12.31.2004

... e assim, até o mundo acabar

Spinning Away, Brian Eno/John Cale

12.29.2004

from here to virginity

(post em maturação)

every you/every me

E pensar que seria eu uma pessoa menos egoísta se assim não pensasse.

jogos sem fronteiras

Era uma vez um homem que nasceu Adão, António, José, Gaspar ou João, mas não, não gostou de assim se chamar. Vai daí, de nome resolveu mudar. Escolheu Eládio. O quê?! Porquê? Por causa do quê? Gostava eu de saber.
Nunca lhe perguntei, pois nunca ao vivo o vi. Se ao vivo o houvesse visto, talvez perguntado tivesse. E daí... Talvez não: (chateado) não quero querer saber por que é que escolhe chamar-se Eládio, quem nasce João, António, Gervásio ou Adão.
Razões – admito – terão existido. Quiçá, prevendo o futuro – como faz um homem vidente, previdente, ou apenas prevenido - lutou por ele. Optou por um nome que ficasse bem na televisão. Um bom nome para apresentar um programa de animação - animado, como animada, decerto, depois de estreado, ficaria a programação.
Veio a estreia, e com ela a satisfação. De Eládio. Por ver o futuro, tal como o havia previsto, a correr à sua frente: as almas anémicas daqueles que puderam assistir à primeira emissão, a animarem com o tal programa de animação. A encherem-se de alegria e, a espaços, até, de emoção. Comoção, com tão magnífico presente dado. Pelo Estado, o dono da retransmissão. O Estado soberano. O povo feliz. E o apresentador - Eládio - radiante por espalhar a boa disposição pela populaça. Vaidoso, até, com tamanho estado de graça.
Ao longo dos anos, Eládio foi paulatinamente construindo um importante pedaço do imaginário colectivo. Primeiro a preto e branco, depois a cores (cara e ecrã colorido); primeiro sozinho, depois acompanhado; inclusivamente, já veterano, em participação especial foi destacado - solo per la finale - como alertou a RAI aos seus incrédulos telespectadores. Tornou-se numa “referência”, com inúmeros adoradores.
Eládio, o vidente, previdente, ou só homem prevenido, ao mudar de nome, arriscou. Ao mudar de João, Gastão, Manuel, ou Adão, para Eládio, inventou. Ousou. Ir mais além do que um simples João, Girão, Adão ou Zé-Ninguém. Da fama ficou mais perto, mas, arrojado, por aí não se quis quedar. A fama, ou se vive ou não faz sentido. Alcançá-la era um imperativo. Não podia parar. E assim, ao Eládio próprio, somou o Clímaco apelido. Um novo risco, um risco a multiplicar. Que Eládio, decidido, se dispôs enfrentar. Arriscou, ganhou, e famoso ficou.
Vingou, como vê.

(o pior foi depois, anos depois, no dia em que “Eládio Clímaco” – o nome –, atirado para um fundo de uma prateleira da RTP memória, se fartou de viver com Eládio Clímaco – o, agora apenas e só, locutor)

12.28.2004

giochi senza frontiere

De todos os nomes do mundo, de todas as combinações possíveis, “Eládio Clímaco” foi aquela que Eládio Clímaco para si escolheu. E isso é algo que "Eládio Clímaco" não perdoa a Eládio Clímaco.

12.27.2004

2004 (DVDs)

- 24 - Season Three (Fox);
- John Cassavetes - Five Films (Criterion);
- Gato Fedorento (SIC);
- Videodrome, David Cronenberg (Criterion);
- Goodfellas - Edição especial, Martin Scorsese (Warner);
- L'Affaire Ciceron (5 Fingers) - Coffret Joseph L. Mankiewicz 3 DVD, Joseph L. Mankiewicz (Carlotta Films);
- Under Blackpool Lights, The White Stripes (naïve);
- Agosto (Globo Video);
- The Good, the Bad & the Ugly - Extended Version Collector's Set, Sergio Leone (MGM);
- Corto Maltese na Sibéria, Richard Berry (Studio Canal).

Menção mais do que especial:
- The Oficce (BBC).

mas canta, escreve e joga à bola

!

Já fiz duas grandes viagens pela Ásia, ambas inesquecíveis. Já estive em vários dos sítios atingidos pelo terramoto de ontem. A Ásia, sobretudo o Extremo Oriente, é um outro planeta. É, de longe, o lugar no mundo onde me sinto mais a viajar. É uma região onde quero sempre regressar.
O post aqui debaixo não tem graça nenhuma. Fi-lo antes de ver o que de facto se havia passado, antes de ver as imagens. Fi-lo a pensar unicamente nas supostas tsunamis que se dirigem para Portugal - totalmente inofensivas, a avaliar pelo que me disseram.
Tenho um certo fascínio por catástrofes naturais, mas apenas literário. Não quero, não gosto - como espero passe a ser óbvio - que aconteçam.

12.26.2004

tsunami


Antes isso do que (mais) uma vaga de fundo por Cavaco.

12.24.2004

missa do galo

What do you want for Christmas?

- What do you want for Christmas?
- I want a living doll, not so tall,
‘cause I’m so small.
- What do you want for Christmas?
- I want a star so bright,
a little light to kiss goodnight.
- What do you want for Christmas?
- I want a little poney, for it’s so funny,
to give my honey.
- What do you want for Christmas?
- I want a little phone, a call from home,
for I’m alone.
- What do you want for Christmas?
- I want two pairs of shoes,
one to wear and one to lose.
- What do you want for Christmas?
- I just want a Merry Christmas.
- What do you want for Christmas?
- I just want a Happy New Year.

[António Olaio/João Taborda, Loudcloud, 1996]

A minha música “de Natal” preferida.
Ora, sendo isto coisa impossível de achar na internet, apenas posso aqui deixar a letra (e uma banda sonora alternativa roubada aos Pulp).


for what it's worth

Só voltar atrás se atrás for à Frente.
[Gonçalo M. Tavares, Livro da Dança, Assírio & Alvim, 2001]
E não é que, tantas vezes, é.

12.23.2004

jeux sans frontiers

Eládio Clímaco envenenado pelo seu próprio nome.
(notícia a desenvolver nos próximos dias)

12.22.2004

onirofobia

Era tão frágil que, ao deitar-se de barriga para baixo, usava uma almofada para proteger o coração em queda para o fundo do sono.

12.21.2004

2004 (discos)

Originais:

- Riot in an Empty Street, Kings of Convenience;
- Franz Ferdinand, Franz Ferdinand;
- A Ghost is Born, Wilco;
- Cinema, Rodrigo Leão;
- Voices From the Dustbowl, Fragile State.

[ainda não ouvi Abattoir Blues/Lyre of Orpheus (Nick Cave) e
A Grand Don't Come for Free (The Streets)]

Reedições, compilações, remakes:

- Singles 1965-1967 (e todo o catálogo dos London Years), Rolling Stones;
- Smile, Brian Wilson;
- Complete in a Silent Way Sessions, Miles Davis;
- Crooked Rain Crooked Rain: L.A.'s Desert Origins, Pavement;
- Rarum Xiv: Selected Recordings, Pat Metheny;
- Bridge Over Troubled Water/ Bookends/ Sounds of Silence/ Parsley, Sage, Rosemary & Thyme (revistos e ampliados), Simon & Garfunkel.

Adenda (músicas "importantes" do ano)

- Our Mutual Friend, Divine Comedy (Absent Friends)
- Slaveship, Josh Rouse (1972)
- It's Only Time, The Magnetic Fields (I)
- C'mere, Interpol, aliás, quase todas as de Antics.

a anormal normalidade dos anormais

Às tantas, a meio do jogo Guimarães-Sporting (2-4 para a posteridade), a “aguerrida” “massa associativa” do Vitória insurgiu-se contra sabe-se lá o quê e desatou a arrancar cadeiras e a arremessá-las para dentro do “terreno de jogo”. Juntamente com as cadeiras, choveram isqueiros, moedas, porta-chaves e corta unhas, ao mesmo tempo que se ouvia um massivo bombardeamento de “impropérios”. No intervalo, “à saída para as cabines”, o árbitro teve que ser escoltado pela polícia de choque de escudos erguidos. Os “árbitros assistentes” também.
No fim do jogo, por alturas da “Flash-Interview”, o treinador da “equipa vimaranense”, ao ser confrontado com o comportamento da “sua massa adepta”, e questionado sobre se esperava “represálias por parte dos órgãos competentes da Liga”, afirmou, “serenamente”, que não - que nada de anormal se havia passado; que nada contrário ao que está estipulado “no regulamentos” se tinha verificado. Perante tal resposta, o jornalista, pois está claro, abandonou o assunto.

agora que isto está a acabar

Há que reconhecer que nem tudo foi em vão. Por exemplo, algumas expressões de uso meramente local foram adoptadas em pleno pelo léxico nacional. Estou a lembrar-me de santanice: um misto de sacanice com trapalhada. Ou de sacanagem com trapalhice.

12.20.2004

invisible jukebox

Energy Flow - Ryuichi Sakamoto, BTTB, 2001
October 17, 1988 – Keith Jarrett, Paris Concert, 1988

saiu


Foi visto
E venceu(-nos)
[Under Blackpool Lights]

doçaria de Natal

Não ter/ Não comer/ Não conhecer quem tem/ Evitar quem come.

ah, mas ainda pode haver réplicas


Até nisto nos tornámos medíocres.

12.17.2004

no entry.

12.15.2004

prós e contras

Nada me move contra “os direitos dos animais”, até porque tenho bastante dificuldade em reconhecê-los.

sequência lógica

Primeiro veio a vontade de comer, só depois chegou a fome do amor.

invisible jukebox



Out on the weekend – Neil Young, Harvest, 1972

Angelina Jolie, Marisa Tomei and an unidentified pornstar playing with a strap-on dildo

Qualquer dia vou preso.

histórias da minha vida

Esquecer a perfeição
Ocultar o desastre
Inventá-lo sob a forma de revelação imperfeita.

histórias da minha vida (interior)

Hesitar entre a perfeição e o desastre
[Gonçalo M. Tavares, Livro da Dança, Assírio & Alvim, 2001]

Angelina Jolie in a wild ffm threesome orgy

Ou o recurso à fraude como meio de fazer aumentar as visitas acidentais.

conto muito curto

Apesar de tudo, ele não tinha nada.

12.13.2004

invisible jukebox

(C): Smoke and mirrors
Special effects
A little fear, a little sex
That's all love is
Behind the tears
Smoke and mirrors

Smoke and Mirrors - The Magnetic Fields, Get Lost, 1995

bom dia

estado de alma

Que se lixe o sentido de Estado. Interessa-me, isso sim, o bom estado dos sentidos.

12.12.2004

bestiário

Tenho um peixinho vermelho, num aquário pequeno, na sala.
Hoje, perguntei-lhe se era feliz.
Respondeu-me: «Ser feliz é como ser perito em metafísica chinesa: tem que se falar chinês com metafísicos, sobre metafísica com chineses, nunca usar palavras com menos de três sílabas e evitar perguntas difíceis.»
«Não entendo.»
«Se entendesses, serias um perito em metafísica chinesa.»
[José Alberto Oliveira, Bestiário, Assírio & Alvim, 2004]

Para Jorge Sampaio

morning. so

à noite

Quando entrou em casa, percebeu que estava sozinha.

12.11.2004

sem título

Já não ia lá há muito tempo; aliás, já não ia a lado nenhum. Ficava enfiada em casa, à espera do momento em que, cansada de tanto esperar, voltasse a ter vontade de sair. Certo dia, longe ainda do ponto de saturação, levantou-se do canto onde se havia anichado, vestiu-se, quase nada, como dantes ousava vestir-se, e, ao abrir da porta, sentiu um estranho desejo de chorar.
Horas depois, corria no ecrã de um cinema o genérico final deste filme.

invisible jukebox

I am Waiting - Rolling Stones, Aftermath, 1966
Not even Jail - Interpol, Antics, 2004
Infelizmente, não são cerca de 3 - 7 minutos. O que para já se consegue, são 20 - 27 segundos de música. Um excerto suficientemente curto para poder ser identificado. Nos próximos dias, irei revelar de mim muito mais do que até agora tenho revelado. A minha colecção de discos.

12.08.2004

(n)ever ending sea


Hiroshi Sugimoto, Mediterranean Sea, Cassis, 1989

12.07.2004

big fun

desta vez não foi o padeiro

O padeiro é uma figura que recorrentemente vem à baila quando no meio de uma conversa alguém quer insinuar que determinada mulher anda a enganar o marido. Neste poema de Raymond Carver, porém, o padeiro não engana ninguém. O padeiro é o marido, e é ele “o enganado”. Pior, já que tudo é feito às claras.

The Baker

Then Pancho Villa came to town,
hunged the mayor
and summoned the old and infirm
Count Vronsky to supper.
Pancho introduced his new girl friend,
along with her husband in his white apron,
showed Vronsky his pistol,
then asked the Count to tell him
about his unhappy exile in Mexico.
Later, the talk was of women and horses.
Both were experts.
The girl friend giggled
and fussed with the pearl buttons
on Pancho's shirt until,
promptly at midnight, Pancho went to sleep
with his head on the table.
The husband crossed himself
and left the house holding his boots
without so much as a sign
to his wife or Vronsky.
That anonymous husband, barefooted,
humiliated, trying to save his life, he
is the hero of this poem.

[Raymond Carver, Fires - Essays, Poems, Stories, Harvill, London, 1994]

femme

Femwe
Elle s'ouvre
Elle s'offre
Elle souffre

[Décio Pignatari, Poesia Pois é Poesia, Ateliê Editorial, SP, 2004]

12.06.2004

a menos que seja para comer a psiquiatra

(...) Performing cunnilingus and visiting a woman psychiatrist are both ill-advised activities that can brand a man as a “finook”. During a golf game, Tony teases Uncle Junior by hinting at his penchant for oral sex, and Junior returns the taunt in reference to Tony’s therapy: “At least I can deal with my problems”. Tony himself struggles with the feeling that he is compromising his masculine image by seeing Dr. Melfi. When Jennifer tells him about Proust’s Remembrance of Things Past, in which one bite of a madeleine unleashed a tide of memories, Tony is disdainful: “This sounds very gay”, he retorts. “I hope you’re not saying that”. Jennifer’s reference to Proust may be questionable technique (it makes her look a bit like a show-off), but it’s hard to see the connection between madeleines and homosexuality unless you happen to be a Mob boss. (...)

[Glen O. Gabbard, The Psychology of The Sopranos, Basic Books, NY, 2002]

12.03.2004

big fun

We want miles, milestones, miles to go, miles ahead, miles away, miles out, miles in the sky
Walkin
Workin
Steamin
Cookin
Relaxin
Miles smiles

vereda (quase tropical)

Um carreiro a subir, a subir, a subir (ou 3x a descer). Parado, um papagaio encarnado, outro amarelo e azul e verde E um preto velho que ri, reza, preza os seus
Enjaulados, mas bem tratados, macacos, araras e tucano,
Sozinho, todo o ano
Num trilho acidental, a única decepção é a do regresso.

12.01.2004

voto

Em quem conseguir dizer apenas e só "os portugueses", sem que, antes ou depois, venham "as portuguesas".

do real para o virtuoso virtual

Future
No futuro quando a morte morrer, quem se suicidar, será imediatamente ressuscitado e metido no xadrez por assassinato.

Num sabe?!
Sabedoria é saber o que fazer com o que sabe fazer.

Burocracia
Quem planta reuniões, colhe atas.

Três dos últimos posts de César Miranda no Pró Tensão. Links com ele.

Para uma abordagem menos ortodoxa do samba e da bossa nova


Baden Powell, um violonista carioca com nome de cidade alemã compõe e toca o samba com limpidez e precisão germânicas. Um trio de violão ao estilo ECM ou o bundestropicalismo.
Sergio Mendes, pianista, músico incansável que reinventou dezenas de clássicos de ambos os hemisférios, uma espécie de Carmen Miranda pela forma como penetrou em grande no mercado norte-americano, o “rei da bossa de elevador” - como alguns depreciativamente lhe chamaram - que, antes de o ser, gravou um dos discos fundamentais na história da bossa nova. Pela influência que teve em inúmeros músicos que o ouviram, pelo lançamento das bases do samba-jazz, pelas referências em que se tornaram as versões de alguns standards que nele figuram, facto ao qual não serão estranhos os arranjos de Tom Jobim. Pela fluidez.Você ainda Não Ouviu Nada. Pois não, pois não
Site Meter