O político como homem da bola ou o homem da bola como político
A partir de uma certa altura, Santana Lopes (SL), que até então era tratado como um fait-divers, começou a ser levado a sério por um número considerável de comentadores e jornalistas políticos. Estes, começaram a ver que o homem era capaz de “chegar lá” e, pese embora manterem-se intactas as razões que os levaram antes a tratá-lo com a merecida superficialidade, tiveram medo de ser ultrapassados pela realidade e vai daí, quando o mito se torna o facto publique-se o mito, como se receassem ser punidos pela opinião pública que dava mostras de gostar de SL, votando nele em sondagens e eleições.
Foi vê-los a contorcerem-se para apontar e realçar qualidades e virtudes de SL e a “avisarem”, em tom mais do que menos convicto, que ele estava cada vez mais a tornar-se num “caso sério” da política portuguesa.
Ao lerem e assistirem a estas opiniões proféticas nos media, muitos dos próprios companheiros de partido de SL, que até essa altura se haviam limitado a aplaudir os seus números de circo em congressos, acharam também por bem contribuir para credibilizar a personagem, não fosse o diabo tecê-las e ela viesse mesmo a ser importante. Quando falo dos companheiros de partido, não estou a falar da famosa trupe pequeno-burguesa-rural que dentro do partido sempre o seguiu. Estou a falar de pessoas que, mesmo tendo em conta a arte de SL para provocar mixed feelings, tinham e têm alguma obrigação de saber distinguir o que interessa do que é uma farsa.
E assim, de animador de congressos e convidado VIP para cruzeiros a Benidorm, SL passou a possível candidato a vencedor das eleições presidenciais.
Este trajecto de SL, deve-se quanto a mim a um fenómeno comparável ao que se passa em relação ao futebol, ou não fosse também SL um homem do futebol.
Perante um suposto apoio popular incondicional a SL (como há em relação aos clubes de futebol), os jornalistas começaram por publicitar a figura para venderem mais, e, passo seguinte, a tratá-la com alguma seriedade para tornarem o seu trabalho mais digno e justificável. Um pouco como se passa relativamente aos jogadores de futebol, que mesmo quando não jogam nada de nada, nunca são alvo de criticas severas dos inúmeros media desportivos – “está num dia menos feliz” (mas, ainda assim, feliz? pergunto eu), “uma exibição discreta”, “não está num dia de sorte”, é o máximo que a maioria dos jornalistas dizem, quando perante os nossos olhos a exibição do jogador em causa só pode ser qualificada como uma nulidade. Isto porque, se os inúmeros media desportivos tratassem o nosso futebol como de facto ele é – medíocre menos – estariam a pôr em risco e em causa a sua própria existência em tão elevado número e destaque. Para quê que é preciso tantos jornais, televisões e rádios a divulgar e tratar de uma matéria tão pouco interessante? perguntariam, mais cedo ou mais tarde, os consumidores.
Por outro lado, os políticos da mesma área de SL, ao verem o destaque que ele tem nos media, bem como o seu real e suposto apoio popular – destaque e apoio que também o futebol tem – têm uma de duas reacções: Uns, por deslumbramento saloio, juntam-se a ele julgando adivinhar estar no lado certo; outros, mesmo desprezando profundamente SL, acobardam-se e, à cautela, não lhe fazem frente, chegando até ao ponto de, muitos destes, por uma questão de estratégia, juntarem-se também a ele. Mais uma vez, o mesmo que se passa entre a generalidade dos políticos e o mundo do futebol: Uns tentam jogar nos dois campos, pois acham que isso lhes vai dar notoriedade, publicidade e, logo, votos; enquanto que outros, com medo das reacções dos adeptos em fúria, mesmo desprezando-o, não ousam meter-se com o mundo da bola.
A questão que se põe agora é esta: quando já não estamos mais a falar de futebol, de congressos partidários, da Figueira da Foz ou até de Lisboa, mas sim da presidência da república, será que o fenómeno vai ser reduzido à sua pouco significância?
Da parte dos media, não há que ter esperança. A regra é, e continuará a ser, vender, pelo que, por aí, tudo vai continuar na mesma.
Já da parte dos políticos da mesma área de SL, daqueles que pensam e têm ainda algum gosto pelo país, eu espero que qualquer coisa seja feita. Espero que se deixem de mariquices e, de uma vez por todas, ponham fim a esta anedota em que cada vez mais vivemos.
A partir de uma certa altura, Santana Lopes (SL), que até então era tratado como um fait-divers, começou a ser levado a sério por um número considerável de comentadores e jornalistas políticos. Estes, começaram a ver que o homem era capaz de “chegar lá” e, pese embora manterem-se intactas as razões que os levaram antes a tratá-lo com a merecida superficialidade, tiveram medo de ser ultrapassados pela realidade e vai daí, quando o mito se torna o facto publique-se o mito, como se receassem ser punidos pela opinião pública que dava mostras de gostar de SL, votando nele em sondagens e eleições.
Foi vê-los a contorcerem-se para apontar e realçar qualidades e virtudes de SL e a “avisarem”, em tom mais do que menos convicto, que ele estava cada vez mais a tornar-se num “caso sério” da política portuguesa.
Ao lerem e assistirem a estas opiniões proféticas nos media, muitos dos próprios companheiros de partido de SL, que até essa altura se haviam limitado a aplaudir os seus números de circo em congressos, acharam também por bem contribuir para credibilizar a personagem, não fosse o diabo tecê-las e ela viesse mesmo a ser importante. Quando falo dos companheiros de partido, não estou a falar da famosa trupe pequeno-burguesa-rural que dentro do partido sempre o seguiu. Estou a falar de pessoas que, mesmo tendo em conta a arte de SL para provocar mixed feelings, tinham e têm alguma obrigação de saber distinguir o que interessa do que é uma farsa.
E assim, de animador de congressos e convidado VIP para cruzeiros a Benidorm, SL passou a possível candidato a vencedor das eleições presidenciais.
Este trajecto de SL, deve-se quanto a mim a um fenómeno comparável ao que se passa em relação ao futebol, ou não fosse também SL um homem do futebol.
Perante um suposto apoio popular incondicional a SL (como há em relação aos clubes de futebol), os jornalistas começaram por publicitar a figura para venderem mais, e, passo seguinte, a tratá-la com alguma seriedade para tornarem o seu trabalho mais digno e justificável. Um pouco como se passa relativamente aos jogadores de futebol, que mesmo quando não jogam nada de nada, nunca são alvo de criticas severas dos inúmeros media desportivos – “está num dia menos feliz” (mas, ainda assim, feliz? pergunto eu), “uma exibição discreta”, “não está num dia de sorte”, é o máximo que a maioria dos jornalistas dizem, quando perante os nossos olhos a exibição do jogador em causa só pode ser qualificada como uma nulidade. Isto porque, se os inúmeros media desportivos tratassem o nosso futebol como de facto ele é – medíocre menos – estariam a pôr em risco e em causa a sua própria existência em tão elevado número e destaque. Para quê que é preciso tantos jornais, televisões e rádios a divulgar e tratar de uma matéria tão pouco interessante? perguntariam, mais cedo ou mais tarde, os consumidores.
Por outro lado, os políticos da mesma área de SL, ao verem o destaque que ele tem nos media, bem como o seu real e suposto apoio popular – destaque e apoio que também o futebol tem – têm uma de duas reacções: Uns, por deslumbramento saloio, juntam-se a ele julgando adivinhar estar no lado certo; outros, mesmo desprezando profundamente SL, acobardam-se e, à cautela, não lhe fazem frente, chegando até ao ponto de, muitos destes, por uma questão de estratégia, juntarem-se também a ele. Mais uma vez, o mesmo que se passa entre a generalidade dos políticos e o mundo do futebol: Uns tentam jogar nos dois campos, pois acham que isso lhes vai dar notoriedade, publicidade e, logo, votos; enquanto que outros, com medo das reacções dos adeptos em fúria, mesmo desprezando-o, não ousam meter-se com o mundo da bola.
A questão que se põe agora é esta: quando já não estamos mais a falar de futebol, de congressos partidários, da Figueira da Foz ou até de Lisboa, mas sim da presidência da república, será que o fenómeno vai ser reduzido à sua pouco significância?
Da parte dos media, não há que ter esperança. A regra é, e continuará a ser, vender, pelo que, por aí, tudo vai continuar na mesma.
Já da parte dos políticos da mesma área de SL, daqueles que pensam e têm ainda algum gosto pelo país, eu espero que qualquer coisa seja feita. Espero que se deixem de mariquices e, de uma vez por todas, ponham fim a esta anedota em que cada vez mais vivemos.
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