um Euro de sonho
Está quase a acabar.
Chapéus? Há muitos; mas nunca tantos e tão absurdos, como os que por cá passaram no último mês, haviam antes sido vistos. É-me relativamente indiferente saber se vão, ou não, contribuir para a retoma; o que me interessa é que mostraram a milhões de portugueses que vivem com a cabeça enfiada no chão dos passeios, que há vida para além do seu triste quotidiano.
Durante o Euro, os portugueses ousaram descontrair-se e alegrar-se, e as meninas passaram a gostar de futebol da mesma maneira que o Barbas gosta das assembleias-gerais do Benfica. A nossa bandeira, tão feia como as bandeiras africanas, debaixo de um céu sempre azul e sobre o branco de Lisboa, tornou-se subitamente linda. As velhas deixaram de espreitar e resmungar à janela e saíram para a rua, e o Rossio deixou de ser uma réplica de Lourenço Marques para ser o coração da Europa. A TSF voltou a estar sintonizada para, de hora a hora, dar a ouvir, sobre o hino tocado ao fundo numa guitarra eléctrica, o relato dos golos feito por esse animal que é Jorge Perestrelo, e Gilberto Madail, porque teve o bom senso de primar pela ausência e porque – até parece mentira – alguma responsabilidade há-de ter tido na magistral organização da coisa, redimiu-se.
Este foi, também, o campeonato da redenção. De um longínquo dia em que, nas chegadas do aeroporto, um bigodes de muletas respondia na mesma moeda ao povo que, em fúria, o insultava, até aos dias em que um brasileiro, com o obrigatório bigode, pôs quase todos nós, com mais ou menos maneiras, a falar de Portugal com o orgulho com que um José Hermano Saraiva fala da sua história.
Houveram escoltas por terra, ar e mar. Houveram vénias em estádios cheios. Houve pouca pancada nas ruas e muitos abraços nas bancadas. Houve tristeza e houve, muito mais, felicidade – como na vida, mas ao contrário da maioria das vidas.
E, claro, houve futebol. Mas desse só falo mais tarde, porque agora vou para a bola, ajudar a transformar as bancadas da Luz numa gigantesca calçada portuguesa. Irregular, suja, desconfortável, única, nossa.
Chapéus? Há muitos; mas nunca tantos e tão absurdos, como os que por cá passaram no último mês, haviam antes sido vistos. É-me relativamente indiferente saber se vão, ou não, contribuir para a retoma; o que me interessa é que mostraram a milhões de portugueses que vivem com a cabeça enfiada no chão dos passeios, que há vida para além do seu triste quotidiano.
Durante o Euro, os portugueses ousaram descontrair-se e alegrar-se, e as meninas passaram a gostar de futebol da mesma maneira que o Barbas gosta das assembleias-gerais do Benfica. A nossa bandeira, tão feia como as bandeiras africanas, debaixo de um céu sempre azul e sobre o branco de Lisboa, tornou-se subitamente linda. As velhas deixaram de espreitar e resmungar à janela e saíram para a rua, e o Rossio deixou de ser uma réplica de Lourenço Marques para ser o coração da Europa. A TSF voltou a estar sintonizada para, de hora a hora, dar a ouvir, sobre o hino tocado ao fundo numa guitarra eléctrica, o relato dos golos feito por esse animal que é Jorge Perestrelo, e Gilberto Madail, porque teve o bom senso de primar pela ausência e porque – até parece mentira – alguma responsabilidade há-de ter tido na magistral organização da coisa, redimiu-se.
Este foi, também, o campeonato da redenção. De um longínquo dia em que, nas chegadas do aeroporto, um bigodes de muletas respondia na mesma moeda ao povo que, em fúria, o insultava, até aos dias em que um brasileiro, com o obrigatório bigode, pôs quase todos nós, com mais ou menos maneiras, a falar de Portugal com o orgulho com que um José Hermano Saraiva fala da sua história.
Houveram escoltas por terra, ar e mar. Houveram vénias em estádios cheios. Houve pouca pancada nas ruas e muitos abraços nas bancadas. Houve tristeza e houve, muito mais, felicidade – como na vida, mas ao contrário da maioria das vidas.
E, claro, houve futebol. Mas desse só falo mais tarde, porque agora vou para a bola, ajudar a transformar as bancadas da Luz numa gigantesca calçada portuguesa. Irregular, suja, desconfortável, única, nossa.
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