9.10.2004

does humour belongs in politics?

Como muitas outras pessoas que com “ela” não convivem habitualmente, tenho da esquerda militante portuguesa uma imagem dura, amarga, estafada, pesada, onde o peso dos anos na clandestinidade é usado para justificar todas as reclamações, todos os excessos, todos os queixumes que, como uma cassete, de dia para dia se renovam sem nada de novo trazerem. Tenho porque a vejo assim e vejo-a assim porque é assim que ela, desde que me lembro, se gosta de mostrar.
O Barnabé, talvez por ser feito por gente de uma nova geração, talvez por outro qualquer motivo, veio demonstrar que, à esquerda da esquerda, a palavra, para além de uma arma, é algo que nos pode pôr a rir. Ao longo do ano que hoje passa, os Barnabés ofereceram a quem os segue algum do melhor humor que é feito neste país: muito bem escrito; inteligente; ora subtil, ora acutilante; por vezes sub-reptício, por vezes de mau gosto; mas quase sempre hilariante e desarmante. Sobretudo desarmante. Por várias ocasiões dei por mim a condescender naquilo com que não concordo só para melhor saborear a piada de um qualquer post. O Barnabé tem essa graça: faz-nos rir de nós próprios, mesmo quando o tema é coisa séria.
Perante isto, pouco me interessa as barbaridades políticas que, num português impecável, apregoam. Pouco me interessa que queiram ter o melhor de dois mundos, ao achar que é possível estar de bem com os dois mundos: o deles e o outro – o real. Pouco me interessa que se julguem os guardiães da moralidade suprema. Afinal, também aqui reside parte do humor com que diariamente nos brindam.
O que é o Barnabé tem?
(para além das não-sei-quantas-mil-visitas) Tem graça. Imensa graça.
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