11.30.2004

o Rio de Janeiro continua violento e delicado (e, já agora, lindo)

Não sei se é coincidência, mas sempre que chego ao Rio deparo-me com uma porção de relatos nos jornais e na televisão do estado dantesco de violência a que a cidade chegou. Não há dia em que não haja notícias de duelos entre traficantes, cortes de estrada, arrastões em túneis, sabotagens da rede eléctrica, e um sem número de outras patifarias (agora, parece, há até actores portugueses sovados). Nos jornais e na televisão, pois na rua eu não vejo nada, ou melhor, vejo a mesma descontracção de sempre, uma joie de vivre que o carioca transpira e o forasteiro apanha ao primeiro contacto. Não quero com isto pôr em causa a veracidade dos relatos que me chegam, o Rio é mesmo uma cidade muito violenta – segundo os estudiosos destas coisas, ocupa o terceiro lugar do ranking logo a seguir a Joanesburgo e Bogotá. Mas o Rio é, simultaneamente, uma cidade muito delicada. É violenta por causa da violência. E é delicada por causa de tudo o resto.
Os cariocas têm consciência que a realidade que os envolve é feita desta dicotomia: violência e delicadeza. Já perceberam que não há desfavelamento possível, que não há batalha senão a do dia a dia, que as balas perdidas vão continuar a voar, que inocentes as irão apanhar, e que há muito o asfalto deixou de ser um lugar tranquilo. Mas sabem que estão no Rio, e isso afaga-lhes os sentidos e a alma. Cultivam - e bem - uma atitude inconformista, mas enquanto a solução (inexistente) não aparece, conformam-se, felizes, com o muito que têm.
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