5.24.2005

American Music Club

Mais triste que isto só "O Silêncio", o clube, com o seu espectáculo No hay Banda!. Não podia ser mais lynchiano, o cenário onde actuaram ontem os American Music Club: um pequeno palco com o estritamente necessário à frente de uma larga cortina de veludo encarnado. Mark Eitzel surgiu igual a si mesmo - a um pedinte, ou melhor, a um espantalho. Com o chapéu de abas enfiado na careca e a cara inchada pelo álcool dos últimos e longos anos de espera. Mas, quando pegou na guitarra, disse algumas palavras - umas imperceptíveis, outras não - e começou a tocar, tudo o que se ouviu foi bom. Muito triste e muito bom. Até os ruídos marginais causados pelo mau contacto do cabo do amplificador soaram tão bem. Muito bons e muito tristes. Tal como as canções; Why won't you stay?, Only Love can Set you Free, Another Morning, Patriot's Heart; ou o interlúdio em que Eitzel exercitou outro dos seus talentos - a stand up comedy - acentuando o anti-herói que há em si. O anti-cool, com a graça dura e melancólica de um Lenny Bruce.
É quase impossível escrever sobre a música dos American Music Club sem cair em clichés: anti-heróis, amores que têm tudo para não dar certo, a América nua e crua, a sinceridade e a solidão nas canções intensas e desoladas, próprias daquela hora em que é cedo demais para o circo e tarde demais para os copos. Outside this Bar, Home, Blue and Grey Shirt, Western Sky. Pelo meio, uma cover de Joy Division (Heart and Soul), e, a fechar, a maior descarga de energia da noite, com uma espantosa música (cujo título desconheço), numa interpretação que cruzou os melhores dias dos Crazy Horse com os últimos do gajo que começou isto tudo: Elvis Presley.
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