7.07.2004

Há uns anos, bastava um táxi para levar o grupo parlamentar do PP à Assembleia; agora são precisos dois para ir em “comitiva” à audiência com o Presidente

Embora se comece a criar a ideia de que vai mesmo haver eleições antecipadas, eu continuo a apostar que não. Sampaio é um homem de bom-senso e, se o usar, acabará por optar por aquilo que, apesar de tudo, é melhor para o país.

Entretanto, sucedem-se os disparates nos partidos (aparentemente) mais interessados na nomeação rápida de um novo governo – PSD e PP. A entrevista de Santana Lopes, sem sequer avaliar o que lá foi dito, é de um atrevimento despropositado, e o supostamente “brilhante” papel que a embaixada do CDS entregou em Belém é das coisas mais incompetentes que tenho visto nos últimos tempos.

Numa tentativa chico-esperta de prender o Presidente às suas próprias palavras, algumas luminárias do PP puseram-se a ler os discursos de Sampaio e compilaram uma lista de situações perante as quais aquele consideraria a hipótese de dissolver a assembleia, concluindo, no fim, que nenhuma delas se verifica actualmente.

Ora, mesmo que o trabalho de casa tivesse sido bem feito - coisa que não sucedeu -, esta é uma fraca forma de argumentar, pois representa o abdicar de argumentos próprios, válidos pela sua consistência, em favor de argumentos doutrem, válidos apenas pela sua circunstancial coerência. Para piorar, chegou-se rapidamente à conclusão que o argumentário do CDS omitiu outras situações em que o Presidente consideraria igualmente a hipótese de eleições antecipadas e que, por acaso, até são passíveis de encaixar no momento actual. Deva-se tal omissão a pura e simples incompetência ou a uma manhosa conveniência, o certo é que foi suficiente para tornar supérfluo e, até, contraproducente, o referido documento, bem como a intervenção do CDS nesta história.

Santana e Portas, ao testarem Sampaio - alguém para quem um governo por eles encabeçado é muito difícil de engolir, quanto mais de nomear - com este tipo de provocações, estão a comportar-se como dois adolescentes na fase do armário. Só espero que, perante isso, o Presidente não perca a paciência, castigando-os com uma ida às urnas.


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