Evelyn Waugh é um homem
Ainda o Lost in Translation. Ao ler mais um magnífico poste do FMS (o Francisco é das pessoas que melhor escreve nos blogues e não há mais discussão. E, se querem saber, isto não é graxa porque, por ora, a haver alguém que teria que a dar, seria ele a mim e não o inverso) - A GERAÇÃO BOGUS - lembrei-me de novo do Filme de Sofia Coppola, mais precisamente de uma cena que agora não me sai da cabeça: Scarlett e o marido encontram no lobby do hotel uma amiga de Hollywood. No meio da conversa, já não sei a propósito de quê, a amiga refere-se a Evelyn Waugh como sendo uma mulher, o que leva Scarlett a dizer, com um misto de desprezo e desinteresse, qualquer coisa como: “but, Evelyn Waugh was a man”.
Este pequeno comentário dá a Charlotte uma nova dimensão. Já não bastava ser linda de morrer, apresentar os dotes já confirmados na festa dos globos de ouro, estar a passar uma crise existencial, estar sozinha no outro lado do mundo, como ainda por cima é culta. Não é que o comentário em si mesmo seja revelador de uma grande cultura - uma pessoa culta não se define propriamente por saber que Evelyn Waugh é um homem, já o contrário, uma pessoa que julgue que é uma mulher, indicia uma considerável falta de cultura – mas no contexto em que foi feito, não haja dúvidas que Sofia Coppola quis revelar-nos (mais) essa qualidade da personagem.
De um momento para o outro, ficamos a saber que Charlotte é uma mulher perfeita, e eu, de dia para dia, quando penso em Lost in Translation, fico mais certo que não foi pelo filme, mas por ela, que nos apaixonámos.
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