8.31.2004

é a Política, estúpido!

Perante este episódio de carácter folclórico-provocador, colocavam-se duas hipóteses ao governo: ou privilegiava a vertente folclórica e ignorava o assunto. Ou acusava a provocação, que é uma provocação ao Estado e não a este especifico governo, e impedia serenamente a entrada do barco em águas portuguesas. Como entre as duas a minha indecisão balança, qualquer uma delas é, a meu ver, uma posição decente e respeitável.

A oposição tem barafustado, acusando o governo de ter tomado uma posição política ao impedir a entrada do barco em águas territoriais portuguesas. Não percebo qual é o drama nem onde é que está o escândalo. É óbvio que a decisão de impedir a entrada do barco é uma decisão política. Sustentada em argumentos jurídicos (discutíveis, como quase todos), mas política. É bom não esquecer que os governos servem, também, para tomar decisões políticas.

Política é também a vinda do barco a Portugal. Uma provocação política, perfeitamente legítima e admissível da parte daqueles que querem chamar a atenção para o assunto, à qual é igualmente legítimo e admissível responder politicamente.

Trata-se de política. Nada mais do que isso.

Os promotores da vinda do barco, não estão minimamente interessados em resolver os problemas concretos e imediatos de “mulheres em dificuldades numa hora difícil”, muito menos em promover “mesas redondas”, “palestras”, “sessões” e “grupos de trabalho”, como de forma imbecil se tem dito.

As mulheres, num caso como este, apenas servem como instrumento para a acção política, e só aqueles que não têm vergonha do ridículo podem dizer que a não atracagem de um qualquer barco é, num país onde se passa a vida a discutir "o aborto", impeditiva da realização de mesas redondas, conferências, sessões de esclarecimento ou o que quer que seja.
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