8.20.2004

difícil, difícil, é ser metrosexual

Em Portugal (e, provavelmente, em muitos outros sítios) existe o hábito de rotular certos comportamentos dos homens, que nada tem que ver com a sua orientação sexual, como comportamentos gays, afins, ou, no mínimo, pouco masculinos.
Se um homem usa um creme hidratante a seguir à praia, logo lhe dizem que “parece uma gaja”. Se é vegetariano, troçam dele dizendo-lhe que “homem que é homem come bifes (evitem a associação de ideias fácil). Se resolve ir ao solário para disfarçar o seu lastimável aspecto, perguntam-lhe “que mariquice é essa?”. Se gosta de ballet, qualificam-no como uma pessoa “especial”; se o ballet é moderno, como uma pessoa “muito especial”. E por aí fora.
Poucos homens (e mulheres), perante a revelação corriqueira de que um seu amigo adoptou uma prática ou um comportamento que foge ao padrão e aos cânones ainda (maioritariamente) vigentes para o género, conseguem evitar o comentário ou a pergunta insinuante, embora, na maioria das vezes, a rir e sem qualquer convicção daquilo que estão a insinuar. Dizem o que dizem, porque acham que é suposto dizê-lo. Instintivamente, sentem que devem manifestar, ainda que subtilmente, uma certa censura, sem, por um instante, parar para pensar no que de facto é ser homossexual.
Porém, se o mesmo ou outro homem que confessou ir ao solário, gostar de roupa, usar cremes enquanto dorme, apenas comer saladas do Magnólia e gostar de ballet, sobretudo contemporâneo, resolver sair do armário, dizendo-lhes que leva (ou apanha, se for do Porto) no cu, que é paneleiro (ou azeiteiro, se for do Porto) e que assim quer continuar a ser, provável é que a reacção seja bem diferente: ao invés da boca preconceituosa e levemente reaccionária, perguntar-lhe-ão “há é?”, e logo lhe dirão “bom … acho lindamente que assumas isso, só te fica bem e, para além do mais, demonstra uma grande coragem. Parabéns!”
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