4.02.2004

Nova Iorque (II)

Em meados dos anos 70 surgiu na baixa de Manhattan um grupo chamado Television, e com ele nasceu o punk épico de Marquee Moon, cujo som das guitarras veio influenciar dos Pavement aos Strokes, passando pelo Lou Reed de New York e Magic and Loss.
Em Março de 2004, os Television apresentam-se gordos, carecas e de camisa aos quadrados, e Tom Verlain está rouco e cansado. No Irving Plaza, situado no coração da downtown nova iorquina, mesmo ao pé do Bowery e St. Marks Place, onde antes nasceu e desenvolveu-se a mais criativa ‘cena’ punk, não só não se pode fumar (cigarros, sequer), como é preciso fazer fila, mostrar o b.i. e receber uma pulseira com a inscrição ‘over 21’, para beber umas cervejas.
Definitivamente, o mundo está perigoso.


Nem todas as galerias são em Chelsea, mas em mais nenhum sítio do mundo é possível ver no mesmo dia e no mesmo quarteirão, David Smith, Alighiero Boetti, Catherine Opie, Robert Longo, Patti Smith, Sol Le Witt, Donald Judd e Martin Honert, para só mencionar os que conheço. Num quadrado delimitado pelas ruas 21 e 26 e as avenidas 10 e 11, alternando com garagens, oficinas e terminais de camionetas e táxis, encontra-se exposto e à venda o que de melhor se cria do minimalismo à arte povera, do conceptualismo ao pós-modernismo, da pop arte às correntes ainda não etiquetadas. Nem todas as galerias são em Chelsea, mas se fossem o mundo não seria muito mais pobre.


Numa entrevista à NBC (Meet the Press), Richard Clarke, ex-conselheiro da Casa Branca para questões de contra-terrorismo, debita e exibe para uma audiência nacional que assiste informação classificada como ultra confidencial, incluindo briefings sobre a Al Qaeda que produziu para o gabinete de Bush e correspondência que este último lhe dirigiu enquanto ainda era membro do seu staff. Como argumento para tamanha divulgação de segredo de Estado, Clarke avança um: defender-se de um suposto ataque moral de que alega estar a ser alvo.
Os Estados Unidos da América podem ter muitos defeitos, mas a falta de liberdade não é seguramente um deles. Em qualquer ‘país amigo’ dos nossos polícias ideológicos, na melhor das hipóteses este senhor estaria preso, na hipótese mais provável estaria morto. Na América edita best-sellers.
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