12.29.2004

jogos sem fronteiras

Era uma vez um homem que nasceu Adão, António, José, Gaspar ou João, mas não, não gostou de assim se chamar. Vai daí, de nome resolveu mudar. Escolheu Eládio. O quê?! Porquê? Por causa do quê? Gostava eu de saber.
Nunca lhe perguntei, pois nunca ao vivo o vi. Se ao vivo o houvesse visto, talvez perguntado tivesse. E daí... Talvez não: (chateado) não quero querer saber por que é que escolhe chamar-se Eládio, quem nasce João, António, Gervásio ou Adão.
Razões – admito – terão existido. Quiçá, prevendo o futuro – como faz um homem vidente, previdente, ou apenas prevenido - lutou por ele. Optou por um nome que ficasse bem na televisão. Um bom nome para apresentar um programa de animação - animado, como animada, decerto, depois de estreado, ficaria a programação.
Veio a estreia, e com ela a satisfação. De Eládio. Por ver o futuro, tal como o havia previsto, a correr à sua frente: as almas anémicas daqueles que puderam assistir à primeira emissão, a animarem com o tal programa de animação. A encherem-se de alegria e, a espaços, até, de emoção. Comoção, com tão magnífico presente dado. Pelo Estado, o dono da retransmissão. O Estado soberano. O povo feliz. E o apresentador - Eládio - radiante por espalhar a boa disposição pela populaça. Vaidoso, até, com tamanho estado de graça.
Ao longo dos anos, Eládio foi paulatinamente construindo um importante pedaço do imaginário colectivo. Primeiro a preto e branco, depois a cores (cara e ecrã colorido); primeiro sozinho, depois acompanhado; inclusivamente, já veterano, em participação especial foi destacado - solo per la finale - como alertou a RAI aos seus incrédulos telespectadores. Tornou-se numa “referência”, com inúmeros adoradores.
Eládio, o vidente, previdente, ou só homem prevenido, ao mudar de nome, arriscou. Ao mudar de João, Gastão, Manuel, ou Adão, para Eládio, inventou. Ousou. Ir mais além do que um simples João, Girão, Adão ou Zé-Ninguém. Da fama ficou mais perto, mas, arrojado, por aí não se quis quedar. A fama, ou se vive ou não faz sentido. Alcançá-la era um imperativo. Não podia parar. E assim, ao Eládio próprio, somou o Clímaco apelido. Um novo risco, um risco a multiplicar. Que Eládio, decidido, se dispôs enfrentar. Arriscou, ganhou, e famoso ficou.
Vingou, como vê.

(o pior foi depois, anos depois, no dia em que “Eládio Clímaco” – o nome –, atirado para um fundo de uma prateleira da RTP memória, se fartou de viver com Eládio Clímaco – o, agora apenas e só, locutor)
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