2.10.2005

dicionário de bolso (Paris)

Americanos: em Paris, deslumbrados como dantes.

Baby Boom: As ruas estão cheias de carrinhos com bebés recém nascidos. A não entrada na guerra terá ajudado, mas é a vastidão dos passeios planos e desobstruídos que faz toda a diferença.

Carnaval: em Paris, não se usa. Daí o programa.

Daft Punk: a um mês do novo disco (Human after All), deles, nem ouvir falar. Para compensar, comprei lcd soundsystem, cuja primeira música é, por sinal, daft punk is playing at my house.

Eliseu: para Condoleeza Rice, nesta altura do campeonato, a mais sumptuosa das passadeiras.

Frites: já não são o que foram. Antes, claras, finas, estaladiças e enxugadas de todo o óleo; hoje, uma imitação cara das batatas fritas servidas na grande churrasqueira do Campo Grande.

Gajas: é (a par de São Paulo) a cidade que conheço onde podem ser vistas as mais giras. As mais bonitas (não são "gajas") moram em Palermo.

Huppert, Isabelle: acontece nas melhores cidades: uma grande actriz, em palco, representa um grande papel.

Iconoclastia: nos escaparates de uma conhecida cadeia de venda a retalho de consumíveis culturais, perante a indiferença geral, amontoam-se centenas de DVDs do último Michael Moore (Fahrenheit 911). Parece que, até aqui, a coisa começa a ter pouca saída.

Jeux de plaisir: inserida num romance de Laclos, ou numa qualquer história de alcova passada em Versailles circa 1750, soa-me bem. Na Paris multicultural do século XXI, soa-me pretensiosa. Quando a conversa é sobre sexo, prefiro a linguagem corrente.

Louvre: como não li, não sei por que janela fugiu aquele tipo que entra no Código Da Vinci.

Mini-jupe: voltou a estar na moda (ou nunca deixou de estar).

Napoleão: de alguma maneira, paira por todo o lado. À venda num alfarrabista, vi vários manuscritos assinados pelo seu punho.

Ordinários: Os parisienses continuam mestres na arte de mal servir.

Palais de Tokyo: é - confirma-se - o museu do momento.

Qualidade de vida. Já vamos tendo alguma, mas ainda falta muito para lá chegarmos. Em Paris, cada bairro é uma cidade simultaneamente cosmopolita e acolhedora.

Rugby: também aqui se joga, e bem. Sábado, na abertura do torneio das Seis Nações, para minha tristeza, a França lá acabou por vencer a Escócia.

Sartre: impossível não pensar nele quando se chega a Saint-Germain-des-Prés. Um triângulo “existencialista” delimitado pela brasserie du Lipp, o Café de Flore e o Les Deux Magots. Ali ao lado, na livraria La Hune de que João Paulo tanto gostava, comprei Le sens du combat de Michel Houellebecq. Diferentes épocas, a mesma luta (só que ao contrário).

Tag: "Dans le Musée Rodin, j'ai vu Chirac être pénétrée par un lapin". Lido numa fachada.

Umbigo: os franceses estão menos agarrados ao seu. Na altura em que sai Un Pedigree, autobiografia de Patrick Modiano (considerado por muitos o maior escritor vivo na língua de Bernard Tapie), o destaque das livrarias vai todo para o último David Lodge, Author, Author, ou, como por aqui se diz, L’auteur! L’auteur!.

Vinho: ainda conheço pessoas educadas que insistem na ideia de que os vinhos portugueses são os melhores do mundo.

Xadrez: Vi um magrebino a "ir dentro".

Zosteropídeos: família de aves passeriformes que reúne pequenos pássaros canoros, de coloração olivácea, com pescoço amarelo e abdome branco. Não consta que voem sobre o céu de Paris.
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