7.24.2005

O amigo e o pessimista

Ao almoço, um amigo qualifica o outro de optimista. Este reage negando o epíteto. O amigo está apenas provocá-lo, pois sabe que ele se orgulha de ser um pessimista. Gosta de o ver inquieto. Gosta de embaraçá-lo. Sobretudo perante terceiros. O outro, apesar de consciente da provocação, como está mais gente à mesa, sente necessidade de se defender. Volta a afirmar-se um pessimista. Invoca Schopenhauer. Cita Hobbes. Dá como exemplo daquilo que jamais quer ser Júlio Isidro - segundo ele, um optimista nato. A discussão prossegue. O amigo insiste que o outro é um optimista, sem se preocupar em dar grandes explicações. O outro argumenta, argumenta, cansa-se de tanto argumentar. O amigo não cede: "És um optimista, admite de uma vez". O outro, exausto, gesticula, levanta a voz, chateia-se. O amigo já só diz "optimista", acentuando bem as quatro sílabas do termo. O outro, cada vez mais nervoso, grita: "Não sou! Não sou!". O amigo não desarma - "Optimista e teimoso". O outro, desesperado, levanta-se, pega numa faca e avança para o amigo. O amigo, frio, permanece quieto. O outro encosta-lhe a faca à garganta. O amigo, imóvel, não reage. Até que o outro larga o amigo, larga a faca e desata-se a rir. O amigo pergunta-lhe porquê, e ele responde: "Porque isto é uma grandessíssima palhaçada. Estamos há já quase dois minutos nisto, só para que um gajo qualquer possa publicar esta merda. Estamos a fazer figuras tristes no post de um idiota." O Amigo diz-lhe então: "Vamos parar com isto. Vamos à nossa vida".
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