8.27.2004

para quem gosta de arte contemporânea

As fotografias de Jeff Wall, quando reproduzidas em dimensões diminutas, parecem, muitas vezes, banais. Algumas delas, se vistas a correr e fora do contexto onde devem ser expostas (museus e galerias), correm o risco de passar por restos de um rolo usado - fotografias falhadas sem direito a figurar no álbum. Mas, ao observá-las nas suas reais dimensões ou com olhar atento, crítico e educado, será possível constatar que existe algo de essencial por trás da sua aparente vulgaridade.
Jeff Wall prepara as suas fotografias como um Kubrick prepara cada take dos seus filmes: escolhe criteriosamente os locais, estuda a luz que sobre estes incide ao longo do dia, selecciona os figurantes, as roupas que usam, todos os objectos que vão ficar dentro da objectiva, encena tudo até ao mais ínfimo detalhe, chegando ao ponto de não raras vezes recorrer ao computador para, através de estudos prévios, afinar pormenores relacionados com a proporção, a dinâmica ou perspectiva nas imagens que pretende obter.
Se algumas das que mais gosto, como Coastal Motifs (indisponível na internet), fazem lembrar os quadros de Turner, e outras, como Holocaust Memorial in the Jewish Cemetery ou The Old Prison (igualmente indisponíveis), remetem para os grandes pintores naturalistas americanos, fotografias como Milk ou Overpass surgem como autênticos film stills de uma história sem princípio nem fim.

(Milk e Overpass)

Jeff Wall, atingido por influências que vão da pintura do século XIX a Malevich, passando pelo neo-realismo, tem construído uma obra que aborda temas como a violência, a solidão, as cidades e a vida como ela é, em géneros tão diferentes como a paisagem, o retrato ou as naturezas mortas. Uma obra nada cool, cheia de imagens pouco apelativas e emprenhada de uma melancolia que roça o deprimente, na qual demorei algum tempo a “entrar”.
Agora que consegui, bastaria a conversa via email entre Jeff Wall e Mike Figgis (realizador de Leaving Las Vegas), onde se fala de cinema, de pintura e de fotografia, de comercialismo versus experimentalismo, de métodos industriais versus artesanais, e de uma série de outras coisas interessantes, para tornar obrigatória a compra e leitura do último número da Contemporary.
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