Blogosfera
Não tenho a mínima das paciências para o género de reflexão sobre a blogosfera, a sua evolução e estado actual, o fenómeno e as suas consequências. Faz lembrar-me um excelente texto do Wim Wenders (On Film. Essays and conversations. faber and faber, 2001) intitulado “For (not about) Ingmar Bergman” em que ele começava por dizer que ia escusar-se a analisar ou interpretar os filmes de Bergman, pois eram aqueles que mais mereciam ser simplesmente vistos. Não quero, como é óbvio, comparar os blogs aos filmes de Bergman - os filmes de Bergman não se comparam com nada, estão acima disso -, mas, o facto é que quando vejo as análises e as tentativas de compreensão da blogosfera apetece-me muito deixar de a ela pertencer. A blogosfera, quando analisada na sua essência – um bando de gajos (e gajas) que gastam parte do seu tempo a debitar coisas para a Internet presunçosamente achando que as mesmas merecem ser lidas – é deprimente. Há tanta coisa escrita que não teremos tempo de ler, mesmo vivendo 100 anos, que se torna angustiante pensar que parte do pouco tempo que temos é passado a ler opiniões avulsas de quem, salvo raras excepções, pouco sabe daquilo sobre o que escreve. É verdade que há talento e de vez enquanto se descobre uma frase, uma imagem, uma visão que fica e que compensa as banalidades que nesse dia lemos. Mas para que isso seja bom, como é, torna-se fundamental não analisar a questão, limitarmo-nos a ler e escrever quando nos apetecer o que nos apetecer (excepto análises da blogosfera, claro). Outra coisa que me faz ficar deprimido por escrever blogs, é deparar-me com aqueles tipos (às vezes tipos que eu gosto de ler), que vem pedir desculpa por não terem escrito muito, ou pouco, ou nada, ou terem andado com muito trabalho, ou estarem a pensar em desistir ou em parar ou apagar ou passar a escrever uma vez por mês ou nunca mais, ou que vão de férias e pedem a nossa compreensão para o interregno, ou, pior ainda, os que comentam estes dizeres e apelam, criticam, agradecem ou anseiam. Deprime-me porque, uma vez mais, obriga-me a relativizar o “fenómeno”, a reduzi-lo à sua essência e a constatar o quão triste é achar que o que fazemos tem mais importância do que aquela que de facto tem, i.e pouca. Nas coisas que me deprimem na blogosfera incluo, naturalmente, esta coisa que agora escrevo, também ela parente das que acabo de considerar deprimentes. A maior humildade é a que reside no pudor em expor as nossas misérias.
Não tenho a mínima das paciências para o género de reflexão sobre a blogosfera, a sua evolução e estado actual, o fenómeno e as suas consequências. Faz lembrar-me um excelente texto do Wim Wenders (On Film. Essays and conversations. faber and faber, 2001) intitulado “For (not about) Ingmar Bergman” em que ele começava por dizer que ia escusar-se a analisar ou interpretar os filmes de Bergman, pois eram aqueles que mais mereciam ser simplesmente vistos. Não quero, como é óbvio, comparar os blogs aos filmes de Bergman - os filmes de Bergman não se comparam com nada, estão acima disso -, mas, o facto é que quando vejo as análises e as tentativas de compreensão da blogosfera apetece-me muito deixar de a ela pertencer. A blogosfera, quando analisada na sua essência – um bando de gajos (e gajas) que gastam parte do seu tempo a debitar coisas para a Internet presunçosamente achando que as mesmas merecem ser lidas – é deprimente. Há tanta coisa escrita que não teremos tempo de ler, mesmo vivendo 100 anos, que se torna angustiante pensar que parte do pouco tempo que temos é passado a ler opiniões avulsas de quem, salvo raras excepções, pouco sabe daquilo sobre o que escreve. É verdade que há talento e de vez enquanto se descobre uma frase, uma imagem, uma visão que fica e que compensa as banalidades que nesse dia lemos. Mas para que isso seja bom, como é, torna-se fundamental não analisar a questão, limitarmo-nos a ler e escrever quando nos apetecer o que nos apetecer (excepto análises da blogosfera, claro). Outra coisa que me faz ficar deprimido por escrever blogs, é deparar-me com aqueles tipos (às vezes tipos que eu gosto de ler), que vem pedir desculpa por não terem escrito muito, ou pouco, ou nada, ou terem andado com muito trabalho, ou estarem a pensar em desistir ou em parar ou apagar ou passar a escrever uma vez por mês ou nunca mais, ou que vão de férias e pedem a nossa compreensão para o interregno, ou, pior ainda, os que comentam estes dizeres e apelam, criticam, agradecem ou anseiam. Deprime-me porque, uma vez mais, obriga-me a relativizar o “fenómeno”, a reduzi-lo à sua essência e a constatar o quão triste é achar que o que fazemos tem mais importância do que aquela que de facto tem, i.e pouca. Nas coisas que me deprimem na blogosfera incluo, naturalmente, esta coisa que agora escrevo, também ela parente das que acabo de considerar deprimentes. A maior humildade é a que reside no pudor em expor as nossas misérias.
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