10.08.2003

LAMENTÁVEL
É o mínimo que se pode dizer das demissões dos Ministros do Ensino Superior e Negócios Estrangeiros.
Se a do primeiro ainda se concebe, por haver dúvidas quanto à legalidade (não para mim, que é legal) do despacho, por haver pouco cuidado na forma como despachou e, sobretudo, por, na sequência das anteriores razões, ficar numa posição admissivelmente frágil, susceptível de prejudicar a sua acção, a demissão do segundo é totalmente disparatada.
O Ministro Martins da Cruz garantiu na AR, sob palavra de honra, que não havia feito o que quer que fosse para influenciar o despacho do requerimento feito pela sua filha. Logo, não havendo provas do contrário, tem que se aceitar o que o Ministro disse como verdadeiro.
Por outro lado, é normal que a maioria dos media e da oposição especule e insinue outros cenários. Bem ou mal, é esse o seu papel.
E qual é, num caso destes, o papel que devem ter aqueles que apoiam este governo?
Um eleitor informado deste governo que assiste à afirmação demagógica de um membro do PS de que (e não sei se foi exactamente assim, mas é este o sentido) "a cimeira europeia não suspende a democracia" (como se a democracia fosse um Ministro demitir-se sempre que a oposição tal exige) e ao discurso do Secretário-geral do PS, no qual este acusa o Ministro do NE de não ser solidário com Ministro do ES, (por não se demitir também?!), não deve deixar-se impressionar e, regra geral, não deixa.
Consciente da "inocência" do Ministro, este eleitor sabe que é normal estas coisas serem ditas e é normal que (neste contexto) não sejam para levar a sério.
Mas, quando esse mesmo eleitor informado se apercebe que, afinal, tais pregões eram mesmo consequentes, que a cimeira europeia suspendeu mesmo "a democracia" e que as exigências de demissão da oposição são para serem sempre atendidas, ele só pode sentir-se decepcionado.
Decepcionado por ver inconsistência e fraqueza naqueles em quem votou e por ter perdido tempo a tentar defender aquilo que, afinal, não era para defender.
Ao contrário do que ultimamente se tenta fazer crer, nem sempre a demissão de um Ministro é um “acto digno” que “todos devemos respeitar”. Por vezes é um disparate que só prejudica o País.
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