4.11.2004

Domingo de Páscoa
Um dos fenómenos que mais confusão me causa, é a ostentação bem disposta de ignorância religiosa por parte de alguns ateus e/ou agnósticos anticlericais, como se o desconhecimento que declaradamente exibem fosse um atestado de maioridade intelectual. Eu cá não sei nada disso – parece quererem dizer sempre que falam de algum aspecto da fé, sem que no entanto se coíbam em, de seguida, proferir juízos definitivos, sentenças irrecorríveis e comentários finais a esse propósito.
É um absurdo que aqueles que não acreditam tentem negar ou troçar (militantemente) de realidades que apenas são concebíveis para quem acredita. É tão absurdo que apenas se explica com uma compulsiva necessidade de atacar aquilo de que não gostam, nem que para isso vistam a fatiota de palhaços.

Diferentes, mas igualmente incompreensíveis, são aqueles que não fazendo parte da Igreja (não no sentido institucional mas no de comunidade), porque nela não acreditam, tentam a todo o momento definir as suas regras. Embora não reconheçam o papel eucarístico dos padres, querem que estes se possam casar; Embora não assistam à missa, exigem que as mulheres sejam ordenadas; embora não acreditem no mistério da fé (por não a terem), querem que os divorciados e os não baptizados possam comungar; embora não relevem a vinda de Cristo à terra, insurgem-se por um filme que retrata parte da mesma não mostrar (na sua óptica) amor mas só violência.
Qual amor? Qual é o amor que estas criaturas queriam ver no filme? Uma visão romântica da crucifixão? Uma versão asséptica da via-sacra? Mas porquê? Se para eles a vinda de Cristo, a Via-sacra e a crucifixão não representam nada além de alegados factos históricos. Atacar o filme de Mel Gibson por esta razão, para alguém que milita contra a religião cristã ou pura e simplesmente não acredita em Jesus Cristo, é mais ou menos o mesmo que alguém que não acredite na vida extraterrestre atacar um filme de ficção científica por o marciano ser verde.
Compreendo que se insurjam quando a doutrina da Igreja possa ter consequências fora da sua esfera religiosa – Se a Igreja quiser impor o que quer que seja a quem dela não faz parte, ou mesmo a quem dela faz parte, no caso de tais imposições serem indignas para quem as deve acatar. Percebo que reajam quando alguns dos membros da Igreja com responsabilidade perante um elevado número de pessoas, mesmo sem quererem impor, aconselham comportamentos potencialmente perigosos (estou a lembrar-me do desaconselhamento do uso do preservativo). Defendo que ataquem se e quando a Igreja tentar determinar aquilo que podem ver, ler, ouvir ou falar. O que não aceito é que aqueles que não acreditam, queiram impingir à Igreja da qual não fazem parte, as regras e costumes ‘lá de casa’, só porque, na sua concepção agnóstica do mundo, não simaptizam com os que nela vigoram.
Não aceito as regras que tentam impor - entenda-se -, porque a “catequese” recorrente e estafada que debitam cá estarei para continuar a ouvi-la. E a ela reagir, sempre que para aí esteja virado.
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