5.30.2005

A vitória do Nã...

Afinal, parece que não foi só o medo de tudo e de todos que levou os franceses a votarem não. Foi, também, aquele irritante tique de começar todas as respostas, ainda que afirmativas, por "não". Ou, melhor, por Nã...
Perante a questão concreta, na solidão da urna, muitos foram aqueles que, apesar de favoráveis ao Tratado, não resistiram ao impulso e votaram Nã... - Queriam eles dizer: Nã... Sim, claro que vou votar sim - ou - Nã.... Este é um óptimo Tratado, sem dúvida que vou votar sim - ou ainda - Nã... este é o melhor Tratado de sempre, vou por a cruz no sim. Mas, no boletim, ao contrário do que sucede em conversas correntes, não há espaço para emendas. E, assim, por causa deste intragável e contagiante tique, lá ganhou o não. Ou, melhor dizendo, o Nã...

Um não é um não, seja qual for a sua razão

Curiosa a ideia que se quer fazer passar de que todos os nãos franceses foram "pelas piores razões". Curiosa, mas mal informada. Portugal tem algumas boas cabeças, capazes de trabalhar por si e perceber que as motivações para o não foram as mais variadas (como variadas foram as razões para o sim). Mas Portugal e os portugueses têm também um longo caminho a percorrer para atingirem o patamar de civilização onde a França, apesar de tudo, ainda se encontra. Há que ter noção do tamanho e das proporções, e não é imitando os piores tiques franceses - tão bem exibidos na campanha do sim - que lá se chega. Pouco interessa vir dizer que todos os que votaram não são burros ou comunistas ou ignorantes ou fascistas ou radicais contra isto e contra aquilo ou idiotas descontentes que estão mais preocupados com as suas vidinhas do que com o destino da Europa ou, em suma, que o fizeram pelas piores razões. Primeiro, porque é inútil - o que fica é o resultado e não a(s) sua(s) desconstrução(ões). Segundo, porque não é bem verdade que assim tenha sido. Houve, com certeza, muitos franceses que, esclarecidos, votaram não pelas melhores razões. Muitos mais do que aqueles que, sim ou não, esclarecidos ou nem por isso, irão votar no referendo português. Os outros, os que "não percebem nada", “os contestatários”, os que "não ligam a coisa nenhuma", os “idiotas úteis”, os que vão gritar para "a rua", serviram, como normalmente servem, para encher. Neste como noutros sufrágios. Lá, como aqui, como em todo lado onde o voto é um direito universal.

p.s. mais curioso ainda (acabo de reparar) é ver esta ideia difundida por defensores do não. Será que o Francisco e o Luciano ainda acreditam que votar é um acto que carece sempre de uma "boa" motivação?

5.29.2005

O fim da Europa?

Em França, o não ganhou. Entretanto, a Europa não acabou e a União Europeia, com mais ou menos "construção", irá continuar.
A campanha desastrosa do sim - com o recurso a sucessivas vagas de políticos estrangeiros para ajudarem os campeões do mundo em chauvinismo a decidir como votar - e a sistemática chantagem que foi (e é) feita sobre aqueles que não estão dispostos a aceitar tudo de mão beijada, acabaram por revelar-se contraproducentes. Mas não foi só por estas e outras razões marginais que o tratado foi rejeitado. Foi-o, também, por culpa própria. Pelo seu conteúdo: confuso, logo intratável; uniformizante, logo gerador de inaceitáveis desigualdades; extenso como o de uma constituição terceiro-mundista, logo castrador, centralizador, irrealista.
A Europa é um continente com alguns séculos de história e civilização. Pode estar velha e cansada, mas (ainda) não o suficiente para acabar por causa de um não às aventuras e fantasias do Sr. Giscard.

Cenas da vida pouco conjugal

(após acordar da sesta)
É verdade, deixa cá ver como é que ficou o referendo .... Ganhou o não - ó pá, até estou capaz de ir buzinar para o Marquês.
(imediatamente a seguir, ao saber que o benfica perdera uma taça)
É melhor não, poderia ser mal interpretado.

Europe anos 80/ Europa anos 00

O fim da Europa

Por outro lado, atendendo à hora tardia a que o dito exibe a sua sapiência na caixa que mudou o mundo, é já pouco provável que dê para ouvir, por uma última (mas sempre inolvidável) vez, o comentador Rui Santos.

O fim da Europa

Graças a Deus que os resultados do referendo francês só serão conhecidos à hora do jantar. Assim, pelo menos por uma última vez, vão poder deixar jogar o Mantorras .

O fim da Europa

Avisado por gente importante, entre a qual o Dr. Soares, de que a vitória do não em França significará o fim da Europa, planeio, ainda hoje, apanhar o avião para a América Latina. Não quero cá estar quando isto acabar.

5.24.2005

American Music Club

Mais triste que isto só "O Silêncio", o clube, com o seu espectáculo No hay Banda!. Não podia ser mais lynchiano, o cenário onde actuaram ontem os American Music Club: um pequeno palco com o estritamente necessário à frente de uma larga cortina de veludo encarnado. Mark Eitzel surgiu igual a si mesmo - a um pedinte, ou melhor, a um espantalho. Com o chapéu de abas enfiado na careca e a cara inchada pelo álcool dos últimos e longos anos de espera. Mas, quando pegou na guitarra, disse algumas palavras - umas imperceptíveis, outras não - e começou a tocar, tudo o que se ouviu foi bom. Muito triste e muito bom. Até os ruídos marginais causados pelo mau contacto do cabo do amplificador soaram tão bem. Muito bons e muito tristes. Tal como as canções; Why won't you stay?, Only Love can Set you Free, Another Morning, Patriot's Heart; ou o interlúdio em que Eitzel exercitou outro dos seus talentos - a stand up comedy - acentuando o anti-herói que há em si. O anti-cool, com a graça dura e melancólica de um Lenny Bruce.
É quase impossível escrever sobre a música dos American Music Club sem cair em clichés: anti-heróis, amores que têm tudo para não dar certo, a América nua e crua, a sinceridade e a solidão nas canções intensas e desoladas, próprias daquela hora em que é cedo demais para o circo e tarde demais para os copos. Outside this Bar, Home, Blue and Grey Shirt, Western Sky. Pelo meio, uma cover de Joy Division (Heart and Soul), e, a fechar, a maior descarga de energia da noite, com uma espantosa música (cujo título desconheço), numa interpretação que cruzou os melhores dias dos Crazy Horse com os últimos do gajo que começou isto tudo: Elvis Presley.

5.22.2005

It smells like Teerão 1979





(Marquês do Pombal, Lisboa, 22.05.05)

5.20.2005

É por estas (e por outras) que também vou assinar a petição

Chateia-me a falta de arrojo do muito falado (e um tanto ou quanto apaneleirado) “programa de educação sexual” para as escolas portuguesas. Acho mal que, por entre idênticas abordagens ao acasalamento hetero e homo ou a temática da masturbação, não haja espaço para exaltar as virtudes do trio ffm. Esta, sim, uma matéria que merecia ser ensinada. Inclusivamente às professoras.

5.19.2005

A invisibilidade do óbvio

Na nossa media desportiva, o treinador português é uma vaca sagrada. Apesar de perder, é sempre um grande treinador; apesar de incompetente, tem sempre muito a ensinar; apesar da ausência de currículo, tem sempre uma enorme experiência; apesar de fraco, é sempre um excelente condutor de homens. O único treinador português que se desvia da perfeição é José Mourinho. Tem todas as qualidades dos outros, mas acrescenta-lhes um defeito: é arrogante e malcriado.
Peseiro, como quase todos os treinadores portugueses, é um treinador perfeito. Um grande treinador, com muito para ensinar, uma enorme experiência e excelente na condução de homens. Portanto, só uma coisa o justifica e absolve: a invisibilidade do óbvio.

A desolação é tal que até me dá para citar Nelson Rodrigues.

A entrega da taça

Quiçá por nunca antes ter assistido ao vivo a uma final da taça UEFA, estranhei ver tanta gente a abandonar o estádio quando ainda faltava mais de um quarto de hora para o fim do jogo e para a entrega da taça.

5.18.2005

Hesitação entre gerações


Lena Olin (Irina Derevko) e Jennifer Gardner (Sidney Bristow). Mãe e filha em Alias.

Alias

Comecei por ver Alias como um sucedâneo mais do que menos apagado de 24, sem a acção em tempo real nem o alucinante e aditivo ritmo desta, mas com elementos e uma intriga afins: Los Angeles, a CIA, sombrias organizações criminosas que querem dar cabo da América para conquistar o mundo, terrorismo high-tech, torturas imaginativas, bons e maus, gadgets de ponta e decisões rápidas sobre a proporcionalidade e adequação dos meios usados para atingir os fins, numa série que, mais que impingir uma qualquer moral, pretende distrair divertindo.
À medida que os capítulos foram avançando, deixei de subalternizar Alias a 24. Primeiro, converti-me às personagens: Sidney Bristow (a boa), Irina Derevko (a ) Arvin Sloane (o vilão), Marshall Flinkman (o equivalente ao Q dos James Bonds, fisicamente igual a um Mel Gibson anão mas com uma graça desgraçada) ou Rambaldi (a personagem chave, que, apesar de morta há 500 anos, por via dos misteriosos manuscritos e artefactos que deixou, é o motor de toda a acção); depois, deixei-me seduzir pelos alias da heroína e pelos lugares – ao contrário de 24, Alias é uma série literalmente passada à volta do planeta; para finalmente entrar naquele mundo onde, como em qualquer boa história de espionagem, ninguém é bem aquilo que parece até ao dia em que acaba por parecer aquilo que é.
Hoje, a caminho da season 3, já não quero outra coisa.

5.17.2005

Parabéns e parabéns

O No Quinto dos Impérios fez dois anos e a Sara (ex-Desassossegada) fez um novo blog.

Importa-se de não repetir

- O que seria de ti sem mim?
- Obviamente, mais feliz

5.11.2005

A recorrente ansiedade do adepto

Gosto muito de blogs que teimam em manter-se actuais mesmo quando não são actualizados.

Não tenho estado , mas vou andando por aqui.

Ora então cá vai, amigo Diogo

1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

Andar a recitar livros de memória por entre as árvores é coisa que não faz o meu género. Direi mesmo que é coisa de atrasados mentais. Assim, não podendo sair do Fahrenheit 451, queria ser queimado.

2. Já alguma vez ficaste apanhado por uma personagem de ficção?

Já, há muitos anos, quando tentei pela primeira e única vez subtrair um chocolate ao supermercado. Em tempos, também me senti tomado de assalto por Tom Ripley (Patricia Highsmith) e Geoffrey Firmin (Under the Volcano, Malcolm Lowry), mas passou.

3. Qual foi o último livro que compraste?

Um amigo (e calculo que muitas outras pessoas) costuma dizer que melhor que lê-los é comprá-los. Para já, comprei uma casa nova. Entretanto, mandei vir da Amazônia Rip It Up and Start Again – postpunk 1978-1984, do grande Simon Reynolds.

4. Qual o último que leste?

Reli, ontem, Os Charutos do Faraó (Hergé). Meia hora de incorrecção política antes de adormecer ou, como diria o locutor do fórum, meia hora de colonialismo, racismo e fascismo.

5. Que livros estás a ler?

Estou in between. Vou continuar pelos Tintins por mais dois ou três dias, seguindo-se, daqui a nada, Tintin no Congo (quando este ainda era belga)

6. Que 5 livros levarias para uma ilha deserta?

A interpretação dos Sonhos (Freud); The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket (Edgar Allan Poe); Confissões de uma Máscara (Mishima); Lord of the Flies (William Golding); a colecção Argonauta completa; e uma boa bibliotecária boa para nos arrumar.

7. A que 3 pessoas vais passar este testemunho?

Por pudor, a ninguém.

5.10.2005

O outro

Blog do Pacheco linkado pelo blog do Pacheco

5.09.2005

Que viva Chile!

À atenção da SAD, dos russos e do Sr. Lennart Johansson

Sou do Sporting, mas também sou daqueles que não vêem com bons olhos a antecipação da final da taça UEFA para limpar cartões e permitir que Liedson jogue na Luz.

O Professor e o jogo da bola

Fernando Seara, em debate na SIC Notícias, culpa José Guilherme, o árbitro e Maquiavel pela derrota do Benfica em Penafiel.

5.06.2005

Algum dia Cunhal haveria de ter razão

No dia em que duas derrotas foram, também, duas vitórias.

Agora é que é

Se Cavaco for à final da taça UEFA, voto nele.

5.04.2005

Brincar com o fogo

Se o Sporting passar à final da UEFA, voto Cavaco.

Ah, estes Marxistas pimba

Numa conversa de circunstância com um tipo que nem sequer conheço bem, já não sei a propósito de quê, digo mal do João Pedro Pais e do seu disco, que não tenho, não ouvi, nem gosto, mas é-me indiferente que exista. O tipo reage, dizendo-me que não devia dizer o que disse. Desinteressado, a pensar noutras coisas, pergunto-lhe porquê. Responde-me: "Porque deu muito trabalho a fazer".

5.03.2005

Ainda Zappa

Frank Zappa - salvo erro num dos You Can't Do That On Stage Anymore - tem uma daquelas frases curtas e grossas que tão bem o caracterizam: "There is no hell. There is only France".
Não faço ideia do que diria Zappa sobre o "traité", mas, a crer nas sondagens, no próximo dia 29, esta tirada vai fazer todo o sentido. Para Chiracs, Giscards e Zés Barosso.

Do contra

Não deixa de ser sintomático que em todos os referendos que me lembro (aborto, regionalização, "tratado constitucional") o meu voto seja Não

Em suma ...

Communism doesn't work because people like to own stuff.
Frank Zappa

5.02.2005


Ernst Haas - Albuquerque, New Mexico, 1969

Don't believe the hype - its a sequel

Pior ainda que "Antes do Amanhecer" (Before Sunrise) ou "Antes do Anoitecer" (Before Sunset), é aquilo que uma afamada cave sita nos armazéns do Chiado anda a tentar impingir ao pagode: um pack com ambos.

5.01.2005

Pinilla 3 - Vidal Sassoon 0

Vários meses depois e algumas tentativas frustradas mais tarde, Pinilla acerta no penteado, começa a marcar golos e destaca-se dos seus próprios cabelos
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