá vir ao de cima alguma ingenuidade ("qualidade" inerente aos mais ferrenhos neoliberais), é, provavelmente, o mais importante blog político cá do Sítio. Parabéns.